Casa destruída após desastre natural, entulho e vegetação.
Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

Nos últimos tempos, parece que acordamos sempre com a mesma notícia: ventos fortes, chuva intensa, alertas climáticos.
Ontem mesmo, o Facebook me lembrou de algo que eu já tinha quase guardado numa gaveta da memória: há dois anos, em 18 de novembro, eu estava presa na Serra do Rio das Antas com um grupo de participantes, cercada por deslizamentos de terra. Um momento crítico, caótico — e que, na época, parecia o limite do que poderíamos viver em termos de desastres climáticos.

Mas então veio maio de 2024.
E depois cada chuva seguinte.

E eu sei que posso parecer repetitiva — já falei disso várias vezes — mas é impossível ignorar. Sempre aparece alguém dizendo:
“Ah, mas enchente sempre teve.”
“Ah, mas já aconteceu em 1941.”

Sim. Já teve.
Mas o que precisamos olhar é o intervalo entre uma tragédia e outra.
Em 2023 tivemos dois grandes eventos.
Em 2024, outro.
E agora, a cada chuva, a população inteira aprendeu a monitorar milímetros como quem monitora batimentos cardíacos. Isso revela preocupação — mas revela também trauma.

E quando falamos de reconstrução, falamos muito de infraestrutura, e isso é essencial.
Mas pouco se fala da saúde mental das pessoas, das crianças, das famílias que ainda acordam com o barulho da chuva como se fosse sirene.

Esse tal “novo normal climático” é muitas vezes tratado como um fenômeno inevitável, quase natural.
Mas eu prefiro lembrar que ele é resultado de velhas escolhas — escolhas que fizemos ontem, que fazemos hoje e que, se não mudarmos, faremos amanhã.

Não adianta colocar toda a responsabilidade apenas nos governantes ou nas organizações — ainda que elas tenham, sim, um papel gigantesco.
Eu sempre volto à pergunta:
qual é a minha parcela de responsabilidade?

A COP 30 terminou, o mundo discutiu soluções, e nós aqui seguimos vivendo o “nosso normal”. Mas… o que isso significa para mim, no meu dia a dia? O que significa para você?

O que podemos fazer?

Muita gente me pergunta:
“Tá, mas o que eu posso fazer? Eu sou só um indivíduo.”

E aí eu devolvo com sinceridade:
Você separa o resíduo quando tem coleta seletiva?
Ou, na correria, mistura tudo porque é mais rápido?
Você economiza água?
Ou lava a louça com a torneira aberta porque está com pressa?
Você compra de empresas que já apareceram em escândalos de trabalho escravo ou desmatamento?
Isso também é responsabilidade social.

Se cada um fizer a sua parte — não a parte perfeita, mas a parte possível — nós criamos algo maior. Transformação não começa no macro. Começa no micro.

E não quero entrar em polêmicas, mas ouvi recentemente que “a Amazônia representa só 1% da superfície global” como se isso diminuísse sua importância. Da mesma forma que eu, individualmente, represento uma fração mínima da população mundial.
Mas num sistema vivo — e o planeta é um sistema vivo — tudo está interconectado.
Machuca o dedinho do pé e você descobre como ele era importante.
Com o planeta é igual.

O que fazemos aqui impacta lá.
O que acontece lá retorna pra cá.
Não existe “não é comigo”.
Existe consequência — às vezes imediata, às vezes silenciosa.

E é por isso que eu insisto: o futuro não está escrito.
Ele está sendo escrito — por mim, por você, por escolhas pequenas que repetimos todos os dias.

O Futuro está sendo escrito

Não é sobre ter medo.
É sobre lucidez.

Eu não escrevo sobre clima para causar pânico.
Eu escrevo para lembrar que fazemos parte do problema — mas também fazemos parte da solução.

E a solução começa na rua onde moramos, nas conversas que temos, nos votos que escolhemos, nos hábitos que repetimos, no consumo que fazemos sem pensar.

A adaptação é o verbo do nosso tempo.
Ou aprendemos pela consciência,
ou vamos continuar aprendendo pela consequência — e esse é sempre o caminho mais caro.