Os dados da violência contra a mulher seguem apresentando crescimento no Rio Grande do Sul. Em 2022, 106 feminícidios foram registrados no Estado. De acordo com Polícia Civil (PC), uma mulher foi morta a cada 3,4 dias. Números alarmantes e que acendem o sinal de alerta. Destes crimes, 11 foram registrados em cidades da Serra Gaúcha, sendo sete em Caxias do Sul, o maior município da região.
O crescimento dos casos de feminicídio no RS foram de 10,4% em comparação com 2021, quando 96 mulheres foram mortas. Em 92,4% dos casos o autor era companheiro ou ex-companheiro, e em 72,6% ocorreram na casa das vítimas.
“O feminicídio se caracteriza pela relação direta entre a vítima e seu companheiro, o seu filho, neto. Então, há uma relação familiar envolvida, pode se dizer que é um crime passional”, destaca o delegado interino regional da Serra Gaúcha, Rodrigo Duarte.
Ainda assim, algo destacado pelos órgãos de segurança pública de todo o país é que os casos de feminicídio não iniciam no crime fatal, mas sim em palavras, xingamentos, pressões psicológicas e outras ações que os agressores utilizam.“A assistência para as vítimas de violência doméstica, para que elas venham aos órgãos policiais e também assistenciais solicitar um apoio para sair dessas relações de um modo seguro”, comenta o delegado.
Das 106 mulheres mortas (em crimes caracterizados como feminicídio) em 2022, 80,2% não possuíam medidas protetivas na data da fatalidade, e 50% não haviam registrado ocorrência policial. Ainda assim, 37,7% dos crimes foram cometidos com armas brancas (facas, tesouras e afins) e outros 35,8% com arma de fogo. Cerca de 84% dos autores já possuíam antecedentes policiais, e 20,8% cometeram suicídio após o crime.
Feminicídios na Serra Gaúcha
Com mais de 500 mil habitantes de acordo com a prévia do último Censo Demográfico, a maior cidade da Serra Gaúcha e segunda maior do Estado perdeu apenas para Porto Alegre no triste número de feminicídios no Rio Grande do Sul em 2022. Enquanto a capital registrou 10 casos em 2022, Caxias teve sete.
O último do ano passado vitimou Angélica Schena, de 28 anos. Ela foi arrastada por mais de um quilômetro pelas ruas da cidade. Ainda assim, na Serra, Antônio Prado, São Francisco de Paula, Serafina Corrêa e Veranópolis também registraram feminicídios no último ano.
Rede de apoio em Caxias do Sul
Na cidade, desde dezembro de 2020 o grupo Mulheres do Brasil núcleo Caxias do Sul, busca auxiliar vítimas de violência doméstica. “Isso [altos números de feminicídios] é decorrência de um problema social que a gente tem e que enxerga a mulher como um bem, um objeto que pode se desfazer quando não gosta mais ou tem algum problema”, destaca a líder do grupo, Céliz Frizzo. Por meio dos mais diversos canais de comunicação e pela caminhada pelo fim da violência, cerca de 60 voluntárias buscam o diálogo contínuo com a comunidade sobre o tema.
O grupo também tem ligação com outros órgãos e entidades do município, como a Casa Viva Raquel que acolhe mulheres vítimas de violência, a coordenadoria da mulher da prefeitura, além de conversas diretas com a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM). “Um desafio muito grande que a gente tem é trazer os homens para essa conversa, porque a violência é predominantemente praticada pelo companheiro (…)”, afirma.
Mesmo assim, o tema violência contra a mulher deve ser debatido desde cedo, em sala de aula e, “(…) principalmente em casa, aquilo que a gente sempre fala: ‘um homem nasceu de uma mulher, foi amamentado por uma mulher, ele nasceu com o intuito de matar uma mulher, ele aprendeu, ele se tornou violento contra uma mulher'”, defende a líder do Grupo Mulher do Brasil Núcleo Caxias do Sul.
Em tempo, a principal ação a ser feita é a denúncia, mesmo que anônima, pelo 180. Amigos, parentes e vizinhos, uma atuação de toda a sociedade para conscientizar a auxiliar a reduzir os números.
2023 violento
Em 2023, nas primeiras horas do dia, um crime impactou. A jovem Naiara Ketlin Pereira Maricá, de 18 anos, foi estuprada e posteriormente morta a golpes de faca na madrugada de 1º de janeiro no bairro Esplanada em Caxias do Sul. Já no dia 6, Juliana Denise Ferreira, de 39 anos, foi morta a golpes de machado pelo companheiro.
As cidades de Passa Sete, no Vale do Rio Pardo, e Santo Antônio da Patrulha também registraram feminicídios neste ano.