
Na manhã deste domingo (13), moradores de seis unidades do Residencial Jardim Vêneto, no bairro De Zorzi II, em Caxias do Sul, puderam entrar temporariamente nos imóveis interditados para retirar pertences pessoais. A liberação, autorizada pela Defesa Civil mediante ofício técnico para retirada dos móveis e demais pertences das famílias, valeu apenas para as unidades 5 a 10, consideradas, por ora, sem risco iminente de desabamento.
Contudo, a situação dos imóveis vai muito além da simples retirada de móveis. Segundo o engenheiro civil Josué Pezzi, um dos responsáveis pela análise técnica que embasou a interdição dos sobrados, há falhas graves na execução das obras, que colocam em risco a integridade das edificações e, principalmente, a vida dos moradores.





Falhas visíveis e execução comprometida
Pezzi destacou que, embora ainda não tenha tido acesso ao projeto estrutural completo, as vistorias já revelam uma série de problemas críticos. Entre eles, armaduras expostas, concreto mal adensado, ausência de escoramento adequado em vigas, falta de impermeabilização na fundação e falhas em acabamentos, como janelas mal instaladas.
“Esses elementos apontam para falhas de execução evidentes. Mesmo sem os cálculos estruturais em mãos, é possível afirmar que o concreto e a ferragem utilizados estão abaixo do ideal para garantir a estabilidade das construções”, afirma o engenheiro.
Sobrecarga e possíveis causas
A análise também identificou possíveis sobrecargas em algumas unidades. Sobrados de 1 a 6 utilizaram tijolos nas sacadas, o que pode ter contribuído para o aumento da carga sobre a estrutura. Por outro lado, mesmo unidades teoricamente mais sobrecarregadas, como as de números 5 e 6, apresentaram menos danos do que outras, indicando que os problemas não decorrem de um único fator.
“O que vemos aqui é um somatório de causas: projeto possivelmente falho, execução deficiente, uso inadequado por parte de alguns moradores e, talvez, problemas relacionados ao solo. Precisamos verificar se o estudo geotécnico foi realizado e se foi suficiente”, pontua Pezzi.










Estrutura condenada em parte dos imóveis
O laudo técnico completo deve ser concluído em até duas semanas e servirá como base para eventuais responsabilizações legais. Entretanto, a análise preliminar já indica que os sobrados 1 a 3 estão condenados estruturalmente. A remoção de objetos nessas unidades é considerada arriscada, e qualquer entrada nesses imóveis deve ser evitada. Segundo o engenheiro, existe risco de colapso gradual.
“A recomendação é que moradores não insistam em entrar para resgatar pertences. Isso representa risco para si mesmos e para terceiros, como os bombeiros e técnicos envolvidos na operação”, alerta.
Responsabilidade compartilhada e compromisso técnico
Pezzi enfatiza que os problemas detectados envolvem múltiplas esferas de responsabilidade. A incorporadora deveria ter providenciado um estudo de solo adequado, enquanto engenheiros e arquitetos têm o dever técnico de cobrar esse levantamento. Além disso, modificações realizadas por moradores sem respaldo técnico podem ter agravado a situação, ainda que muitas tenham sido feitas com boa-fé.
Em meio à crise, o especialista ressalta o compromisso ético e técnico dos profissionais envolvidos nas avaliações.
“Nosso foco é sempre a preservação da vida. Agimos com base em critérios técnicos, mesmo diante de pressões sociais e políticas. A responsabilidade é grande, mas precisa ser assumida com seriedade”, conclui.
A interdição das residências ocorreu no dia 25 de março de 2025, quando seis famílias do bairro De Zorzi II, na Zona Leste de Caxias do Sul, notaram rachaduras e fissuras nas paredes, tetos e pisos de três sobrados localizados na rua Luiz Gaio, ainda na madrugada. Os próprios moradores acionaram o Corpo de Bombeiros, que, prontamente, interditou os imóveis e determinou a evacuação imediata das residências.
O caso pode ser relembrado aqui.