Política

Conselheiros tutelares denunciam abordagem violenta da BM contra crianças em Porto Alegre

(Foto: ALRS/Divulgação)
(Foto: ALRS/Divulgação)
A Comissão de Cidadania e Direitos Humanos recebeu na reunião híbrida desta quarta-feira (10) denúncia de conselheiros tutelares de Porto Alegre a respeito de ação violenta da Brigada Militar na semana passada, na Vila Pinto, no bairro Bom Jesus, contra três crianças e um adolescente que brincavam na rua.
O presidente da CCDH, deputado Airton Lima (PL), acolheu o pedido da deputada Sofia Cavedon (PT) para a exposição do fato ocorrido na Vila Pinto na última quinta-feira (4), quando quatro brigadianos teriam promovido abordagem policial “inadequada, desproporcional e violenta”, conforme descreveu a Conselheira Tutelar Cris Medeiros, contra crianças e adolescentes. Os jovens estouravam bombinhas na rua, artefatos vendidos no comércio, quando a viatura passou e dois dos quatro policiais desceram, momento em que o grupo se afastou correndo e dois brigadianos a pé seguiram correndo atrás deles, enquanto a viatura fazia a volta no quarteirão, para cercar as crianças.
“O relato da comunidade é que houve disparo de dois projéteis”, revelou Medeiros, provas que foram entregues ao DECA, onde foi registrado o Boletim de Ocorrência. Algumas mães fizeram a denúncia, outras desistiram por medo, enquanto que o Conselho Tutelar oficiou o fato ao Ministério Público e à Corregedoria da BM. A conselheira explicou que essa abordagem violenta, sem o registro de diligência policial no local, contradiz a função de proteção do agente de segurança, razão pela qual reivindica o direito de as crianças e adolescentes da comunidade usufruírem do espaço público para brincadeiras.
O Conselheiro Tutelar André Duarte disse que não é possível “compactuar com esse tipo de atitude e deixar passar despercebido esse fato na periferia”. Mesmo que do episódio não tenham resultado feridos ou mortos, ele referiu o impacto da perseguição dos policiais com armas apontadas para as crianças pelas ruas da vila, situação que revoltou as mães, pais e toda a comunidade.
Lá vivem 40 mil pessoas, observou, “que passam por estes desmandos de agentes despreparados”, observando que se trata “da ponta do iceberg de muitos desmandos que acontecem por lá”. Disse que as crianças foram vítimas de uma conduta truculenta dos agentes, que deve ser reavaliada de maneira enérgica “para que não se repita”. Informou que no BO constam estojos deflagrados de munição 9 milímetros.
Airton Lima antecipou que o assunto será tratado com as autoridades da segurança pública e Sofia Cavedon sugeriu que a comissão busque os protocolos utilizados para abordagens de crianças e adolescentes em comunidades em situação de conflito.

Defensoria Pública
Também em Assuntos Gerais, o defensor público-geral do Estado, Antônio Flávio de Oliveira, explicou a construção do PLC 101/2019, que acrescenta o inciso XXIII ao art. 4 da Lei Complementar Estadual nº 14.130, de 19 de novembro de 2012, e dá outras providências. A matéria, em síntese, diz que a Defensoria poderá exercer a defesa dos servidores estaduais da Brigada Militar, do Corpo de Bombeiro Militar, da Polícia Civil, da Superintendência dos Serviços Penitenciários, do Instituto-Geral de Perícias e da Defesa Civil que, em decorrência do exercício de suas funções ou em razão delas, ainda que em folga, férias ou licenças, venham a responder a inquérito policial ou a processo judicial.

O corregedor da DP, Cristiano Vieira Heerdt, disse que esse grupo de servidores pertence ao conceito de assistência integral da Defensoria, conforme determina a Constituição Federal e também na Lei Orgânica Nacional, justificando que o PLC 101/2019 busca “desmistificar a atuação da DP, que não só atua em determinado projeto, mas que atende todos os servidores”.

Inclusive a Defensoria atua junto à Justiça Militar, com dois defensores públicos, e também no Tribunal da Justiça Militar e nas duas Auditorias Militares do RS, com alcance em todo o estado. “De certa forma já prestamos essa assistência e entendemos por bem enviar o projeto para reforçar a atuação da DP em prol dos servidores da segurança do RS”, explicou, reiterando que não se trata de privilégio.

O assunto foi construído pela Defensoria com o deputado Tenente-coronel Zucco (PSL), que deu início ao encaminhamento da matéria na Assembleia. O PLC já foi aprovado nas comissões de Segurança e Serviço Público e Constituição e Justiça.

Jeferson Fernandes (PT) comentou que o projeto poderia incluir também outras categorias de servidores, como os membros do magistério que se enquadrem nos critérios de atendimento definidos pela Defensoria, além de outras categorias de servidores do Quadro Geral do Estado, como a área da saúde. A deputada Sofia Cavedon (PT) apoiou a iniciativa e também o deputado Faisal Karam (PSDB), destacando “a importância de a Defensoria trabalhar e dar assistência a todos os envolvidos . Lima antecipou o apoio do colegiado ao projeto, que ainda não votou a matéria.

