Bento Gonçalves

Com dificuldades no presente e necessidade de atualização do longo prazo, mobilidade urbana em Bento Gonçalves é tema delicado

Ranking Empresas Bento Gonçalves - Osvaldo Aranha - mobilidade urbana
Imagem: Arquivo Leouve

A mobilidade urbana é um tema bastante delicado e complexo em Bento Gonçalves. A cidade, que ao longo das últimas décadas cresceu em população e, consequentemente, número de veículos, está regularmente trabalhando em atualizações e mudanças em seu sistema viário. Nesse sentido, o trecho urbano da Capital da Uva e do Vinho já teve alterações nos sentidos das vias, estacionamentos, implementação de rotatórias e sinaleiras,. porém, ainda sim, cria questionamentos pela população.

Atualmente Bento Gonçalves tem uma população estimada de 121 mil pessoas e, conforme números da secretaria de Gestão Integrada e Mobilidade Urbana (Segimu), a cidade tem uma estimativa de 87.435 veículos. Este valor, corresponde a um dos mais altos índices per capita do Rio Grande do Sul. Desta forma, as antigas ruas e estreitas vias do município tem dificuldades em absorver o fluxo de automóveis.

Ao longo dos últimos anos, algumas mudanças foram feitas nas vias da cidade, principalmente naquelas que ligam os bairros ao centro de Bento Gonçalves. Uma das alterações mais recentes, e com maior impacto no fluxo, foi na troca de sentido das ruas Dr. Antunes e Dr Montauri. Enquanto a primeira leva o condutor da Barão do Rio Branco até a Marechal Deodoro, a segunda faz o movimento inverso.

Existem ainda outras medidas sendo estudadas pelas equipes responsáveis da mobilidade urbana na cidade. Uma é a adoção de mão inglesa na rua Cândido Costa, porém, esta mudança segue apenas no campo de estudos.

Para falar sobre a situação da mobilidade urbana em Bento Gonçalves no presente e para o futuro, a equipe de reportagem procurou Henrique Núncio, titular da pasta. Ele destacou que o município segue hoje um planejamento proveniente de um estudo de 2015, que traçou planos para as vias da cidade.

Bento Gonçalves é uma cidade que vem se desenvolvendo rapidamente, com um crescimento populacional, com a migração de diversas famílias ao ano e é uma cidade já consolidada, com suas vias principais, principalmente as centrais com empreendimentos construídos, o que dificulta o alargamento de pistas, alguns métodos de mobilidade urbana, fazendo com que pensemos em alternativas como retirada de estacionamento, exclusividade de mão única em algumas vias… Criando um fluxo que dê sentido para a mobilidade urbana, favorecendo sempre o transporte público coletivo. Então, são alternativas pontuais que a gente vai realizando e avançando gradativamente” ressaltou.

Mobilidade urbana de Bento Gonçalves no curto prazo

Marechal Deodoro com quatro pistas

Após a mudança nos sentidos das ruas Dr. Antunes e Dr. Montauri, uma nova situação surgiu no centro de Bento Gonçalves. Uma pista de rodagem foi criada na Marechal Deodoro, a partir do ponto que a via encontra-se com a Júlio de Castilhos. Desta forma, são quatro faixas que possibilitam o tráfego pela rua. Sendo duas à direita de um canteiro central, pensadas para quem acessa pela Júlio de Castilhos, e as outras, à esquerda, para quem segue pela Via del Vino.

Acontece que diariamente situações de risco acontecem neste encontro das ruas. Motoristas provenientes da Júlio de Castilhos e desejam acessar a Barão do Rio Branco ou ir à Avenida Osvaldo Aranha, comumente entram nas pistas da esquerda da Marechal Deodoro e, desta forma, o condutor que seguia pela Via del Vino é obrigado a parar e evitar um acidente. O trajeto correto para este carro seria seguir e aguardar na sinaleira logo em frente da Igreja Santo Antônio, onde poderá fazer a troca de pista.

A manobra inversa, com os condutores vindos da Via Del Vino (Rua Marechal Deodoro), buscando acessar as pistas do lado direito, também ocorre e geram o mesmo problema.

Questionado sobre a possibilidade de implementar barreiras ou tachões para separar as pistas, o secretário afirma que há um estudo para manter os veículos nas pistas da direita e da esquerda conforme a rua de onde saíram, porém, entende-se que os condutores compreendem a lógica da via. Em horários de pico, entretanto, situações como a citada acontecem.

há um estudo que a gente pretende colocar, pelo menos em fase de testes, aonde que os veículos vindos da Júlio de Castilhos permaneçam nas pistas da direita, fazendo com que as duas pistas da esquerda sejam abastecidas pela Dr. Antunes e pela Via del Vino também. (…) Claro que em horários de pico existe uma densidade muito maior de veículos na região central da cidade.” Frisou

Sincronias das sinaleiras

Um dos pontos mais relatados por moradores de Bento Gonçalves é em relação as sinaleiras da cidade e o tempo que permanecem com sinal verde e vermelho. Diariamente, em vias de alto movimento que conectam o centro aos bairros, os horários de pico registram filas e engarrafamentos.

Um exemplo é a rua Ramiro Barcelos que conecta o centro e o bairro São Francisco, através da rua Júlio de Castilhos, ao bairro Humaitá. Além desta conexão, ao longo da via existe uma escola e, logo abaixo, três sinaleiras. A lentidão ocorre diariamente nos horários de saída de alunos e trabalhadores.

