Você pode abastecer direitinho, cuidar da pintura e manter os pneus calibrados. Mas se errar na troca de óleo, todo esse zelo pode ir por água abaixo — ou melhor, por dentro do motor. Um erro comum e aparentemente simples tem encurtado a vida útil de milhares de motores no Brasil, sem que os donos sequer percebam: usar o óleo errado ou atrasar a troca.
A lubrificação correta é o que impede que o atrito entre as peças internas do motor gere desgaste, superaquecimento e até falhas catastróficas. E engana-se quem acha que “qualquer óleo serve” ou que “pode rodar mais um pouco” depois do prazo indicado. Vamos entender por que esse erro é tão grave e como evitá-lo de uma vez por todas.
O papel vital do óleo no motor
O óleo lubrificante tem uma função muito mais complexa do que só “untar” as partes do motor. Ele atua em diversas frentes:
- Redução do atrito entre as peças móveis, como pistões, virabrequim e comando de válvulas;
- Controle da temperatura, ajudando a dissipar o calor gerado pela combustão;
- Limpeza interna, carregando impurezas e resíduos metálicos até o filtro;
- Proteção contra a corrosão, criando uma película entre o metal e agentes químicos;
- Vedação entre componentes, como anéis de pistão e cilindros.
Quando o óleo é de má qualidade, está vencido ou simplesmente não é o tipo certo para o motor, essas funções deixam de ser bem executadas. O resultado? Desgaste prematuro, perda de desempenho e, em casos extremos, gripagem total do motor.
O erro mais comum (e silencioso)
Entre todos os equívocos, o mais grave e frequente é usar um óleo com especificação diferente da recomendada no manual do veículo.
Cada motor é desenvolvido com folgas internas, pressões e temperaturas específicas. O óleo certo precisa ter a viscosidade ideal (como 5W30, 10W40 etc.), além de atender a determinadas normas (como API SN, ACEA A3/B4, entre outras). Quando você coloca um óleo mais grosso ou mais fino que o necessário, a lubrificação se torna deficiente — e o motor sofre, mesmo que você não perceba de imediato.
Isso acontece muito em oficinas que usam “óleo universal” ou tentam empurrar o produto que está em estoque. Muitos motoristas, sem conhecimento técnico, acabam aceitando.
Atrasar a troca também mata o motor
Outro erro comum é rodar além do limite de quilometragem ou prazo de validade do óleo. O lubrificante perde propriedades com o tempo e o uso: ele oxida, acumula resíduos, perde viscosidade e pode até formar borra no interior do motor.
Rodar 2.000 ou 3.000 km a mais pode parecer pouco, mas em um motor moderno — com tolerâncias precisas — isso já é suficiente para começar um processo de desgaste silencioso.
Além disso, o óleo deve ser trocado mesmo que o carro fique parado. A regra geral é: a cada 6 meses ou conforme a quilometragem indicada, o que vier primeiro.
Como evitar esse erro?
1. Leia o manual do seu carro
Sim, parece básico — mas muita gente nunca abriu o manual. Nele, está especificado o tipo exato de óleo recomendado para o seu modelo. Não confie apenas no que dizem no posto ou na oficina.
2. Exija nota fiscal e o nome do óleo usado
Tenha controle do que está sendo colocado no seu carro. Anote a marca, a viscosidade e o número da norma (como API ou ACEA). Assim, você evita variações a cada troca.
3. Não aceite “substituições” sem justificativa
Se a oficina disser que o óleo recomendado “não tem, mas esse aqui é igual”, peça a comprovação técnica. Trocar um 5W30 sintético por um 20W50 mineral, por exemplo, pode ser catastrófico.
4. Troque também o filtro de óleo
Não adianta colocar óleo novo com um filtro sujo. O filtro antigo pode contaminar rapidamente o lubrificante novo e comprometer toda a lubrificação.
5. Fique de olho no intervalo ideal
Mesmo que você rode pouco, respeite o tempo máximo indicado para a troca. E se usa o carro em condições severas (trânsito pesado, poeira, percursos curtos), antecipe o prazo.
Dica de ouro: fuja da “borra”
A formação de borra no motor é um dos maiores pesadelos do motorista. Ela surge justamente pelo uso incorreto ou negligente do óleo — e pode custar a retífica completa do motor, um serviço que passa fácil dos R$ 5.000.
Se você pegar um carro usado, vale a pena fazer uma inspeção completa e até a chamada “limpeza de cárter” se houver suspeita de borra. Mas o melhor caminho ainda é a prevenção.
O barato que sai (muito) caro
Optar por um óleo mais barato ou esticar os prazos de troca pode parecer uma economia no curto prazo. Mas basta lembrar que o motor é o coração do carro — e um problema ali pode representar a perda total do veículo.
Fazer a troca corretamente, com o óleo certo, no tempo certo e em local de confiança, custa em média entre R$ 150 e R$ 350. Um motor danificado por falta de lubrificação pode ultrapassar R$ 10 mil em reparos.
No fim das contas, cuidar do óleo é cuidar da longevidade do seu carro — e da sua tranquilidade como motorista.