A Polícia Federal (PF) recomendou a apuração dos laudos que atestaram a capacidade psicológica do motorista Edson Fernando Crippa para ter armas. A sugestão foi enviada ao Conselho Regional de Psicologia. O órgão poderá averiguar eventual responsabilidade de quem aprovou o exame psicotécnico do atirador.
O homem de 45 anos foi atestado com esquizofrenia. Entre a noite de terça e a manhã de quarta-feira (22 e 23), ele matou quatro pessoas e deixou outras oito feridas, em Novo Hamburgo, no Vale dos Sinos. Ele foi morto em confronto com Batalhão de Operações Especiais (BOPE) da Brigada Militar.
A solicitação é da Delegacia de Controle de Armas e Produtos Químicos (Deleaq). A recomendação é que o Conselho instaure um procedimento administrativo e preserve os testes que foram aplicados no criminoso. Caso a medida aponte que houve falha do psicólogo responsável, ele pode ser descredenciado.
Conforme a PF, das quatro armas apreendidas com Edson Crippa, há registro de apenas uma no Sistema Nacional de Armas (Sinarm), com certificado válido. A PF confirma que o pedido de aquisição da referida arma de fogo ocorreu na superintendência, quando também foi anexada a documentação exigida pela legislação, inclusive com um laudo psicológico de “apto” para aquisição de armamento, emitido por uma psicóloga credenciada.
A corporação ainda destaca que ainda não tem responsabilidade pelo registro, autorização, concessão e fiscalização das atividades dos Caçadores, Atiradores e Colecionadores (CAC). Isso porque a PF assumirá a função somente em 1º de janeiro do ano que vem, conforme previsto em um Acordo de Cooperação Técnica oficializado em 18 de setembro de 2023. O convênio determinou o estabelecimento de um cronograma para transferência de competências do Exército Brasileiro (EB) aos agentes federais.
Investigação
Segundo o inquérito da Polícia Civil, Edson e o pai, Eugênio, morto por ele, aos 74 anos, sofriam de esquizofrenia. O idoso tratava o transtorno com medicamentos. Já o atirador não tomava medicação.
A investigação apontou ainda que Edson tinha permissão para ter armas desde 2007, sendo que a primeira internação dele em uma clínica psiquiátrica ocorreu no ano seguinte. Ele chegou a somar quatro internações em 16 anos mas, apesar disso, teve a autorização renovada em 2018 e 2020.
Crippa tinha ativo o registro de CAC (Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador). Ele também havia completado diversos cursos de atirador, conforme a irmã dele informou aos policiais. Quando foi morto, estava em posse de duas pistolas e duas carabinas, além de centenas de munições, no interior do imóvel na rua Adolfo Jaeger, bairro Ouro Branco.
Uma das explicações para o arsenal é que o criminoso chegou a trabalhar como motorista de cargas especiais, o que inclui transporte de itens de valor e materiais de risco. A profissão garante condições para porte e posse de armas, entretanto, ele estava desempregado e morava na casa dos pais há cerca de dois anos.
A apuração pretende descobrir como ele conseguiu manter e renovar o registro das armas com diagnóstico de esquizofrenia e quatro internações. Não há prazo para a instauração do procedimento por parte do Conselho Regional de Psicologia.