A gente não consegue fazer a sincronização dos semáforos. Então, nós temos sempre que fazer o cálculo de quais as vias que são de maior abastecimento de veículos. (…). Então, a gente faz o jogo com o tempo de abertura de sinaleiras. A gente vem trabalhando para isso, para que façamos essa dilatação do tempo em determinados horários e estamos ainda analisando, fazendo uma fase de testes com as sinaleiras inteligentes que estarão no bairro Borgo para a gente conseguir replicar essa mesma ideia na região central do município.”

Sinaleira inteligente no bairro Borgo

No último ano, uma sinaleira inteligente foi implementada na Rua São Paulo, esquina com a Rua Fiorelo Bertuol e Amadéo Zambon. Este ponto também tem alto volume de veículos por conta do distrito industrial, da escola Alfredo Aveline e de residentes da região.

Ele [semáforo] vem atendendo em grande parte do dia de forma satisfatória. Mas, ainda existe os horários de pico em que há esse conflito de veículos, porque também são muitas vias que abastecem aquela sinaleira vindo do Distrito Industrial, saída da Escola Alfredo Aveline e uma das principais vias de ligação que é a São Paulo. Então, no contexto geral, ela agrada e a gente está ainda tentando replicar ela também, colocando o sistema em um semáforo no bairro Botafogo.”

Avenida Osvaldo Aranha e o alto volume de veículos

Um das vias mais importantes do perímetro urbano de Bento Gonçalves, a Avenida Osvaldo Aranha liga a zona sul da cidade à zona norte. Por ela, diariamente, passam milhares de veículos e, nos horários de grande movimento os engarrafamentos são praticamente inevitáveis. A necessidade de fluidez da pista é fundamental para permitir o deslocamento ágil dos bombeiros cuja sede é justamente na Osvaldo Aranha.

Diante da crescente populacional e elevação da frota veicular, a avenida apresenta grandes dificuldades em absorver o fluxo. Trajetos que levariam cerca de cinco minutos, podem ter uma demora multiplicada em alguns momentos do dia. Desta forma, a via precisa de mudanças e este é um pedido recorrente da população de Bento Gonçalves.

“De imediato a gente está ainda em fase de estudos tentando identificar quais são os piores quarteirões da Osvaldo Aranha, em que a gente tem esse conflito de interesses que é da via expressa, com também o estacionamento público. Porém, ainda a gente precisa de maiores informações, principalmente saber, a partir do transporte público também, quais são as principais rotas e horários que vão passar por lá, até para se pensar em horários exclusivos de transporte público em determinados horários. Mas isso ainda faz parte de um estudo que o município está aprofundando e queremos fazer pequenas intervenções para melhorar aos poucos. Para que essa essa ruptura cultural também em Bento Gonçalves, da retirada de estacionamentos numa das principais vias do município.” 

Estacionamentos nas vias públicas

Os estacionamentos também não fogem das discussões referentes a mobilidade urbana de Bento Gonçalves. A manutenção das vagas em espaços públicos e seu formato (paralelo ou oblíquo) gera discussões e divide opiniões.

Um dos argumentos mais utilizados pela população é de que a remoção destes espaços acarretaria em uma ampliação da pista de rolagem e, por consequência, melhoraria a trafegabilidade nas vias. Porém, a redução dos vagas gratuitas para estacionar também desagradaria boa parcela dos motoristas.

O titular da pasta afirma que a remoção de vagas de estacionamento em algumas vias é estudada. Porém, esta situação e a forma como os espaços de estacionamentos são escolhidos surgem através de demandas da própria população.

É tudo por demanda. A gente tem que primeiramente saber a densidade de veículo de cada pista, a necessidade de estacionamento por residências, comércio e o ganho que se tem quando se faz a troca do paralelo para o oblíquo. Então cada caso é estudado individualmente e para saber o ganho que se tem na alteração do modal no estacionamento, para saber se vai realmente resolver, ter uma solução imediata ou não.” Respondeu.

Mobilidade urbana de Bento Gonçalves no longo prazo

Encontrar uma solução para os problemas pontuais da mobilidade urbana bento-gonçalvense passa também por planejamentos de longo prazo. A gestão municipal foi questionada sobre um plano global, que vise comportar a crescente frota de veículos nos anos vindouros. Nuncio respondeu que é “a identificação, principalmente hoje, de alguns bairros, que a gente consegue abastecer tanto a região central quanto o Distrito Industrial, que nós criamos algumas rotas de ligação expressa. Hoje nós temos, principalmente como nós falamos, a Osvaldo Aranha, Avenida São Roque, 10 de Novembro e Fortaleza, Nelso Carraro, que é uma importantíssima via e que praticamente é paralela à BR 470, que ela faz ligação justamente da região Sul à região Norte.”

Atualmente, o município segue trabalhando com um estudo feito em 2015, quase uma década atrás. O próprio secretário Nuncio admite que as equipes precisam debruçar-se sobre os projetos e atualiza-los, além de fazer um novo planejamento de longo prazo para adaptar a mobilidade urbana ao crescimento populacional dos bairros.

Vamos ter que colocar num contexto geral também e fazer um planejamento a longo prazo de mobilidade urbana do município, de vias expressas e que faça essa interligações regionais. Agora, com o avançar também dos bairros, o território A gente conseguiu ver quem se alastra a parte urbana do município e nós temos que criar alternativas pra que a população consiga se locomover, se locomover de forma rápida e de fácil acesso também a todos os bairros.”

Com a necessidade de atualizar os estudos feitos há quase dez anos e situações a serem resolvidas, as discussões sobre o tema da mobilidade urbana seguirão sendo pauta entre os munícipes.

Confira abaixo a entrevista completa com o secretário Henrique Nuncio.