ANIMAIS INCRÍVEIS

Mutum: ave rara que está sumindo das matas brasileiras

O mutum está desaparecendo das florestas brasileiras. Entenda por que essa ave rara é tão importante e o que pode ser feito para salvá-la.

Mutum ave rara que está sumindo das matas brasileiras
Mutum ave rara que está sumindo das matas brasileiras

Você já ouviu o som grave de um mutum ecoando pela floresta? É como se a mata segurasse a respiração por um instante. Só que esse som está cada vez mais raro — e o silêncio vem crescendo nas matas brasileiras. O mutum, uma das aves mais emblemáticas da fauna nacional, está desaparecendo. Não por falta de beleza, mas por excesso de ameaça.

Neste texto, você vai entender por que o mutum está sumindo, como essa ave vive e o que está em jogo quando uma espécie tão importante caminha rumo à extinção silenciosa.

Como é o mutum e por que ele é tão especial

O mutum pertence à família Cracidae, a mesma das jacutingas e jacus, e seu porte lembra o de uma galinha grande, mas com uma elegância selvagem. De penas negras com brilho metálico, olhos atentos e uma crista ou carúncula característica sobre o bico (dependendo da espécie), ele chama atenção pela presença imponente.

O mais conhecido é o mutum-de-penacho (Crax fasciolata), com aquele topete espetado e comportamento discreto. Anda mais do que voa, sempre perto do chão, com passos firmes e movimentos calmos. Vive em pares ou pequenos grupos e tem hábitos que se entrelaçam com o próprio ciclo da floresta: alimenta-se de frutos, ajuda a espalhar sementes, contribui para a regeneração da mata.

É como um jardineiro silencioso da biodiversidade.

A ameaça que vem do desmatamento — e da caça

O principal motivo para o desaparecimento do mutum é o desmatamento acelerado. Essa ave precisa de matas densas, sombreadas e com variedade de frutos nativos. Mas a derrubada de florestas para abrir pastagens, plantações e estradas tem reduzido drasticamente seu território. Sem mata, o mutum não encontra alimento, abrigo nem proteção contra predadores.

Mas o desmatamento não age sozinho. A caça ilegal é outro golpe duro. Por andar no chão e ter carne considerada saborosa, o mutum é uma presa fácil. Muitos caçadores o abatem até hoje, mesmo sendo uma espécie protegida por lei. Em algumas regiões, o mutum já sumiu completamente das matas.

A junção desses dois fatores — perda de habitat e caça — criou um cenário crítico. Algumas espécies, como o mutum-do-nordeste (Pauxi mitu), já estão extintas na natureza, sobrevivendo apenas em cativeiros e programas de reprodução.

Um pássaro que carrega o equilíbrio ecológico

O mutum não é apenas uma ave bonita. Ele é peça-chave na manutenção da floresta. Por se alimentar de frutas grandes e andar longas distâncias, ele dispersa sementes que outras aves menores não conseguem carregar. Isso garante a regeneração de espécies arbóreas nativas e mantém o equilíbrio do ecossistema.

Retirar o mutum da equação é como remover um elo central de uma corrente. Pode parecer invisível no início, mas o impacto se espalha: menos árvores nativas, menos frutos para outros animais, mais vulnerabilidade ao avanço do desmatamento.

É o típico exemplo de efeito dominó ecológico — e quase ninguém percebe até ser tarde.

Iniciativas para salvar o mutum do desaparecimento

Felizmente, algumas iniciativas têm tentado reverter esse quadro. Um dos esforços mais significativos é o trabalho de criadouros conservacionistas, que mantêm casais de mutuns em cativeiro, com o objetivo de reprodução e futura reintrodução em áreas protegidas.

O Criadouro Científico da Fundação Neotrópica, no Mato Grosso do Sul, é um exemplo de esperança. Lá, pesquisadores vêm conseguindo manter populações saudáveis de mutuns-de-penacho, com comportamento e genética preservados. O desafio agora é garantir áreas reflorestadas e seguras para que essas aves possam voltar à natureza.

Há também ONGs e universidades que monitoram os últimos indivíduos selvagens e mapeiam os melhores locais para soltura. Mas tudo isso depende de apoio público, financiamento e educação ambiental.

Sem consciência coletiva, o mutum continuará sumindo — mesmo com boas intenções no papel.

Mutum ave rara que está sumindo das matas brasileiras
Mutum ave rara que está sumindo das matas brasileiras

Como você pode ajudar, mesmo à distância

Pode parecer distante, mas o futuro do mutum também passa pelas escolhas de quem vive na cidade. Quando você apoia projetos de reflorestamento, escolhe produtos sustentáveis ou simplesmente compartilha informações confiáveis sobre a fauna brasileira, você ajuda a criar um ambiente mais favorável para que espécies como o mutum possam sobreviver.

Evitar comprar animais silvestres, denunciar caça ilegal e valorizar o turismo de observação de aves são ações reais e acessíveis. Além disso, estimular crianças e jovens a se interessarem pela natureza pode ser um dos maiores legados que você deixa para o planeta — e para o mutum.

O silêncio da floresta não pode virar regra

A ausência do mutum é mais do que uma perda biológica. É o sintoma de uma floresta que está calando. Onde antes havia o som grave e ritmado dessa ave imponente, sobra apenas o ruído do machado e do fogo.

Salvar o mutum é também um gesto de resistência. É dizer que ainda há tempo para proteger o que é nosso, para manter viva a trilha sonora da mata, e para garantir que futuras gerações possam avistar — e se encantar — com uma das aves mais singulares do Brasil.