A eleição da mesa diretora da Câmara de Caxias do Sul, nesta quarta-feira (1°), evidenciou uma tensão nos bastidores da articulação política que promete ter efeitos ao longo da legislatura (2025-2028). A maioria do plenário foi favorável a presidência, neste 1° ano, de Lucas Caregnato (PT), líder do grupo que conta com parlamentares do PSB, PCdoB, PP e PDT.
Votaram contra os vereadores Capitão Ramon (PL), Daiane Mello (PL), Hiago Morandi (PL) e Marisol Santos (PSDB). O levante frente à única chapa inscrita para o comando do Legislativo ocorreu porque PL e PSDB, 1° e 2° partidos mais votados em outubro, respectivamente, ficaram de fora do acordo para presidir a Casa em dois dos próximos quatro anos.
Apesar de não ser regra prevista no regimento interno da Câmara, o chamado acordo informal costuma ditar a chefia do Parlamento em razão de levar em conta, principalmente, a representatividade. As legendas mais votadas foram PL, que somou 36.570 votos entre seus candidatos; PSDB, 25.028 votos; PT, 23.514 votos; e PSB, 18.571 votos.
Em tese, portanto, a presidência do Legislativo seria de Daiane Mello (PL), Lucas Caregnato (PT), Marisol Santos (PSDB) e Wagner Petrini (PSB), um por ano, em ordem a definir pelo interesse de seus representantes. Cada partido organiza internamente quem indica à liderança da mesa.
O formato é respeitado há anos: nas eleições anteriores, em 2020, as bancadas mais votadas foram PTB (hoje, PRD), PT, PSDB e PSB. Assim, comandaram a mesa diretora Velocino Uez (PTB), em 2021; Denise Pessôa (PT), em 2022; Zé Dambrós (PSB), em 2023; e Marisol, em 2024. O mesmo ocorreu na outra legislatura, no pleito de 2016: presidiram a Casa vereadores do PDT, PSB, PTB e MDB, as siglas mais votadas naquela ocasião.
Entretanto, segundo as negociações entre os parlamentares até esta quarta-feira, Marisol e Daiane ficaram de fora do acordo para o restante da legislatura, dando lugar a representantes de Republicanos e PP, que fizeram, respectivamente, 18.133 votos e 15.113 votos, cada.
O combinado que é ventilado internamente na Câmara é que os presidentes serão: Lucas, em 2025; Petrini, em 2026; Edson da Rosa (Republicanos), em 2027; e, por fim, Adriano Bressan (PP), em 2028 — que retornaria da Secretaria do Urbanismo para completar o mandato como vereador.
O que faltou para PL e PSDB
No evento de posse do prefeito, Adiló Didomenico, do vice, Edson Néspolo, dos 23 vereadores e eleição da mesa, nesta quarta, Daiane Mello e Marisol Santos expressaram descontentamento de maneiras semelhantes.
A parlamentar do PL colocou a responsabilidade sobre o PT e disse que o melhor seria um acordo com as quatro legendas mais votadas ocupando a presidência. As negociações aconteceram entre Daiane, Lucas, Marisol e Petrini.
“O PT, principalmente, mostrou que não está maduro o suficiente. Houve uma negociação desleal, por se aproveitarem que o PL recém entrou, que os vereadores são de primeiro mandato. O PT (representado por Lucas Caregnato) se dizia pela representatividade, o que nos surpreendeu foi que, dali um momento, ele disse que iria para um outro lado”, externou a vereadora do PL.
No entendimento de Lucas Caregnato, por outro lado, faltou articulação política das vereadoras. Após eleito presidente, afirmou que os votos contrários são respeitados como componentes da democracia.
“Entendo que a democracia é um espaço de ideias diversas, de convergências e divergências. Eu entendo isso (votos contrários) com absoluta naturalidade e nós vamos trabalhar dentro daquilo que compete o regimento para todos os vereadores, independente de terem votado hoje ou não, independente dos seus partidos. A Câmara precisa ser um espaço atento para os reais problemas da população e assim a gente vai atuar”, disse.
Posicionamentos divergentes
Outro aspecto que marcou a eleição da mesa diretora foi a divergência no posicionamento das próprias bancadas de PL e PSDB na votação da chapa única à mesa diretora liderada por Lucas Caregnato, ou seja, o primeiro ato dos vereadores após serem empossados.
Enquanto Capitão Ramon, Daiane Mello e Hiago Morandi não queriam o petista na presidência, foram favoráveis Pedro Rodrigues (PL) e Sandro Fantinel (PL). Pelo lado dos tucanos, Marisol foi contra a chapa mas Aldonei Machado (PSDB) a favor.
A situação pode diagnosticar um racha ou mesmo uma desorganização entre os filiados das siglas. Presidente do PL Caxias, o ex-vereador Maurício Scalco foi categórico ao afirmar que “isso (conflito nos votos da bancada) é erro do ‘líder’ do partido, Hiago Morandi“. Scalco disse que não participou das negociações para presidência da mesa e que faltou liderança entre os parlamentares do PL.
Quem também também não integrou as conversas para o comando da Câmara foi o presidente do PSDB municipal, o deputado estadual Neri, o Carteiro. O tucano nega haver um racha dentro da legenda e comenta que, apesar de buscarem trabalhar coletivamente, podem acontecer posicionamentos conflitantes.
“Foram articulações políticas que os dois (Aldonei e Marisol) acabaram fazendo e o partido não se envolveu, até porque, na verdade, o partido não foi procurado para se envolver. Até então, entendíamos que estava tudo de acordo (para o PSDB estar na presidência). O Aldonei sempre deixou claro que não tinha intenção de presidir e a Marisol não procurou o partido para que a gente pudesse fazer essa articulação junto“, revelou Neri.
Os outros componentes da mesa diretora 2025 são: Petrini (1° vice-presidente), Andressa Marques (PCdoB/2° vice-presidente), Alexandre Bortoluz, o Bortola (PP/1° secretário) e Andressa Mallmann (PDT/2ª secretária).