Edifício Penthouse: ícone que já foi cenário de novela e hoje retrata a decadência

Edifício Penthouse
Edifício Penthouse - Imagem: Fabiano Souza

Quando foi inaugurado em 1979, o Edifício Penthouse representava o auge da sofisticação paulistana. Um prédio de arquitetura ousada, localizado na Avenida Giovanni Gronchi, no Morumbi, que prometia o que havia de mais moderno e exclusivo: apartamentos de cerca de 400 m², varandas com piscinas privativas e suítes de até 80 m², com vista privilegiada para a cidade. Eram apenas 13 unidades, uma por andar, destinadas à elite econômica e cultural que buscava privacidade, conforto e status. Mas o que nasceu como símbolo de sucesso se transformou, décadas depois, em um triste retrato da desigualdade social e do declínio urbano.

O auge do Edifício Penthouse e a promessa de exclusividade

Durante os anos 1980, morar no Edifício Penthouse era sinônimo de status. O projeto da construtora Lindenberg encantava pelas curvas modernistas e pela ideia de que cada apartamento funcionava como uma verdadeira cobertura suspensa. Era um prédio que destoava de tudo ao redor, com design elegante, jardins internos e varandas que lembravam casas de praia.

A exclusividade era tamanha que o edifício chegou a aparecer na novela A Próxima Vítima, de 1995, representando a moradia de uma personagem da alta sociedade. As festas nos apartamentos eram grandiosas, as varandas abrigavam reuniões de empresários e artistas, e o prédio se tornava um símbolo de sucesso em uma São Paulo que crescia para o alto e sonhava com padrões internacionais de luxo.

Naquela época, as unidades chegavam a valer valores próximos de R$ 1 milhão, o que, corrigido para hoje, ultrapassaria facilmente os R$ 6 milhões. O condomínio reunia famílias influentes, com carros importados, serviços particulares e segurança reforçada — um oásis dentro da cidade.

O contraste que se tornou símbolo do país

Com o passar dos anos, o entorno do Morumbi começou a mudar. A comunidade de Paraisópolis, vizinha do edifício, cresceu exponencialmente até encostar literalmente nos muros do prédio. De um lado, piscinas suspensas e apartamentos espaçosos; do outro, casas simples de tijolo aparente e ruas estreitas.

As imagens aéreas do Edifício Penthouse ao lado da favela se tornaram mundialmente conhecidas, usadas em documentários e reportagens sobre desigualdade social. O muro que separa os dois mundos passou a ser um símbolo real e incontornável do abismo entre riqueza e pobreza no Brasil.

Enquanto os moradores do prédio tentavam preservar a sensação de isolamento e exclusividade, o crescimento de Paraisópolis trouxe consigo uma nova realidade: ruídos, insegurança e um choque visual que expôs o fracasso do planejamento urbano paulistano.

Dívidas, abandono e o colapso do sonho

A partir dos anos 2000, o cenário começou a se deteriorar. O condomínio enfrentou problemas de gestão, aumento da inadimplência e a desvalorização das unidades. Se no auge cada apartamento era um investimento milionário, hoje a realidade é outra: há unidades sendo leiloadas por menos de R$ 450 mil, valor inferior ao de um apartamento médio na mesma região.

Segundo dados divulgados por portais imobiliários, seis das treze unidades acumulam mais de R$ 1,5 milhão em IPTU atrasado, além de R$ 500 mil em dívidas condominiais. Alguns proprietários devem individualmente mais de R$ 600 mil, e há relatos de imóveis abandonados e vazios há mais de uma década.

Atualmente, apenas oito apartamentos ainda estão ocupados, abrigando cerca de 18 moradores no total — um número irrisório para o tamanho do edifício. As varandas com piscinas se tornaram marcas do tempo: muitas estão vazias, rachadas ou cobertas por vegetação. O hall de entrada, antes impecável, agora apresenta infiltrações, mofo e sinais de descuido. O prédio, que um dia representou a sofisticação do Morumbi, hoje luta para não se tornar um edifício fantasma.

Edifício Penthouse
Edifício Penthouse – Imagem: Fabiano Souza

A desigualdade refletida nas janelas

A imagem do Edifício Penthouse é mais do que uma curiosidade arquitetônica: é um retrato social. O contraste entre o luxo e a precariedade tornou-se tão evidente que o prédio virou tema recorrente em debates sobre urbanismo, economia e desigualdade no Brasil.

De um lado, varandas envidraçadas com piscinas particulares; do outro, lajes improvisadas e telhados de zinco. Um único muro separa estilos de vida, expectativas e oportunidades. Para os moradores de Paraisópolis, o prédio simboliza o que está fora do alcance; para os que vivem no Penthouse, é o lembrete de um passado de glória que se desfez com o tempo.

A história do edifício é, portanto, um espelho da cidade: um local onde a ostentação de ontem convive com o abandono de hoje, e onde o luxo isolado acabou cedendo espaço à vulnerabilidade.

Um monumento ao colapso urbano

Hoje, o Edifício Penthouse permanece em pé, mas carrega nas paredes as cicatrizes de quatro décadas de contrastes. O que antes era símbolo de exclusividade se tornou um ponto turístico informal, visitado por fotógrafos e curiosos em busca de imagens que expressem a desigualdade de São Paulo.

Os poucos moradores que ainda resistem tentam manter a dignidade do local, mesmo com a falta de recursos para manutenção e segurança. Entre dívidas, vazamentos e o peso da história, o Penthouse é mais do que um prédio decadente — é um monumento urbano que mostra até onde a cidade pode chegar quando luxo e desigualdade caminham lado a lado.