Lembro-me quando era criança e a febre instaurava-se em meu corpo, minha mãe caminhava para o seu quarto, abria calmamente a terceira porta de seu guarda-roupa. Entre as coisas bagunçadas procura o remédio. Quando voltava ao meu quarto, firme segurava em uma das mãos uma colher de chá e noutra um frasco, era novalgina.
Minhas palavras “novalgina não” eram sempre seguidas do retruque “tem que tomar para ficar melhor”. A negativa acontecia pelo sabor do medicamento. Quando tocava a língua a laringe retraía-se, em um movimento involuntário, pura repulsa. A força para engolir exauria-se. Os olhos fechados. A vontade de expelir o líquido eram interrompidos por um comando estridente: “toma logo!”.
Amargor igual é possível saborear quando abrimo-nos à realidade atual. O ano de 2021 parece a extensão de 2020. As crises aprofundadas tolhem através de seus agentes criadores todo e qualquer resquício daquilo que uma vez chamamos de democracia. Inspirados nos maiores revolucionários do século XX, uma revolução teve início diante de nossos olhos. Um marco inicial de uma nova era
A era que adentramos terá a mentira como seu principal cânone. Todo pensamento de relacionar o que é captado pelos sentidos de maneira coerente com os fatos será censurado. Nada fora do discurso da elite de iluminados será aceito. Os adjetivos são o começo. Extremista, conspiracionista, negacionista. Na realidade, estes são selos colados naqueles que enxergam além da redoma. O objetivo é dividir, segregar, criminalizar.
Engana-se quem pensa que parará por aí. Antes eliminam o discurso divergente. Mas no final, o desejo verdadeiro vem à tona. A pessoa é eliminada. Vimos isso acontecer no século passado. Ato então condenado. Entretanto, espalhados os erros da Rússia pelo mundo, será norma. Todo aquele que ousar sentir, ver ou ouvir algo que não esteja normatizado terá a sentença capital imposta. Assim é a nova era, a Era da Paz.