Você já abriu o portão e viu seu cão disparar como um foguete, sem nem olhar para trás? A cena pode parecer engraçada em um primeiro momento, mas esconde riscos sérios: atropelamentos, brigas com outros animais e até desaparecimentos. O comportamento de fuga é mais comum do que se imagina e, segundo especialistas em comportamento animal, tem explicações claras — e, felizmente, soluções possíveis.
Por que seu cão foge quando o portão abre
O cão é um animal curioso por natureza, e o mundo além do portão exerce uma atração quase irresistível. No entanto, esse impulso vai muito além da curiosidade. São fatores ligados ao instinto, ao ambiente e até ao manejo do tutor que definem essa reação explosiva.
Instinto de caça e exploração
Cães carregam na genética o desejo de explorar e caçar. Mesmo sem nunca ter caçado, o simples movimento de um carro, bicicleta ou gato na rua pode acionar um gatilho ancestral. Esse instinto faz o animal correr sem medir consequências. Estudos da Universidade de São Paulo (USP) apontam que cães com maior energia física, como border collies e labradores, apresentam até 40% mais chance de tentar escapar quando expostos a estímulos externos.
Falta de gasto de energia
Um cão entediado é uma bomba-relógio. Sem caminhadas diárias, jogos de busca ou atividades que desafiem sua mente, o portão aberto se transforma em convite irrecusável. A Associação Brasileira de Medicina Veterinária afirma que 7 em cada 10 cães urbanos não recebem estímulo físico suficiente — e o resultado é um comportamento ansioso, traduzido em fugas ou destruição dentro de casa.
Medo e ansiedade
Barulhos altos, como fogos de artifício ou buzinas, podem fazer o cão disparar em busca de refúgio. O problema é que a rua raramente oferece segurança. Em 2023, o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) divulgou que mais de 60% dos atendimentos emergenciais em clínicas durante festas de fim de ano estavam relacionados a fugas ou acidentes provocados pelo medo de fogos.
Busca por parceiros
O cio ainda é um fator forte para cães não castrados. Machos sentem o cheiro de uma fêmea a quilômetros de distância e podem se arriscar ao máximo para alcançá-la. Já as fêmeas no cio podem buscar escapar para encontrar parceiros, aumentando o risco de gestações indesejadas e acidentes.
Falhas no adestramento
Um cão que não aprendeu comandos básicos como “fica” ou “vem” terá mais dificuldade em resistir ao impulso da fuga. A ausência de treinamento adequado é um dos principais motivos para o tutor perder o controle no momento em que o portão se abre.
Ambiente estimulante demais
Se a rua em frente à casa tem movimento intenso, outros cães ou até mesmo pessoas circulando, a tentação de atravessar o limite aumenta. Nesses casos, o portão funciona quase como uma vitrine de estímulos, e o cão não consegue ignorar.
O que fazer para evitar fugas
Depois de entender os motivos, é hora de agir. Proteger seu cão não depende apenas de muros altos ou correntes: envolve rotina, treino e pequenas mudanças no ambiente.
Reforço do adestramento positivo
Comandos simples, ensinados com paciência e recompensas, reduzem drasticamente as chances de fuga. Treinar o cão para esperar ao abrir o portão é uma das medidas mais eficazes.
Castração como prevenção
Veterinários do Hospital Veterinário da Unesp destacam que a castração reduz comportamentos de fuga ligados ao cio em até 70%. Além disso, evita brigas e gestações indesejadas.
Barreiras extras
Instalar portões internos ou criar um espaço de transição entre a casa e a rua pode salvar vidas. É uma medida simples, mas muito eficiente para impedir a saída repentina.
Caminhadas e estímulo mental
Um cão cansado dificilmente terá energia para escapar. Caminhadas diárias, jogos interativos e brinquedos que liberam petiscos ajudam a reduzir a ansiedade. Segundo a American Kennel Club (EUA), cães que recebem 40 minutos de atividade diária apresentam até 60% menos tentativas de fuga.
Identificação sempre visível
Mesmo com todos os cuidados, imprevistos acontecem. Plaquinhas de identificação e microchipagem aumentam as chances de reencontro caso o cão fuja.
Ao abrir o portão, não é só a rua que se revela para o cão: é um mundo de riscos e oportunidades que ele não sabe medir. A responsabilidade está sempre nas mãos do tutor, que deve oferecer segurança, carinho e orientação para que o impulso natural de correr não se transforme em tragédia.