
O Termo “Espírito do Mundo” usado pelo filósofo germânico Hegel (1770 – 1831), em sua obra Fenomenologia do Espírito, Conforme registrado por Antônio J.P. Fº e Rodrigo Bradão (História e Filosofia) é assim definido:
“… ele considera que indivíduos como César e Napoleão a encarnação deste espírito, pois seriam guiados por um instinto inconsciente que a própria época deles exigia. Estes indivíduos teriam a tarefa de romperem com as velhas formas de vida, promovendo a mudança, o progresso e a liberdade. Aparecem no momento em que uma forma de vida está morrendo, em que o espírito humano está estabilizado, tornando-se inativo, e, por isso, essa forma deve ser substituída por outra…”.
Este “Espírito” vem combater a inércia e a imutabilidade na forma de pensar e agir, é provocativo, satisfazendo o princípio evolutivo e o progresso dos povos. Contudo, em decorrência da época que viveu Hegel não poderia ser mais objetivo com relação as suas concepções, ante o risco de ficar sob julgamento da intolerância que reprimia a liberdade de pensamento vigente naquele século.
Numa reflexão, podemos perceber íntima relação com o significado de “inconsciente coletivo” definido pelo pai da psicologia analítica Carl Jung (1875 – 1961) de forma “cautelosa”. O termo tem origem grega e significa “posição superior”.
Ainda segundo Jung, na definição do “inconsciente coletivo” (camada mais profunda da psique), este é constituído por um arcabouço de arquétipos, cujas influências ultrapassam a consciência do indivíduo.
Conforme referido inicialmente por Hegel à origem deste fenômeno, por assim dizer, seria guiada por um instinto inconsciente. Mas há uma indeterminação sobre o que ou quem seria este instinto, justamente por uma reservada prudência e moderação que suas épocas exigiam.
Nas considerações em questão há evidente subjugação e submissão a um determinismo histórico, segundo Hegel este fenômeno “parece atuar rigidamente acima da cabeça dos indivíduos, servindo-se deles como de instrumentos ou joguetes na mão de um destino inelutável”.
Para elucidar estas dúvidas, precisamos distinguir com precisão a natureza dos efeitos produzidos por estes acontecimentos. Oportuno voltar ao significado etimológico de psique que segundo os gregos é a “alma” ou ainda “sopro, vida”.
Ninguém melhor esclareceu o mistério da alma do que o espiritismo, que por correto dizer teve grande elucidação nos diálogos socráticos através de Platão e posteriormente com Allan Kardec, que assim esclareceu no Livro dos Médiuns:
237. No número das dificuldades que a prática do Espiritismo apresenta é necessário colocar a da obsessão em primeira linha. Trata-se do domínio que alguns Espíritos podem adquirir sobre certas pessoas. São sempre os Espíritos inferiores que procuram dominar, pois os bons não exercem nenhum constrangimento. Os bons aconselham, combatem a influência dos maus, e se não os escutam preferem retirar-se. Os maus, pelo contrário, agarram-se aos que conseguem prender. Se chegarem a dominar alguém, identifica-se com o Espírito da vítima e a conduzem como se faz com uma criança.
Disse ainda (Revista Espírita, abril 1862): “Compreende-se que semelhantes a uma nuvem de gafanhotos, um bando de maus Espíritos pode cair sobre um certo número de criaturas, delas se apoderar e produzir uma espécie de epidemia moral. A ignorância, a fraqueza das faculdades, a falta de cultura intelectual naturalmente lhes oferece maiores facilidades. Por isso eles atuam de preferência sobre certas classes, embora as pessoas inteligentes e instruídas nem sempre estejam isentas”.
Embora numa visão preliminar este fenômeno venha ser prejudicial, num olhar aprofundado esta provocação é permitida porque fortalece o combate à estagnação das ideias e a evolução da sociedade.
Em complementação a estes enunciados, citamos o “Espírito da Natureza”, que a meu ver possui finalidade idêntica, mas em contraposição ou combate ao “Espírito do Mundo” como resultado da “lei de causa e efeito”. Hoje precisamente representado e compreendido através do fenômeno da pandemia.
Este equilíbrio de forças é assimilado de forma mais equilibrada através do diálogo “Fédon” que precede a morte de Sócrates (469 – 399 a.c.), sobre – Os Contrários – “(…) Suponhamos, com efeito, que não haja uma eterna compensação recíproca das gerações, alguma coisa assim como um círculo em que giram esses contrários, mas que a geração vá em linha reta somente de um dos contrários para o outro que lhe está em frente, sem voltar em sentido inverso para o outro contrário e sem fazer a volta; então, bem o percebes, todas as coisas se imobilizariam na mesma figura, o mesmo estado se estabeleceria em todas elas, e cessaria a geração (…) e não erramos, creio, ao ficar de acordo a esse respeito. Não, aí estão coisas bem reais: o reviver, o fato de que os vivos provêm dos mortos, de que as almas dos mortos têm existência, e – insisto neste ponto – de que a sorte das almas boas é melhor, e pior a das almas ruins!”
Dessa forma, é manifesto que a verdade está presente em uma Trindade estabelecida: O “Espírito do Homem”, o “Espírito da Natureza” e o “Espírito de Deus”, melhor compreendido em – 1 Coríntios 2:
10 Deus, todavia, o revelou a nós por intermédio do Espírito! Porquanto o Espírito a tudo investiga, até mesmo as profundezas de Deus.
11 Pois, quem conhece os pensamentos do ser humano, a não ser o espírito do homem que nele reside? Assim, igualmente ninguém conhece os pensamentos de Deus, a não ser o Espírito de Deus.
12 Nós, entretanto, não recebemos o espírito do mundo, mas, sim, o Espírito que vem de Deus, a fim de que possamos compreender o que por Deus nos foi outorgado gratuitamente.
13 Sobre isso também pregamos, não com palavras ensinadas pelo saber humano, mas, sim, com palavras ministradas pelo Espírito, interpretando verdades espirituais para os que são espirituais.
Escrito por Mauro Falcão, em 17.12.2020, para: O Portal Leouve. ‘.