Últimas notícias

Morre aos 84 anos, Armindo Antônio Ranzolin, histórico narrador esportivo do Rio Grande do Sul

Ranzolin nasceu em Caxias do Sul, em 1937 e fez carreira nas princiapais rádios do estado.

Morre aos 84 anos, Armindo Antônio Ranzolin, histórico narrador esportivo do Rio Grande do Sul
Foto: Reprodução

Armindo Antônio Ranzolin, 84 anos, morreu no início da tarde desta quarta-feira (17), o histórico narrador esportivo que fez carreira nos em rádios como as Guaíba e Gaúcha, em Porto Alegre.

Em janeiro deste ano, a filha de Ranzolin, jornalista e apresentadora Cristina Ranzolin, anunciou que ele sofria de Alzheimer. Ainda em 2020, ela já havia antecipado que ele não estava muito bem de saúde.

“Infelizmente meu pai tem Alzheimer, essa doença danada que no início provoca esquecimentos, aos poucos vai roubando a memória e depois vai trazendo outras complicações e limitando cada vez mais os pacientes”, escreveu Cristina.

Em sua página nas redes sociais, Cristina postou uma foto com Ranzolin junto com o texto: “Vou sentir saudade desse abraço! Vai em paz, meu pai!!! Amor infinito e eterno”, despede-se.

Histórico de Armindo Antônio Ranzolin

Nascido em Caxias do Sul, no dia 08 de dezembro de 1937, com dois anos de idade Armindo Antônio Ranzolin mudou-se para Lages/SC, onde, ainda jovem, escreveu para um jornal local sobre esporte amador. Da infância, Ranzolin manteve sempre vivas as lembranças do Repórter Esso durante a Segunda Guerra Mundial.

Com o surgimento da Rádio Nacional em 1936, uma emissora com alta potência e que cobria boa parte do território nacional, o menino de Lajes passa a descobrir o mundo pelas ondas do rádio. Ficaram na memória fatos marcantes, como as radionovelas, o noticiário político – que ouvia junto com o pai – e os fatos históricos, que trepidaram o País, entre eles, o suicídio do presidente Getúlio Vargas em 1954.

A Copa do Mundo de 1950, realizada no Brasil, é considerada uma marco no envolvimento dele e da paixão pelo futebol. Ao voltar do matiné do cinema, o garoto de 12 anos vê o pai chorando pela derrota do Brasil contra o Uruguai, em pleno Maracanã. Derrota por 2 a 1, no episódio conhecido como Maracanaço.

Ainda menino, ficou intrigado pela comoção que o fato gerou em toda a cidade. Desde então se ligou definitivamente ao futebol, tentando desvendar aquele mistério popular, que ligava as pessoas a sentimentos em jogo de ganhos e perdas. Pouco depois, com 16 anos, passou a escrever para um jornal local sobre esporte amador.

Jornalista e radialista profissional, começou a carreira como narrador de esportes, em 1956, na Rádio Diário da Manhã de Lages / SC. Ali narrou a primeira partida de futebol. Morou em Lajes até 1957, antes de ir para Porto Alegre, onde formou-se em Ciências Jurídicas e Sociais em 1962, pela Faculdade de Direito da Universidade Federal do RS.

Em 1959, Armindo Ranzolin é aprovado em um teste na Rádio Guaíba, trabalhando durante três meses em uma espécie de estágio. Na primeira vez que foi ao ar, houve um problema interno na rádio o qual não pôde ser superado. Acabou sendo dispensado no dia seguinte pelo departamento comercial. No depoimento, destaca este dia como sendo um dos mais tristes de sua vida profissional.

Incentivado por colegas, foi apresentado ao diretor da Rádio Difusora, onde se tornou o principal narrador esportivo (1959/1964). Pela Rádio Difusora, narrou seu primeiro Gre-nal em 1961. Nessa época, começou a ter a oportunidade de narrar grandes jogos. Como curiosidade, destaca queos jogos eram transmitidos por dois narradores que dividiam o campo, metade para cada um, em um sistema que era conhecido como “diagonal”.

Na Rádio Difusora, Ranzolin viveu um período complicado relacionado à vida política nacional. A renúncia de Jânio Quadros e a “Campanha da Legalidade” deflagrada pelo governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola foi a primeira crise, contornada com a implantação de um parlamentarismo tampão.

Depois de reestabelecido o presidencialismo, em 1964, eclodiu o movimento militar que culminou com a destituição do Presidente João Goulart. Após Jango partir para o exílio no Uruguai, em Porto Alegre, o Prefeito Sereno Chaise (tio da esposa de Ranzolin) passou a sofrer ameaças das autoridades que representavam o novo governo, culminando com a prisão de Chaise.

Ranzolin, ao apresentar uma reportagem sobre o assunto, na rádio, acabou entrando em conflito com os diretores da emissora que temiam represálias e não souberam diferenciar a condição do jornalista Armindo Ranzolin do parentesco que tinha com o prefeito. Inconformado, Ranzolin demitiu-se. Dias depois foi contratado pela Rádio Farroupilha como diretor de esportes e mais tarde diretor artístico (1964/1969).

Em 1969, recebe convite para ser o segundo locutor da Rádio Guaíba (1979/1984). O titular era Pedro Carneiro Pereira. Ao longo da entrevista, Ranzolin destaca os anos em que trabalhou na Rádio Guaíba como sendo muito ricos de sua vida. Em uma emissora de ponta, teve a oportunidade de participar de grandes projetos e trabalhar com renomados profissionais.

Destaque para homenagem prestada a Pedro Carneiro Pereira, talvez um dos nomes de maior projeção na história do rádio gaúcho e brasileiro, falecido num trágico acidente, durante uma corrida de carros em Tarumã, após o automóvel pilotado por ele bater e pegar fogo. O fato ocorreu em 21 de outubro de 1973. Na colisão, morreu o também piloto Ivã Iglesias.

Ele destaca a relação profissional e pessoal que manteve com Pelé, que foi o jogador de futebol mais completo de todos os tempos, o atleta do século e, talvez, um dos homens mais conhecidos do mundo, como sendo um fato marcante de sua vida. Com Édson Arantes do Nascimento, Ranzolin teve a oportunidade viver e conviver com o principal protagonista das conquistas do futebol brasileiro e mundial. Os duelos entre o Santos, de Pelé, e o Botafogo, de Garrincha, eram acompanhados de perto. Viajava sozinho sempre que os dois times jogavam e, sozinho, transmitia os jogos do Pacaembu e do Maracanã.

Ingressou na Rádio Gaúcha em 1984, onde permaneceu até a aposentadoria. Em 1974, fez a primeira Copa do Mundo como narrador, completando, em 1994 a sexta COPA (três na Rádio Guaíba, e três na Rádio Gaúcha). Dirigiu a cobertura da Rádio Gaúcha na Copa da França, em 1998.

Como âncora de programas jornalísticos, comandou as coberturas de eleições e eventos especiais em todas as emissoras onde atuou, desde 1959. Como executivo, foi Diretor de programação das Rádios Difusora e Farroupilha (1964/1968), superintendente da TV Piratini (1969). Foi diretor de programação da Rádio Guaíba (1976/1984), gerente de programação da Rádio Gaúcha (1988/1992) e Diretor da Rádio Gaúcha de 1992. Na Associação Gaúcha de emissoras de Rádio e Televisão foi vice-presidente de Rádio (1978/1984).

Fonte: Vozes do rádio