O homem que plantou a árvore da Rede Serrana de Comunicação, o Grupo RSCOM, ajudou a regar e cultivar o que hoje é a referência multimídia do interior do Rio Grande do Sul, Antônio Luis Piccoli, morre aos 64 anos. O bento-gonçalvense que levou o nome da cidade além fronteiras, nos últimos anos trabalhava em uma das emissoras de rádio do grupo, a Erreci, em Conegliano, na Itália. Lá, viveu seus últimos anos ao lado da esposa Maristela Dalsolio e da filha Giuliana Dalsolio Piccoli, de 10 anos.
Nascido em 2 de julho de 1956, fruto da união de Aquilino Domingos Piccoli e Assunta Maria Cavalet Piccoli, Antônio sempre foi inovador. De uma mente incansável e de determinação invejável, foi ele quem plantou a semente do que hoje se tornou o Grupo RSCOM.
Formado em Jornalismo e Publicidade e Propaganda, Antônio, ao lado do irmão Carlos Domingos Piccoli, de Fernando Rachele e de Alfredo Cousandier, deu os primeiros passos para a construção de uma referência em comunicação. Foi em 13 de abril de 1983, que o grupo de sócios adquiriu 40% das ações da então Rádio Difusora e a mesma quantia da Rádio Serrana, ambas de Bento Gonçalves. Ali, o sonho saía do papel e se tornava realidade.
Lembrado por muitos locutores de sucesso nos anos 80, 90 e 2000 com um dos gestores que abriu as portas do mundo radiofônico para os talentos da região, Antônio sempre gostou de desafios. E de ideias. E como ele tinha ideias, em grande parte, inovadoras.
Sempre envolvido com o rádio, Antônio e os sócios partiram para novas cidades, abrindo fundação em Flores da Cunha e a Rádio Viva FM, com sede em Farroupilha. Diversificando projetos, o Grupo RSCOM ainda, à época, obteve sucesso com os jornais – hoje extintos – Comércio do Povo e Folha da Serra, além da Revista Serrana. Antônio também esteve presente na aquisição de uma rádio em Montenegro, com ampliação do grupo para a Região Metropolitana de Porto Alegre, dial que hoje abriga a Jovem Pan 90.7 FM. Um posicionamento estratégico e com fundo histórico, por conta dos imigrantes que, de lá saíram, e chegaram a então Bento Gonçalves.
Ele foi um dos fundadores e primeiro presidente da Fundação Cultural Vale Vêneto, a Funvale, em Flores da Cunha, no ano de 1999. No ano seguinte auxiliou na constituição da Associação Rádio Comunitária Nova Trento, sendo a primeira rádio FM de Flores da Cunha, inaugurada em 2003.
Há 15 anos, o Grupo RSCOM rompeu as fronteiras do Brasil. Ao receber a proposta para adquirir uma rádio na Itália, os fundadores Antônio, Carlos, Fernando e Alfredo, iniciavam uma nova trajetória. Agora, em continente europeu. Como Fernando Rachele não pôde tomar conta do novo produto por questões burocráticas envolvendo, naquele momento, a cidadania italiana, Antônio abraçou a causa e mudou-se para a Itália. Ao lado de Renato Nichetti, Antônio soube encarar mais um desafio na trajetória pessoal e profissional ao conduzir, com maestria, mais uma emissora do conglomerado de rádios.
Há cerca de cinco anos, Antônio Piccoli foi diagnosticado com um tipo raro de câncer na região da garganta. Após uma grande luta, venceu e foi considerado curado. Porém, a doença retornou, atingiu o braço e, após uma metástase, atingiu o pulmão. Antônio ainda foi acometido por uma pneumonia e esteve hospitalizado nos últimos dias.
Emocionado, o irmão e hoje superintendente do Grupo RSCOM, Carlos Domingos Piccoli, relatou que Antônio estava realizado profissionalmente. Carlos divulgou parte de uma mensagem que mandou para o irmão em seus últimos dias, palavras que chegaram a Antônio por meio da esposa Maristela.
“Antônio, é difícil encarar. A árvore RSCOM que cuidamos hoje, foi plantada por ti. Foram plantadas outras, que deixaram seus frutos e depois deixaram de existir. Ficamos de plantar muitas outras, mas as mudas chegaram e foram esquecidas. Teve árvores plantadas que não deram seu fruto ainda, mas a esperança continua. Tudo sempre foi pensando em um bem maior e acima de nós. Que a saudade das lutas boas e vencidas, e que as derrotas não sejam esquecidas, mas sim trocadas pelas alegrias e forças que nos levam a chegar até aqui. A alegria de estarmos juntos lutando por um mundo melhor. Poderíamos ter feito mais? Sim, talvez. Mas ,o que foi feito, foi com carinho e muito amor”.
O sobrinho e hoje diretor-geral do Grupo RSCOM, Marcos Dytz Piccoli, reforça o sentimento sonhador de Antônio que, além de visionário e conquistador, deixa um legado extremamente importante para a comunicação gaúcha.
“Um sonhador, batalhador, visionário querido por todos. Foi, junto a Fernando Rachele, quem iniciou o sonho da RSCOM com Carlos Domingos Piccoli. A comunicação social, a radiodifusão perde um líder”, salienta.
O diretor artístico da Rádio Viva, Jorge Luis Ranci, lembrou de quando começou a trabalhar no Grupo RSCOM, ao lado de Antônio Piccoli. Em 1986, ambos editavam a Revista Serrana, que tinha uma tiragem quinzenal. Logo depois, eles passaram a trabalhar com o Jornal Folha da Serra, que circulava diariamente. Jorge fala com carinho do colega de trabalho que virou amigo, com quem residiu entre os anos de 1989 e 1992, em Flores da Cunha, ao trabalharem, mais uma vez, juntos. Desta vez, na Rádio Vêneto.
“O Antônio era um cara muito pra cima, de alto astral, sempre disposto a ajudar, a qualquer hora do dia. Minha relação com ele não era apenas de trabalho, éramos amigos, amigos pessoais”, diz Ranci.
Antônio também foi professor de Jornalismo na Pontifícia Universidade Católica (PUC), em Porto Alegre, e diretor do Sesc em Bento Gonçalves e Santa Maria.
Além da esposa Maristela e da pequena Giuliana, Antônio Luis Piccoli deixa os irmãos Carlos, Beatriz e Silvana e a mãe, Dona Assunta. Ainda não há informações sobre os atos fúnebres.
Texto: Maicon Rech e Cristiano Lemos