Acostumado em conviver com crises desde seu nascimento, em parte pelo enfrentamento diante de situações que mereciam intervenção, em outra decorrentes de uma certa inafeição pelo diálogo, o governo de Daniel Guerra acaba de se ver atolado novamente em uma crise que coloca diretamente o prefeito e o irmão vereador no centro de um episódio que envolve pressão política, traições e ameaças.
O caso começa a ganhar repercussão depois que o vereador Rafael Bueno (PDT) mostrou em plenário um áudio atribuído ao vereador Chico Guerra (PRB), no qual o líder do governo na Câmara fala que era preciso aplicar um “corretivo” no líder comunitário Marciano Côrrea da Silva, presidente da Associação de Moradores do bairro Canyon, para evitar que ele continuasse a criticar o governo.
Para o vereador, o líder comunitário precisava sentir na pele as consequências de ficar contra o governo, e que a comunidade do bairro precisava saber que estava desassistida por causa das posturas do presidente da associação de moradores.
As conversas, gravadas em um aplicativo de troca de mensagens, teriam ocorrido em dezembro de 2017, entre o vereador e Rafael Bado, que atuou como coordenador de Relações Comunitárias na prefeitura até janeiro deste ano, e vazaram depois da exoneração do servidor, mas só ganharam repercussão agora. Em outra conversa, o irmão-vereador diz com todas as letras que o prefeito afirmou que não podia dar espaço ao líder comunitário e que era preciso botar ele pra correr.
Acuado, o vereador acusou o golpe, confirmou a veracidade das gravações e deu suas primeiras desculpas esfarrapadas e blablablá. O prefeito ainda não se pronunciou, mas terá de fazê-lo. Certamente, o caldo ainda vai entornar, porque se reveste de enorme gravidade e precisa ser analisado sob o ponto de vista político, além de outras consequências legais.
O certo é que, quando o governo de Guerra parecia inaugurar um tempo de turbulência menor, a paz novamente tem seus dias contados.
Há alguns dias, o vazamento de um áudio de um vereador de Bento escancarou a denúncia de um esquema de propina para comprar emendas ao Plano Diretor da cidade. O caso está sendo investigado pelo Ministério Público e já rendeu a abertura de uma CPI pra investigar os fatos. O caso caxiense pode seguir o mesmo caminho.
O fato é que, pro bem ou pro mal, não existem mais segredos na era da tecnologia. Nas redes sociais, então, ele nunca existiu. Os Guerra deviam saber, com tanto exemplo por aí, que, por mais que se use os controles de privacidade, por mais que aplicativos garantam o anonimato, uma vez na rede, não tem volta: tudo corre o risco de vazar.
Mas, antes de culpar o vazamento pela crise, é preciso entender que não se governa na base da ameaça, da retaliação e da chantagem, usando o poder como instrumento de pressão. Pelo menos, não numa democracia. Alguém vai ter que responder por isso.