JUSTIÇA DO TRABALHO

Empresário é condenado a pagar R$ 350 mil por danos morais após torturar funcionário em Farroupilha

Sentença do Ministério Público do Trabalho reconhece dano moral coletivo após agressões brutais cometidas em 2021

FARROUPILHA
Em junho deste ano, o homem já havia sido condenado a mais de 42 anos de prisão (Foto: Eduardo Garcia/Grupo RSCOM)

O Ministério Público do Trabalho condenou o médico veterinário Ari Glock Júnior e suas empresas ao pagamento de R$ 350 mil por danos morais coletivos, em razão das agressões e torturas cometidas contra um trabalhador em agosto de 2021, em Farroupilha. A decisão, proferida pelo juiz substituto Eduardo Batista Vargas, reconheceu que os atos de violência ultrapassaram qualquer limite de hierarquia profissional, representando grave violação aos direitos humanos e à dignidade do trabalho.

A condenação trabalhista soma-se à pena criminal imposta ao mesmo réu em junho deste ano, quando ele foi sentenciado a 42 anos e 10 meses de prisão pelos crimes de tentativa de homicídio triplamente qualificada, estupro, tortura, sequestro, roubo e cárcere privado. A vítima já havia obtido, em ação individual, outra indenização de R$ 350 mil por danos morais.

Relembre o caso de tortura e tentativa de homicídio

O caso ocorreu em agosto de 2021, na zona rural de Farroupilha. Segundo os autos, o empregador suspeitava que o funcionário havia furtado R$ 20 mil da clínica veterinária onde trabalhava. A partir dessa suspeita, o empresário e outro funcionário iniciaram uma série de agressões com o objetivo de obter uma confissão.

A vítima foi amarrada, espancada, eletrocutada e atingida por um tiro no pé. Também sofreu violência sexual, teve o celular confiscado e foi abandonada em via pública. Socorrido por populares, recebeu atendimento médico, mas foi sequestrado novamente no dia seguinte pelo mesmo agressor, após receber alta do Hospital São Carlos.

O trabalhador foi então levado a uma boate de propriedade da família do empregador, onde foi mantido em cárcere privado e submetido a novas torturas, incluindo queimaduras, choques, extração de dentes e agressões aos órgãos genitais. Após as sessões de violência, a vítima foi obrigada a pular de um penhasco, na localidade da Linha Boêmios, mas sobreviveu e conseguiu buscar socorro.

Reconhecimento do vínculo de trabalho

Embora os réus tenham negado o vínculo empregatício, a Justiça do Trabalho reconheceu que o trabalhador atuava de fato como peão caseiro e auxiliar de veterinário, conforme depoimentos e documentos apresentados.

Repercussão e próximos passos

Na esfera trabalhista, os réus perderam o prazo para recurso, tornando a decisão definitiva. Já na área criminal, a defesa recorreu da condenação penal, alegando irregularidades no processo.

O caso causou comoção em Farroupilha, sendo considerado um dos episódios mais graves de violência laboral já registrados no Brasil. A atuação conjunta do MPT e da Justiça do Trabalho foi destacada como exemplo de proteção aos direitos humanos e responsabilização de empregadores abusivos.