Mais qualidade de vida é o que espera o primeiro paciente a passar por uma cirurgia de Parkinson em Farroupilha, na manhã desta quinta-feira (01), no Hospital Beneficente São Carlos. O procedimento foi conduzido pelo neurocirurgião Dr. Paulo Roberto Franceschini, junto aos colegas Dr. Fernando Alencar e Dr. Marcelo Mattana. O paciente se recupera bem e poderá ter alta já nesta sexta-feira (02).
A operação é chamada de Estimulação Cerebral Profunda, ou DBS, da sigla em inglês para Deep Brain Stimulation. Considerada sofisticada, porém de baixo risco, consiste de duas pequenas aberturas no crânio para inserção de eletrodos em alvos profundos do cérebro relacionados ao controle dos movimentos. O tratamento cirúrgico dura de três a quatro horas e o paciente normalmente vai para casa no dia seguinte. Os implantes ficam por baixo da pele, conectados a um gerador que funciona como um marcapasso cardíaco, na região do tórax, proporcionando a terapia de estimulação elétrica do cérebro.
“O procedimento transcorreu muito bem, num paciente que tem em torno de 60 anos e que vinha tendo flutuações motoras incapacitantes, como tremor avançado e controle medicamentoso já no limite. Ele estava tomando remédio para controlar o Parkinson oito vezes ao dia. Com a cirurgia, esse volume de medicação pode ser reduzido em até 70%, dando mais qualidade de vida”, estima o Dr. Franceschini.
Quando fazer cirurgia
Apesar de não ter cura, o Parkinson possui um tratamento focado em medicação e terapias multidisciplinares, com fisioterapia, psiquiatria, nutrição, entre outros serviços. “A Doença de Parkinson é uma condição neurodegenerativa ainda sem cura, ocorrendo de forma esporádica na população. Ela diminui a dopamina, importante para o controle dos movimentos. Com essa falta, os pacientes apresentam sintomas motores, como tremor, travamentos (rigidez), e diminuição da velocidade do movimento. Outros sintomas não motores também podem aparecer, como alterações no sono, depressão, constipação e dores”, explica.
Conforme o Dr. Franceschini, a cirurgia é reservada para uma parcela menor dos pacientes: em torno de 15 a 20% dos acometidos pelo Parkinson. “Temos que entender as indicações, que são um diagnóstico estabelecido; acompanhamento de no mínimo quatro ou cinco anos e evidência de que o paciente não está tendo controle adequado com tratamento clínico”, conta.
Segundo o especialista, quando não há sucesso com terapia medicamentosa, o paciente passa a apresentar flutuações motoras. “A medicação funciona muito bem. No entanto, essa medicação também pode trazer efeitos colaterais a longo prazo, como movimentos involuntários. Ao longo do Parkinson, especialmente em pacientes mais jovens, o efeito dos remédios começa a encurtar, e o paciente detecta isso no dia a dia. Isso tira muito a qualidade de vida”, salienta o médico.
De acordo com Franceschini, a operação não é a cura, mas é uma forma muito efetiva de ajudar pacientes que têm efeitos colaterais, auxiliando o tratamento clínico. “A gente consegue restabelecer o controle dos sintomas motores, soltar o movimento, ganhar velocidade e qualidade de vida”, finaliza Franceschini.
Mais operações
O HBSC já possui certificação de alta complexidade para operações de coluna e de média complexidade para operações de crânio. “Estamos estruturando cada vez mais o serviço de neurocirurgia para, no futuro, termos alta complexidade em crânio. Equipamentos nós temos e condições também. A partir do momento em que realizamos o primeiro caso assim, é o que percebemos em outras localidades: o movimento é referenciado e as coisas acontecem cada vez mais”, estima o médico.