Medo na comunidade escolar com o retorno presencial na rede pública
Também por solicitação da deputada Sofia Cavedon, as mães Isadora Trajano e Aline Kerber, da Associação das Mães e Pais pela Democracia, fizeram apelo para que a CCDH interceda junto à Secretaria da Educação e ao governador Eduardo Leite no sentido de aceitação de protocolo que desautoriza a obrigatoriedade da presença de crianças na rede pública estadual que coabitam com familiares portadores de comorbidades.

O assunto estará em mediação judicial na próxima sexta-feira (12), diante de ação civil pública impetrada pela Associação questionando o Decreto nº 56.171, de 29 de outubro de 2021, que estabelece as normas aplicáveis às instituições e aos estabelecimentos de ensino do RS, conforme as medidas de prevenção e de enfrentamento à epidemia causada pelo novo Coronavírus (COVID-19) de que trata o Decreto nº 55.882, de 15 de maio de 2021, que institui o Sistema de Avisos, Alertas e Ações. Em fevereiro, por ação judicial da entidade, as aulas não foram reiniciadas presencialmente, conforme pretendia a SEDUC.

Aline explicou que em diálogo na semana passada com a Procuradoria Geral do Estado foi dada a garantia de que os estudantes que coabitam com pessoas com comorbidades poderiam não ter o retorno presencial obrigatório, mas não foi esse o entendimento do decreto de retorno às aulas. A intenção é que as crianças com 11 anos ou menos que não foram vacinadas não tenham a obrigatoriedade decretada e, também, aquelas que moram distante das escolas em que foram matriculadas.

Apontou dificuldades para a transição do modo remoto de educação dos dois últimos anos para o presencial, assim como as dificuldades sanitárias e financeiras das famílias, muitas delas em vulnerabilidade social pela crise econômica e o desemprego. Estas considerações estão na Resolução Nº 2 do Conselho Nacional de Educação, de 2021. Também referiu o fato de que os estudantes estão a 20 dias do término do calendário escolar.

Isadora Trajano destacou que nas redes sociais mais de 30 mil mães estão manifestando preocupação com o decreto que tornou obrigatório o retorno às aulas, reclamam da falta de planejamento e contrariedades com orientações do Conselho Nacional de Educação, como a exclusão das famílias que coabitam com pessoas com comorbidades e sequelas da Covid. Mesmo com decisão judicial obtida pela Associação e nota técnica da Secretaria Estadual da Saúde sobre esta situação, as escolas não estão aceitando a normativa, apenas o que determina o decreto estadual.

Mães revelam que em três dias de ausência a escola faz contato com a família e aciona o Conselho Tutelar. Também enfrentam problemas as famílias que se mudaram na pandemia e não conseguem levar os filhos à escola antiga. Ela invocou o direito constitucional das crianças de até 11 anos, e o direito das famílias de proteção integral, conforme o ECA.

Cavedon solicitou a intermediação da CCDH na mediação judicial de sexta-feira, ação que o presidente, Airton Lima estendeu para solicitar manifestação à SEDUC e o governador Eduardo Leite, para que acolham as demandas das famílias.

Ordem do Dia
No período da Ordem do Dia, foram aprovadas as duas matérias em pauta, o parecer favorável da relatora, deputada Kelly Moraes (PTB), ao PL 146/2019, do deputado Airton Lima (PL), que dispõe sobre a garantia do direito de preferência das mulheres vítimas de violência doméstica à matrícula e à transferência dos filhos, ou de crianças e adolescentes sob sua guarda, nas escolas da rede pública estadual. E a audiência pública solicitada pelo deputado Faisal Karam (PSDB), para tratar das demandas na área da saúde sobre tratamento oncológico com suas diversas especialidades, consultas e procedimentos cirúrgicos na área de oftalmologistas e suas referências no sistema de saúde.

Audiências em novembro
A comissão realizará duas audiências públicas no interior do estado durante o mês de novembro, em Cachoeira do Sul, dia 24, e em Caxias do Sul, dia 26, ambas solicitadas pelo deputado Airton Lima (PL), para debater feminicídio e violência doméstica.

A comissão recebeu ofício do Comitê Estadual Intersetorial – Primeira Infância, encaminhado pela Mesa Diretora, solicitando a indicação de representantes para compor o Comitê Estadual Intersetorial pela Primeira Infância, instituído pelo Decreto Estadual nº. 56.087, de 13 de setembro de 2021.

Presenças
Registraram presença os deputados Airton Lima (PL), presidente, e Sofia Cavedon (PT), vice-presidente, e as deputadas Luciana Genro (PSOL), Kelly Moraes (PTB), Any Ortiz (Cidadania), e os deputados Sergio Peres (Republicanos), Gaúcho da Geral (PSD), Clair Kuhn (MDB), Rodrigo Maroni (PV), Jeferson Fernandes (PT), e Issur Koch (PP).