A dor de perder um filho de maneira brutal não freou os sonhos e a batalha diária de Paula Ioris, 59, por um mundo melhor pensando no todo. Pelo contrário, o luto se transformou em luta e deu forças para que a psicóloga organizacional largasse toda carreira para buscar Justiça para todos nós e, com garra, chegou ao posto de vice-prefeita de Caxias do Sul com uma vida pessoal e pública pautada pela responsabilidade.
O episódio de hoje da Série Intensas, que valoriza a dedicação e as conquistas das mulheres, em alusão ao Dia Internacional da Mulher, traz o perfil de Paula Ioris. Mas, primeiro, precisamos entender. Quem é Paula?
“A responsabilidade é meu nome e sobrenome. Desde criança, a filha mais velha, sempre muito cobrada por isso e sou assim até hoje. Sempre que escuto uma demanda, eu penso: como eu posso ajudar? Sempre estou puxando pra mim as coisas numa forma de querer ajudar e resolver. Até pelo momento que estamos vivendo, precisando de união e energia, focados, conscientização, e eu vejo isso sendo usado como política. Eu tenho sempre em mente que a gente está no mesmo barco. Paula Ioris é uma pessoa muito responsável, franca, transparente, humilde. Que pergunta muito e já viveu diversos ramos (indústria, saúde e política) sempre aprendendo”, diz.
Mulher de destaque na carreira profissional, com a carreira encaminhada, Paula sofreu a maior das dores em 24 de janeiro de 2012. Foi quando o empresário Gilson Fernandes, 44 anos, o filho dele Vinícius, 14, e o amigo da família, filho de Paula, Germano Ioris de Oliveira, 13, foram assassinados brutalmente em uma moradia em São Luiz da 6ª Légua. Os adolescentes foram mortos, por asfixia, por conhecerem os autores do crime que chocou Caxias do Sul.
A partir daí, a vida de Paula virou de cabeça para baixo. Mas, sua determinação e força, mostraram que, a saída para superar uma dor tão grande, era pode ajudar. Era lutar. Buscar Justiça. Não apenas neste caso, mas uma sociedade mais segura e mais justa. Essa foi a bandeira que motivou Paula Ioris a ingressar na vida pública. Vice-presidente de ONG, vereadora e, agora, vice-prefeita, ela lembra o ponto de partida para buscar no público uma cidade melhor para todos.
“Eu estava muito bem. Eu sou psicóloga organizacional e atuei no desenvolvimento humano das pessoas, nunca com consultório, aliada a gestão. Num momento de vida profissional muito bom, administrando hospital, feliz, e até mesmo financeiramente, salário melhor que o atual. Eu não tinha o porque sair. Eu nunca comparo as dores, perder um filho dói sempre, por doença, acidente, mas meu filho foi de uma forma muito violenta. Inacreditável. Nisso caiu a ONG Brasil Sem Grades na minha vida. Estava em casa quando soubemos o que aconteceu e o Francisco disso: Paula, não vamos deixar isso assim. Nós vamos trabalhar em cima disso. Trouxeram a ONG pra cá. Eu fui conhecendo, hoje sou vice-presidente da ONG. Lutamos por mudanças na legislação penal e muitas coisas. Eu nem lia página política no Jornal, como muitos brasileiros fazem, o que eu acho um erro, precisamos viver mais a política. Algumas pessoas dizem que eu uso a morte do meu filho para me eleger, eu não faço isso. A morte do meu filho me impulsionou. O que me fez enxergar e conhecer esse lado que eu não conhecia da vida. Influenciou a lutar por algo. Pelo que eu já passei, eu só tenho que enfrentar o que vem”, salienta.
Emocionada, Paula sabe que, lá de cima, o filho Germano tem orgulho da luta e da trajetória da mãe.
“Eu acredito que sim. Ele é um ser especial. Ele recém tinha feito 13 anos. Ele adorava idosos, animais. Quando ele via algo com animais, ele sofria. Com idosos, meu Deus do céu. Ele sempre foi um menino perceptivo. Eu ganhei de presente dos amigos dele da escola, na missa de 30 dias, final de 2011, despedida dos colegas e deixaram mensagens pra todos. As frases que ele escreveu pros amigos, não são comuns. Ele deixou um recadinho para cada um. Um dia ele me perguntou. Mãe, o que é o infinito (nós na beira da praia) – Tu enxerga o fim? O infinito é o que não tem fim. E ele disse: mãe, eu te amo mais que o infinito”.
A luta de Paula, vereadora, vice-prefeita, mulher, mãe, serve de exemplo para uma sociedade que clama por Justiça e união em momentos tão difíceis e delicados.
Fotos: Paula Brunetto/Grupo RSCOM