FAMÍLIAS ATÍPICAS

Falta de monitores compromete rotina escolar de crianças com autismo em Bento Gonçalves

Levantamento aponta que, entre 36 alunos com TEA, apenas 6 contam com monitor fixo; ausência de suporte afasta crianças da escola

(Foto: Getty Images)
(Foto: Getty Images)

A falta de monitores especializados nas escolas públicas de Bento Gonçalves segue afetando de forma direta a inclusão de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Um levantamento recente da Associação Voz Azul, que atua no acolhimento de famílias atípicas, com base em 36 registros válidos, mostra que há um descompasso entre a necessidade de apoio individualizado e a capacidade da rede municipal em oferecê-lo.

Dos 36 alunos, 33 frequentam a escola atualmente. Cinco estão fora da sala de aula — e o principal motivo citado pelas famílias é a ausência de monitores. Entre os que frequentam a escola, apenas nove têm acesso ao período integral. Outros estudam em apenas um turno (12 à tarde e 2 pela manhã), quatro têm frequência parcial e cinco não frequentam as aulas em nenhum momento.

A situação do acompanhamento com monitores também é preocupante: apenas 6 crianças contam com profissional fixo presente regularmente. Outras 7 têm monitoras intermitentes, que revezam entre turmas; 10 estão sem monitor ou têm apoio de profissionais não especializados. Em dois casos, uma mesma monitora acompanha mais de uma criança.

Problemas recorrentes incluem alta rotatividade de profissionais, sobrecarga de auxiliares sem formação adequada, prejuízos no processo de adaptação e impactos no desenvolvimento das crianças. Há relatos de estudantes que reduziram sua permanência escolar ou deixaram de frequentar as aulas — uma criança ficou 15 dias em casa após a saída da monitora, enquanto outra tem frequentado apenas ensaios escolares, por menos de uma hora.

Em ao menos três casos, famílias contrataram profissionais particulares, como psicólogas, para garantir o suporte necessário dentro da escola. Ainda assim, mesmo entre os casos considerados minimamente estruturados, há preocupação com a instabilidade do serviço.

Reivindicações e Persistência do Problema

De acordo com Silvana Alves, presidente da Associação Voz Azul, o problema persiste desde o início do ano letivo.

“A situação está bem complicada. Muitas crianças estão indo só meio turno na escola, pois dividem a monitora. A prefeitura diz sempre a mesma coisa: que está contratando”, relata.

A entidade, junto a outras famílias, ingressou com uma ação na Defensoria Pública em busca de uma solução, mas o andamento do processo tem sido lento.

Daiane Líbano Oliveira, mãe de dois meninos dentro do espectro, também expressa frustração.

“Desde o nascimento, ambos precisaram de um olhar diferenciado. A escola deveria ser um espaço de acolhimento, mas se tornou mais uma barreira. Todo ano é a mesma angústia: será que vamos conseguir começar as aulas junto com os demais?”, desabafa.

Ela reforça a importância do convívio escolar para o desenvolvimento e autonomia dos filhos.

“É injusto não poder frequentar a escola por falta de um profissional garantido por lei, mas que não é disponibilizado”, lamenta.

Enquanto aguardam providências, as famílias seguem enfrentando obstáculos para garantir um direito básico: o acesso à educação inclusiva.