Opinião

Breve redação sobre nossas férias

Opinião da professora Juliana Soares, de Bento Gonçalves

Breve redação sobre nossas férias

No Brasil, o sonho de todo professor, sempre foi ter um salário justo. A prova disso são os
incansáveis dias dedicados à docência durante esta pandemia, as aludidas férias eternas estão longe
de ser no paraíso, se traduzindo como um verdadeiro purgatório. Trabalhando de manhã à noite,
muitas horas a mais todos os dias, com computador próprio, tendo que investir em equipamentos de
armazenamento de dados, usando o celular próprio para dar aula, fazer reunião, atender alunos.

Imersos em uma burocracia gigantesca, procurando motivação para criar aulas atrativas,
significativas e capazes de captar a atenção dos estudantes. Seus métodos sempre foram os mesmos:
dar tudo de si recebendo muito pouco em troca.

Em um ano atípico, no qual uma pandemia paralisou o mundo, a classe que trabalha com um
público de mais de mil pessoas por semana, direta e indiretamente, não podia ficar de fora, afinal
está exposta diretamente ao vírus. Mesmo assim, não houve grande preocupação com a classe em si,
mas com as cabeças pensantes do futuro, que seriam vetores de transmissão do vírus para o restante
da sociedade. Mas claro, depois de meses, chegamos ao estrelato, percebeu-se que existem
professores. Começamos ser acusados de sermos os únicos, ainda, “parados”. Mais uma prova,
colegas de classe, de que todo nosso esforço durante este período não serviu para nada, novamente,
dando tudo de si e recebendo muito pouco em troca.

E, novamente, nossos métodos serão os mesmos: seguir trabalhando, acolhendo os alunos e levantando a cabeça com dignidade.

De acordo com os dados do PISA, os países com melhores desempenho, são aqueles em que
todos estudantes têm iguais condições de estudo, realidade muito distante neste Brasil continental
que agora volta a ser assolado, inclusive, pelo fantasma da fome. Os mesmos dados do PISA
indicam que estes países são os que mais valorizam seus professores, salarialmente falando.
Também é nestes países que os estudantes ficam a maior parte do dia nas escolas. Podemos falar
sobre estes dados?

Ou melhor, podemos falar sobre a reforma administrativa que prevê, entre outros, a retirada
dos poucos direitos que ainda estimulam a permanência na docência?
Olha só! Lembrei que existe uma instituição na sociedade que fala por nós, como é mesmo o
nome dela…Ah! É o Sindicato!

E o ensino, como fica o conteúdo das crianças? Ah! Lembrei! Lembrei que não houve
nenhum plano decente do governo federal que contemplasse as escolas neste sentido. Podia ter se
previsto a suspensão do ano letivo, com plena recuperação posterior, podia ter se disponibilizado
internet banda larga para a rede pública, podiam ter-se aberto linhas de crédito para compra de
computadores da indústria nacional. Tantos movimentos. Mas daí lembrei, que seguindo a boa
cartilha do descaso com a educação pública, nada foi feito. Afinal, o que seria mais importante para
o futuro do país do que ficar criticando seus professores?

Opinião de Juliana Soares, Professora de História de Bento Gonçalves

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