O que pode ser considerada uma simples coincidência definiu o destino de um menino de 11 anos que foi salvo de um ataque de pitbull por um verdadeiro herói na tarde desta segunda-feira (6), em Caxias do Sul. Isso porque o bombeiro civil Gelson Carvalho de Souza, de 30 anos, não era para estar no local em que presenciou uma “cena de filme de terror”, como ele próprio descreve.
“Foi uma cena horripilante, de filme de terror, na hora você não sabe o que fazer”, afirma ele, ao relatar a primeira impressão que teve ao visualizar o ataque.
Carvalho, que também trabalha como técnico de instalação de câmeras e alarmes, havia retornado de um atendimento no qual o cliente não estava. Então, ele e seu auxiliar decidiram realizar algumas instalações na própria empresa, localizada na Rua Afonso Arinos, no bairro Rio Branco. No momento em que ambos estavam trabalhando que o seu colega gritou para que ele abrisse o portão da loja, pois o cão havia acabado de atacar a criança. Foi aí que o instinto de quem foi treinado para salvar vidas veio à tona.
“Eu estava em cima de uma escada e olhei o cachorro atacando o menino. Aí eu pulei de lá e saí correndo. A gente tentou tirar o cachorro de todas as formas do menino e não saía. O dono conseguiu tirar o cachorro e o guri correu para fora da casa, mas ele escapou das mãos do dono e atacou de novo o guri. Nessa hora, falamos para o dono conter o cachorro e ele conseguiu segurar novamente. Aí eu peguei a criança no colo e joguei em cima de um capô de um carro e fiquei na frente, caso o cachorro viesse”, afirma Carvalho.
Após os alertas de Carvalho e seu assistente, finalmente o cão foi contido pelo tutor e levado para o interior da residência. Porém, o menino apresentava muito sangramento em função do ataque. Graças ao aprendizado em primeiros socorros obtido na função de bombeiro, Carvalho sabia exatamente o que fazer.
“Olhei a situação do menino e gritei para pegar um pano para estancar o sangue. Abri a porta de meu carro, joguei todas as ferramentas para trás e saímos disparado em direção ao hospital e conseguimos chegar a tempo. Ele estava sangrando bastante. Até lá, mantive o pano enrolado bem fui pressionando a região onde estava saindo mais sangue em um dos braços. Mas ele estava com bastante mordidas por todo o corpo”, conta Carvalho.
No caminho do hospital, com o assistente na direção do automóvel, Carvalho relata que utilizou técnicas para manter o menino consciente.
“Ele queria desmaiar, e eu o chacoalhava e ia conversando com ele, dizendo ‘fala comigo, fala comigo’ e fazendo diversas perguntas para ele, para ele chegar acordado no hospital”, descreve Carvalho.
“Se demorasse mais tempo para o socorro, menino não teria sobrevivido”, conta o bombeiro
Ao chegar ao hospital, Carvalho e seu assistente rapidamente encaminharam o menino para atendimento e conversaram com a médica responsável pelo caso. O que a médica disse despertou o orgulho de ambos por serem responsáveis pelo salvamento de uma vida.
“Deu pra conter o sangramento e salvá-lo. Até a médica comentou que se demorássemos mais tempo, de repente não conseguiríamos chegar a tempo no hospital com o menino com vida. O primeiro atendimento é o que vai reduzir o risco de agravar a situação, como para uma hemorragia, então eu fiz o que eu pude, mesmo sem qualquer equipamento médico para isso. Com o que eu tinha na hora, eu consegui agir com rapidez e inibir um pouco do sangramento. Ali no hospital, o menino recebeu bastante bolsas de sangue e está em estado estável. Graças a deus e com o pouco de experiência que nós temos, conseguimos salvar mais uma vida”, relata Carvalho.
Ao relembrar a situação, Carvalho relata que foi impossível conter a emoção ao saber da notícia.
“Eu tenho uma filha de dois anos e o meu colega, um filho de dez. Acabamos chorando porque imaginamos se fosse com nossos filhos. É uma grande satisfação poder ajudar o próximo. A gente estava no lugar certo, na hora certa”, comenta o bombeiro herói.