Agro Rural

Meses de muita chuva e umidade devem impactar negativamente na produção de uvas em Bento Gonçalves

Por conta das condições climáticas, expectativa é que a próxima safra da Capital Brasileira do Vinho seja menor

Meses de muita chuva e umidade devem impactar negativamente na produção de uvas em Bento Gonçalves
Foto: Ilustrativa/Arquivo Leouve

A safra da uva em Bento Gonçalves, reconhecida como a Capital Brasileira do Vinho, está programada para ocorrer entre meados de dezembro de 2023 até abril de 2024. No entanto, preocupações pairam sobre os produtores de vinho devido à expectativa de uma safra reduzida em comparação com anteriores, bem como acerca da qualidade das uvas. Isso tudo por conta de um prolongado período de chuvas, tempestades e enchentes que têm afetado o Rio Grande do Sul nos últimos meses.

As fortes chuvas desde setembro, ocasionadas pelo ciclone extratropical El Niño, causaram inundações em várias cidades, assim como danos significativos ao agronegócio gaúcho, estimados em mais de R$ 1 bilhão, conforme relatório divulgado pela Confederação Nacional dos Municípios (CMN). Outubro e novembro seguiram com padrões climáticos adversos, e a climatologia indica que o fenômeno deve durar ao menos até abril de 2024, de acordo com a Organização Meteorológica Mundial (OMM).

Segundo o enólogo da Emater/RS-Ascar e Mestre em Viticultura e Enologia, Thompsson Didone, vinhedos sofreram prejuízos com excesso de chuva e umidade que prejudicaram os tratamentos de controle fitossanitário. ”Outro problema que a gente constatou é que várias variedades de uva floresceram em período de chuva e pode ter havido abortamento floral, quer dizer, menos grãos nos cachos”, explica Thompsson.

“A tendência é que a safra seja um pouco menor que uma safra normal em virtude do tempo, isso é notório. Mas a previsão agora é chute, a gente tem que esperar para ver dados reais para não fazer uma estimativa errada”, salienta o enólogo.

A Embrapa Uva e Vinho de Bento Gonçalves, por meio de sua assessoria de comunicação, corroborou a previsão de uma diminuição na safra de uva deste ano, porém, enfatizou a dificuldade em estimar o impacto exato, pois diversas variedades ainda estão em processo de floração. A empresa apontou que uma avaliação mais precisa só será possível no início de dezembro.

Já o enólogo Moisés Brandelli, diretor técnico da Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), enfatizou a influência do El Niño, apontando também para um inverno atípico caracterizado por oscilações de temperatura e eventos climáticos extremos.

“Esse inverno um pouquinho mais quente ainda não foi capaz de mexer no ciclo das videiras. Parreirais que já têm um bom tempo de idade conseguiram manter o período natural de dormência, mesmo com algumas oscilações de calor”, afirma Brandelli, que também é diretor do Conselho Regulador da Indicação Geográfica Vale dos Vinhedos.

No entanto, o enólogo alerta para a fase de floração das uvas, afirmando que pode haver fortes influências das chuvas. “Normalmente, nesta época, teríamos um período com calor forte, mas tivemos chuvas excessivas. Ainda assim, com períodos de sol, a tendência é que, se o vinhedo for bem cuidado, as coisas corram de forma normal”.

Ao abordar a possível consequência desse cenário, ele observou: “Podemos presenciar uma pequena baixa na produtividade. Os cachos estão um pouco menores, porém, isso pode influenciar positivamente na qualidade, desde que haja um manejo cuidadoso para evitar doenças como fungos”.

Por fim, Moisés Brandelli mostrou confiança na capacidade dos agricultores em lidar com os desafios climáticos e assegurar uma colheita de uvas de qualidade.

Confira o depoimento completo dos especialistas:

Thompsson Didone – Enólogo da Emater

 

Moisés Brandelli – Enólogo e Diretor Técnico da Aprovale