Chocha, capenga, manca e anêmica.
Os ricos adjetivos usados pelo advogado Antônio Cláudio Mariz de Oliveira pra tentar desqualificar a denúncia do procurador-geral Rodrigo Janot contra o temerário presidente Michel Temer mostram mais o desespero da tentativa de desacreditar a acusação do que efetivamente argumentos jurídicos que possam contradizer as provas apresentadas e comprovar a inocência do denunciado.
A verdade é que a defesa apresentada ontem pelo advogado do excelentíssimo senhor primeiro presidente denunciado da história desta república de bananas é mais do mesmo: tenta desacreditar as provas, dizendo que a gravação da conversa com o Joesley safadão sofreu manipulação mesmo depois que a perícia da Polícia Federal comprovou que não, e que o encontro noturno entre o presidente conivente e o bandido confesso foi corriqueiro, normal e insignificante, busca macular os acusadores, afirmando que o procurador Janot denunciou com base em hipóteses e deduções, e procura fazer o mais incauto dos botocudos acreditar que não existem crimes e que o temerário é inocente, probo e dono de uma reputação sem máculas.
Um esforço louvável do veterano e competente do senhor advogado, não fosse por um detalhe nada insignificante: ele não respondeu diretamente a nenhum dos fatos indicados na denúncia, não rebateu ou explicou nenhuma das afirmações do temerário ao safadão, não chegou nem perto de explicar o que o confiável larápio da Rocha Loures fazia com a mala cheia de grana.
Ao contrário. Disse que só se Temer tivesse poderes divinatórios pra imaginar que o safadão fosse um criminoso de colarinho engomado quando até a cancela aberta do Jaburu sabia que ele era investigado em vários processos, escreveu que o presidente estava apenas ouvindo o falatório cansativo do safadão sem interferir na sua narrativa, mesmo que tenha dito ótimo ótimo pros juízes debaixo do braço e recomendado que tem que manter isso de ficar de bem com o presidiário Cunha, e acusou a procuradoria de não demonstrar quem entregou a mala de dinheiro para quem, onde ocorreu o encontro para a entrega, qual o dia e a hora desse encontro e essas coisas tão mais importantes do que o filme que mostra a corridinha e o chip na mala devolvida pelo larápio.
Dá pra acreditar? Cá pra nós, eu acho que chocha, capenga, manca e anêmica é mesmo essa defesa.
Mas a gente não pode esquecer que temer só será processado se a câmara deixar. E, pra isso, a coisa toda vai ter como relator um cara do mesmo partido do presidente e por uma câmara onde um em cada três deputados que já declararam abertamente o voto favorável a temer responde a acusações criminais no próprio STF.
Quer mais? Tem.
O julgamento em plenário da denúncia contra Temer será feito pelos 500 e tantos deputados federais, 312 deles que respondem a pelo menos um inquérito ou ação na justiça comum, eleitoral ou tribunal de contas, e vai ser presidido por Rodrigo Botafogo Maia, genro do todo poderoso e com foro privilegiado angorá Moreira Franco.
Por isso, tudo leva a crer que o temerário será protegido. Afinal de contas, ele ganhou a presidência com a promessa de realizar um dos maiores processos de destruição de direitos experimentados pelo país, porque o pequeno avanço em igualdade dos últimos anos foi demais para a classe dominante brasileira.
E é isso que está em jogo. E exatamente por isso, Temer também pode ser rifado, porque o importante é aprovar esse programa de governo que não foi respaldado pelas urnas, mas decidido por uma pequena mas poderosa parcela da população. E, convenhamos, isso pode ser feito por qualquer um.