Bento Gonçalves

Invasão em Bento cresce enquanto Justiça não decide sobre reintegração

Invasão em Bento cresce enquanto Justiça não decide sobre reintegração


Ocupação já recebe mais de uma centena de famílias (Foto: Gerson Lenhard)

A prefeitura e os proprietários de um terreno localizado entre os bairros Vila Nova 2 e Vila Nova 3 aguardam uma decisão judicial para a reintegração de posse de duas áreas, uma de propriedade do município e outra particular, que desde o final de julho estão recebendo diversas famílias em uma ocupação irregular. A decisão está sob a responsabilidade da juíza da 3ª Vara Cível de Bento Gonçalves, Romani Terezinha Bortolás Dalcin.

Enquanto a Justiça não decide sobre a reintegração de posse, a situação vai se agravando no local, com mais de uma centena de famílias que se aglomeram nos dois terrenos e já erguem barracos de lona e alguns até de madeira, demarcam lotes e transportam móveis para o local.

No terreno da prefeitura, pelo menos nove famílias ocupavam a área até a sexta-feira, dia 11. Uma delas já conta com oito pessoas. De acordo com um dos primeiros homens a chegar, que não quis se identificar, o desemprego e o alto custo de vida são apontados como causas para a invasão.

Não temos condições de pagar o aluguel, o aluguel é uma careza, a comida é pior ainda, e o salário que a gente ganha nas empresas aí não chega nem a um terço do que a gente gasta”, avalia ele, que estima que as despesas da família, ele, a mulher e dois filhos, chegam a cerca de R$ 1,2 mil mensais. Isso no básico do arroz e feijão e ovo frito, quando o biscate é grande”.

A cada dia, novos barracos surgem nos terrenos invadidos (Fotos: Bruno Mezzomo)

Outro invasor, que é cunhado de outro homem que já ocupa um lote e “tomou coragem para sair do aluguel”, afirma que a orientação para a invasão do terreno público teria partido de um “assessor da prefeitura”, que teria inclusive afirmado que a justiça vai obrigar uma regularização ou determinar outro lugar para assentar as famílias.

Queremos que surja os papéis do terreno ou que tirem nós daqui e dê outro lugar. Eles disseram que depois de estar tudo certinho, vão ligar água e luz”, revelou o homem, que afirmou que estão utilizando água e luz cedidas por um vizinho.

Uma hora a corda arrebenta e aí não tem pra onde sair. Aí achamos um lugar que não vai judiar de ninguém. Isso aqui estava acumulando lixo”, calcula o homem, que disse não saber quem seria o tal assessor.

Os dois são unânimes em afirmar que não estão querendo briga, e não se furtam em ter que pagar por um lote da prefeitura. Segundo um deles, eles estão lutando pelo direito à moradia.

Se tiver que pagar um terreno para a prefeitura, de uns 100 pilas, nós estaria disposto (sic). Só que, se a gente não precisar pagar nada, melhor ainda”, disse ele, que garante que os ocupantes não pretendem deixar o local. “Essa foi a decisão do assessor do gabinete do prefeito”, garantiu.

No terreno particular, a situação é ainda mais preocupante, porque parte da área, que tem 55 metros de largura por 660 metros de comprimento, é inutilizável, porque por ali passam as linhas de transmissão de energia elétrica. É nessa situação que estão vivendo mais de 100 famílias, algumas delas com idosos e crianças pequenas, em condições insalubres, muitas vezes dormindo debaixo de lonas.

Um dos representantes da família Menegotto, proprietária do terreno, que também não quis se identificar, afirmou que entrou com o pedido de reintegração de posse da área no dia 1º, mas até agora não recebeu a resposta da Justiça.

De acordo com vizinhos dos terrenos invadidos, a situação preocupa, e já começam a aparecer problemas. Um dos moradores do entorno perdeu uma plantação que mantinha no terreno e teme pela segurança do local.

Toda hora tá chegando gente montando barraco”, disse um dos moradores do bairro.

A secretária-adjunta de Habitação e Assistência Social do município, Milena Bassani, afirma que a prefeitura aguarda a decisão judicial para decidir os próximos passos. Segundo ela, existem programas habitacionais, como a venda de lotes no Vila Nova 3 e o Minha Casa, Minha Vida, da faixa 1, para famílias com renda de até R$ 1,8 mil, mas, segundo ela, não há demanda. No caso dos 31 terrenos do Vila Nova, ela afirma que nem 10% dos 408 inscritos apresentaram renda igual ou menor que esta faixa. Mesmo assim, o município trabalha para a implantação de novos projetos habitacionais de interesse social.

Não temos muita gente nessa faixa porque o Novo Futuro já supriu bastante disso. Nosso município não é um local onde as pessoas recebam mal”, afirmou ela.

Mesmo assim, será preciso entender qual o destino da demanda surgida com a invasão das áreas e identificar as reais necessidades de cada família que está no local, independentemente do resultado judicial. Questões como a realocação das famílias e a possibilidade do pagamento de aluguel social deverão se impor no caso da Justiça decidir pela reintegração.

Outra definição importante será como cumprir a decisão judicial sem provocar um problema social ain da m ais grave. Para isso, a Brigada Militar deverá planejar as ações com outras organizações. Para o major Álvaro Martinelli, subcomandante do 3º Batalhão de Policiamento de Áreas Turísticas (BPAT), para atingir os resultados, a ação precisa ser integrada entre a BM, a prefeitura, o conselho tutelar, os bombeiros e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).

Segundo ele, ações dessa natureza são definidas no âmbito do subcomando geral da corporação.

Não é do dia para a noite. Há uma série de itens que precisam ser planejados. Esta é uma questão social”, classificou o militar.

Atualmente, não existe uma definição sobre como as ações de reintegração de posse devem ser feitas. Recentemente, uma ação em Porto Alegre fez o Ministério Público e a Defensoria Pública perceberem a necessidade de criar protocolo para esse tipo de ação no Rio Grande do Sul.