O número de clientes ainda sem energia elétrica no Rio Grande do Sul caiu para 96 mil, na manhã desta quarta-feira, dia 17. Na noite passada, o total era de 131 mil. No pico dos temporais dessa segunda-feira, 338 mil economias ficaram sem luz em cidades atendidas pelas duas maiores concessionárias do serviço.
A RGE informou que ainda tenta restabelecer o fornecimento para 94 mil clientes. Desses, 57 mil vivem em Canoas e 23 mil em Gravataí, na Região Metropolitana. De acordo com a empresa, 5 mil pessoas (entre colaboradores e terceiros) seguem atuando na reconstrução da rede elétrica.
Na área atendida pela CEEE, 2 mil consumidores seguem sem luz no litoral Norte. Segundo o concessionária, os trabalhos estão concentrados, principalmente, em Tramandaí.
Supercélula de tempestade atingiu a região Metropolitana de Porto Alegre
Um violento temporal atingiu a região Metropolitana de Porto Alegre no começo da noite de segunda-feira com vento localmente destrutivo e granizo de variado tamanho com pedras de gelo que chegaram a ser médias e grandes em alguns pontos. A tempestade severa, uma das piores da história recente da Grande Porto Alegre, espalhou destruição e provocou uma morte por afogamento na zona Leste da Capital. Se em Porto Alegre o principal fenômeno foi o granizo com pedras de gelo de médio tamanho que assustaram a população de diversos bairros e causaram alguns danos, em cidades vizinhas e próximas foi a força arrasadora de vento que fez estragos com muita destruição em alguns pontos, especialmente nos municípios de Canoas, Cachoeirinha e Gravataí, os mais castigados pelo vendaval destrutivo.
De acordo com dados de estações meteorológicas, o vento passou de 100 km/h. Na Base Aérea de Canoas, o anemômetro – que mede o vento – registrou rajadas de 120,5 km/h. Outros locais da cidade podem ter tido vento ainda mais intenso pela análise das imagens dos danos. Já em Porto Alegre, o vento chegou a 79 km/h no Aeroporto Salgado Filho. Em Campo Bom, a estação local acusou 76 km/h. Uma supercélula de tempestade atingiu a região Metropolitana de Porto Alegre. Este tipo de formação associada a uma gigantesca nuvem do tipo Cumulonimbus pode provocar fenômenos extremos como granizo grande, vendavais e ainda tornados e correntes descendentes de vento poderosas (downbursts ou microexplosões).
A célula de tempestade se formou no final da tarde na região do Vale do Rio Pardo, onde gerou granizo destrutivo em Rio Pardo. Depois, avançou para a região Carbonífera, onde igual trouxe granizo grande em cidades como Charqueadas e São Jerônimo entre 18h30min e 19h. Na sequência, a célula chegou em Porto Alegre e na região metropolitana com vendaval e granizo. A célula de temporal com abundante granizo e violento vendaval se formou com o avanço de uma frente fria sobre o ar quente que cobria a região metropolitana e os vales.
A temperatura à tarde chegou a 33,1ºC em Porto Xavier, 31,8ºC em Santa Rosa, 30,7ºC em Teutônia e 30,2ºC em São Borja e São Luiz Gonzaga. Fez calor de quase 30ºC em plena Serra Gaúcha com máxima de 29,3ºC em Serafina Correa. Sondagem por balão meteorológico indicou às 9h de ontem temperatura de 20ºC a 1.500 metros de altitude sobre Porto Alegre, indicando uma atmosfera superaquecida e propícia para tempo muito severo.
Tornado ou microexplosão?
O vento deixou um rastro de estragos entre os municípios de Canoas e Gravataí, causando ainda muito estragos em Cachoeirinha. O nível de destruição observado em alguns pontos, inevitavelmente, leva a se questionar se houve um tornado ou microexplosões. Uma torre de energia em linha de transmissão, em tese preparada para resistir a vento de até 150 km/h, veio abaixo em Cachoeirinha. As hipóteses de microexplosões (mais de uma) e de passagem de um tornado, de imediato, não podem ser descartadas pela magnitude dos danos. Os estragos causados pelos dois fenômenos não raro são muito semelhantes e a literatura mostra que uma mesma tempestade pode trazer tanto microexplosões como um ou mais tornados. Somente será possível se determinar o que realmente aconteceu com um melhor mapeamento dos danos e uma análise aprofundada dos estragos, processo que, por exemplo, nos Estados Unidos, com todos os recursos, leva alguns dias.
Uma condição que tradicionalmente está presente em tornados no Rio Grande do Sul era muito evidente na noite de segunda-feira. Atuava uma intensa corrente de jato em baixos níveis da atmosfera com grande cisalhamento (divergência) de vento e ainda com uma frente fria avançando sobre uma massa de ar quente. A corrente de jato trouxe vento Norte não associado a temporal durante o dia com rajadas fortes em diversas localidades e que chegaram a 91 km/h em Soledade, 72 km/h em Santa Maria e 75 km/h em Bagé.
Corpo de homem que morreu arrastado pela chuva será sepultado nesta quarta na Capital
O corpo do técnico de som Daner Hernandez Silva, de 45 anos, que morreu afogado após salvar a família do temporal em Porto Alegre será sepultado na manhã desta quarta-feira. O funeral teve início na madrugada e a despedida acontece às 11 horas no Cemitério da Santa Casa de Misericórdia, no bairro Azenha.
Daner foi encontrado sem vida, nessa terça-feira, após ser arrastado pela força da água, junto à casa onde estava, para dentro do arroio moinho, próximo à rua da Represa, na zona Leste da cidade. Segundo a Defesa Civil da Capital, o corpo foi localizado próximo ao Anfiteatro Pôr do Sol, após percorrer mais de 12 quilômetros por água. Ao todo, 79 profissionais estiveram envolvidos nas buscas que mobilizaram Bombeiros, Defesa Civil, DMLU, Brigada Militar e Guarda Municipal.
Em 2017, um caso semelhante, também na rua da Represa e durante um temporal, uma mulher morreu ao ser levada pela enxurrada que atingiu a casa onde vivia.
Pelas redes sociais, o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, lamentou a morte do morador. “Com profunda tristeza fui informado do falecimento do morador desaparecido após atuar no salvamento de outras pessoas no temporal. O corpo foi localizado perto do Anfiteatro Pôr do Sol. A equipe da Fasc está na companhia da família para prestar todo o suporte necessário”, escreveu.