
A música brasileira perdeu, neste sábado (20), uma de suas vozes mais emblemáticas. Lindomar Castilho, o “Rei do Bolero”, morreu aos 85 anos. Sua filha, Lili de Grammont, confirmou a notícia através de um emocionado post nas redes sociais.
O cantor e compositor construiu uma carreira de enorme sucesso nos anos 1970, com hits românticos que se tornaram clássicos, como “Você É Doida Demais” e “Eu Amo a Sua Mãe”. No entanto, um crime trágico em 1981 ofuscou sua fama e transformou sua história em um caso nacional.
Do interior de Goiás ao estrelato nacional
Natural de Rio Verde (GO), Lindomar Castilho seguiu uma trajetória incomum antes da música. Primeiro, cursou Direito e atuou como escrivão de polícia. O produtor Diogo Mulero, no entanto, descobriu seu talento no início dos anos 1960 e o lançou com o nome artístico que ficaria famoso.
Seu primeiro LP, “Canções que Não Se Esquecem”, saiu em 1962. Com uma voz potente e interpretações dramáticas, ele conquistou o apelido de “Rei do Bolero”. Durante as décadas de 1960 e 70, vendeu milhões de discos e emplacou uma série de sucessos. A música “Você É Doida Demais”, por exemplo, ganhou fama extra como tema de abertura do seriado “Os Normais”.
A tragédia que interrompeu a fama
A vida do artista mudou para sempre em 1981. Seu casamento com a cantora Eliane de Grammont, com quem teve a filha Lili, já havia terminado de forma conturbada. Em 30 de março daquele ano, tomado por ciúmes, Lindomar invadiu uma boate em São Paulo.
No local, ele efetuou cinco disparos contra a ex-esposa, que morreu no local. O violonista que a acompanhava, Carlos Randall, também saiu ferido. A polícia prendeu o cantor em flagrante. Posteriormente, um júri popular o condenou a mais de 12 anos de prisão, em 1984.
Um caso que virou símbolo
O crime chocou o país e gerou ampla repercussão. A sociedade passou a debater com mais intensidade a violência contra a mulher. Na esteira da comoção, o estado de São Paulo criou sua primeira Delegacia de Defesa da Mulher, em 1985. Anos depois, em 1990, surgiu o centro de apoio Casa Eliane de Grammont, em homenagem à vítima.
A tentativa frustrada de retorno
Lindomar Castilho cumpriu pena até 1996. Ainda na prisão, ele gravou o disco “Muralhas da Solidão”. Após conquistar a liberdade, sua filha o incentivou a retomar a carreira. Em 2000, ele lançou o álbum “Lindomar Castilho ao Vivo”.
O público, porém, não recebeu bem o retorno. O estigma do crime impediu uma reconciliação com os fãs e com a mídia. Assim, o artista se afastou definitivamente dos palcos e passou a viver em reclusão, em Goiânia.
O legado de uma figura complexa
A morte do cantor encerra a história de um dos personagens mais contraditórios da música popular. Ele deixou um legado musical inegável, que marcou gerações. Simultaneamente, sua vida pessoal serve como um triste marco na luta pelos direitos das mulheres.
Sua filha, Lili de Grammont, resumiu a complexidade do luto em sua publicação. “Se eu perdoei? Essa resposta não é simples…”, escreveu. “Desejo que a alma dele se cure”. A mensagem reflete o duelo entre o artista amado e o homem que cometeu um crime hediondo, um conflito que agora se encerra com sua partida.