O químico industrial conhecido entre os fraudadores como o ‘alquimista’ ou o ‘mago do leite’ foi preso nesta quarta-feira (11), durante a Operação Leite Compen$ado 13. A detenção ocorreu quase 12 anos depois da primeira fase e pouco mais de sete anos após a 12ª etapa da operação deflagrada pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS).
Nesta 13ª fase, as Promotorias de Justiça Especializada Criminal de Porto Alegre e de Defesa do Consumidor identificaram a produção de derivados lácteos – leite UHT, composto, leite em pó, soro, entre outros –, em uma indústria de Taquara, no Vale do Paranhana. Conforme a apuração, o laticínio havia contratado o químico para assessorar a produção. Também foram presos o sócio-proprietário da empresa, em São Paulo, e dois gerentes.
Segundo o MP, os produtos continham soda cáustica e outros produtos nocivos à saúde, como água oxigenada. Além disso, foram detectados ‘pelos indefinidos’ e pontos de sujeira dentro das embalagens.
A operação desta quarta ainda contou com a parceria do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), Receita Estadual, Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), Ministério Público de São Paulo (MP/SP) e Brigada Militar. Cerca de 110 agentes cumpriram quatro mandados de prisão preventiva e 16 de busca e apreensão em empresas e residências de Taquara, Parobé, Três Coroas, Imbé e na Capital paulista.
Investigação
O ‘alquimista’ já havia sido alvo da quinta fase da operação, em 2014, quando foi descoberta a participação dele na adição de soda cáustica, bicarbonato de sódio e água oxigenada nos produtos de uma indústria em Imigrante, no Vale do Taquari. Posteriormente, ele foi absolvido de uma condenação de 2005 por fato semelhante, e teve imposta medida cautelar pela Justiça de Teutônia. Além disso, aguardava, há dois anos, para colocar tornozeleira eletrônica e face de desfecho do processo judicial da Leite Compen$ado 5.
O promotor Mauro Rockenbach explica que, depois de 2017, após a Leite Compen$ado 12, houve apenas duas denúncias sobre a adulteração no leite, mas ambas envolvendo pouca quantidade de adição de água ao produto, o que não rendeu uma nova fase da operação. No entanto, foram sugeridos e fiscalizados pequenos ajustes na cadeia produtiva.
“Mas agora, a situação é outra. Com a denúncia de 2024 se confirmou um novo risco e, para nossa surpresa, lá estava o alquimista – ou mago do leite. Era para ele estar usando tornozeleira eletrônica, era para sair a condenação dele da Leite 5. Mas, enquanto essas questões básicas não ocorrem, o que ele faz? Adultera leite e pior, aprimora seus mecanismos de ação, já que tem a fórmula exata da quantidade de soda cáustica para uma quantidade exata de litros de leite, fazendo com que os ajustes não sejam detectados nos exames”, ressalta Rockenbach.
Já o promotor de Justiça Alcindo Luz Bastos da Silva Filho, da Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor, explica que a soda cáustica é usada para ajustar o PH do leite e diminuir a sua acidez e, ainda por cima, volatiza ou desaparece rapidamente, não sendo detectada nas análises.
“Além de aprimorarem as fórmulas para adulteração, também aprimoraram as práticas criminosas. Eles utilizam alguns códigos – ‘vitamina’ e ‘receita’ – para tentar despistar qualquer tentativa de investigação. Vale lembrar que as irregularidades não foram detectadas apenas no leite UHT, mas no leite em pó, em compostos lácteos para fazer bebidas derivadas do produto e no soro de leite. Por exemplo, sobre o composto lácteo, eles chegam a reprocessar o produto vencido para reutilizá-lo novamente. Já a água oxigenada ou peróxido de hidrogênio, serve para matar micro-organismos e recuperar produto em deterioração. Isso, sem falar da soda cáustica que é cancerígena”, destaca Alcindo Bastos.
Distribuição
Conforme o MP, os produtos da indústria de Taquara são distribuídos não só para todo Rio Grande do Sul, mas para todo o Brasil e até para a Venezuela. Além disso, a fábrica já venceu e participa de várias licitações em muitas partes do país para fornecimento de laticínios. Recentemente, a empresa foi vencedora de um certame para distribuir produtos derivados do leite para escolas de uma cidade paulista.
Sobre as marcas de leite e derivados fraudados, a Justiça não autorizou, por enquanto, a divulgação. Sobre os lotes, o MP informa que, apesar de análises iniciais terem detectado substâncias nocivas à saúde humana e demais sujeiras ou pelos indefinidos, com o aprimoramento da fórmula, são aguardados exames mais detalhados para determinar exatamente os que estão contaminados.