O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) reconheceu em audiência na Câmara dos Deputados, na quarta-feira, que não tem assegurados cerca de R$ 400 bilhões para o Plano Safra 2023/2024. Com isso, aumenta a preocupação das entidades representativas da agropecuária gaúcha e acende o alerta de que possam ser anunciados recursos que não venham a se confirmar, causando transtornos ao planejamento dos produtores. O valor previsto para custeio e investimento no próximo ciclo agrícola é alinhado às previsões da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e superaria em 17% o anunciado no plano 2022/2023, que se encerra em 30 de junho.
O economista-chefe da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Antônio da Luz, lembra que a entidade vem fazendo alerta há tempos para a falta de recursos e o desalinhamento entre o orçamento federal e o Plano Safra, que conta com 35% de recursos orçamentários controlados (35%) e de instituições bancárias (65%). Conforme Da Luz, em março deste ano o governo já tinha empenhado entre 93% e 98% dos valores orçamentários. “O recurso disponível não dará nem para encerrar o Plano Safra atual de maneira digna”, alerta. O economista ainda manifesta preocupação com “tentativas de baixar os juros a fórceps” e que se repita o ocorrido em 2015, quando o valor anunciado não tinha chance de ser executado, tumultuando o planejamento no campo. “Anúncios mirabolantes desconectados da realidade atrapalham o produtor”, disse.
O diretor-executivo da Federação das Cooperativas Agropecuárias do RS (Fecoagro), Sérgio Feltraco, acompanhou a audiência realizada em Brasília e ressaltou que a conta para o novo Plano Safra ainda não foi fechada. “Ficou claro que há muito diálogo entre os ministérios da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário com o Banco Central para realocação e suplementação de recursos que sejam necessários”, disse Feltraco.
Na agricultura familiar, a escassez de recursos também assombra. “Vemos isso com preocupação, pois nos últimos anos tem faltado dinheiro para o Pronaf e demais linhas de financiamento”, avaliou o vice-presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag-RS), Eugênio Zanetti. O dirigente lembra que a entidade apresentou sua pauta de reivindicações no começo do ano, em audiência com a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag). “O governo tem dito que quer combater a fome, mas não tem como haver isso sem garantia de recursos para a agricultura familiar”, destacou. Conforme a Contag, a agricultura familiar necessita de pelo menos R$ 75 bilhões em crédito para o ciclo 2023/2024, contra R$ 47 bilhões da safra anterior.
Fonte: Correio do Povo