“Destruir” a inflação e privatizar: o ultraliberal Javier Milei, eleito presidente da Argentina em um triunfo contundente, começou nesta segunda-feira (20) a definir as suas primeiras medidas de governo para enfrentar a crise econômica.
A inflação elevada, de mais de 140% ao ano, será uma longa luta que exigirá “entre 18 e 24 meses para destruí-la e levá-la aos níveis internacionais mais baixos”, disse ele em declarações a rádios.
O seu primeiro passo será empreender uma forte reforma do Estado que incluirá privatizações, indicou.
“Tudo o que puder estar nas mãos do setor privado vai ficar nas mãos do setor privado”, declarou, e apontou entre as empresas a serem privatizadas a petrolífera YPF e os veículos de comunicação estatais.
“Vamos começar primeiro pela reforma do Estado, colocar em caixa as contas públicas muito rapidamente”, acrescentou.
Transição
Milei deve se reunir com o presidente peronista de centro-esquerda, Alberto Fernández, para iniciar a transição governamental que ele espera “ser tão ordenada quanto possível” até sua posse, em 10 de dezembro.
Ambas as equipes definirão em breve uma data para esse encontro.
“Está comprovado que a maioria dos argentinos quer mudanças”, disse à AFP Oscar Sario, um aposentado de 68 anos.
Desde 2003, a Argentina é governada pelo peronismo da atual vice-presidente e duas vezes presidente Cristina Kirchner, exceto no período do direitista Mauricio Macri (2015-19).
A vitória de Milei não teve efeito imediato nos voláteis mercados argentinos, já que esta segunda-feira é feriado no país. No entanto, as ações argentinas cotadas em Wall Street registraram forte alta, com destaque para a petrolífera estatal YPF.
O presidente eleito anunciou que antes de sua posse viajará, de maneira privada, para os Estados Unidos e Israel.
No domingo, este economista de 53 anos, que iniciou a sua carreira política há apenas dois anos, venceu com 55% dos votos, em comparação com 44% do ministro da Economia e candidato peronista, Sergio Massa.
“Hoje começa a reconstrução da Argentina. O modelo de decadência chegou ao fim. Não há volta atrás. Chega do modelo empobrecedor da casta, hoje abraçamos a liberdade para voltar a ser uma potência mundial”, disse Milei em seu primeiro discurso como presidente eleito diante de uma multidão fervorosa.
Desafios
Os seus principais desafios serão reduzir a inflação, equilibrar as contas públicas, eliminar o controle cambial e cortar o gasto público. Propõe metas mais duras que as do Fundo Monetário Internacional (FMI), organização com a qual a Argentina tem um acordo de 44 bilhões de dólares desde 2018 (cerca de 214 bilhões de reais na cotação atual).
A diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, parabenizou Milei nesta segunda-feira.
“Esperamos trabalhar estreitamente com ele e com a sua administração no próximo período para desenvolver e implementar um plano sólido para preservar a estabilidade macroeconômica e fortalecer o crescimento inclusivo para todos os argentinos”, escreveu ela na rede social X.
Milei deseja acabar com os subsídios aos serviços públicos e eliminar os impostos à exportação.
Ele também garantiu que promoverá o fim do controle cambial estabelecido em 2019, mas primeiro quer quitar a dívida emitida pelo Banco Central, por meio de títulos.
Sobre o Banco Central, Milei reiterou que será suprimido “porque é uma questão moral: roubar é errado”.
Quanto à ideia de dolarizar a economia, nesta segunda-feira foi mais ambíguo. “O eixo central é fechar o Banco Central, então a moeda será aquela que os argentinos escolherem livremente”, afirmou.
Milei avisou que iniciará as suas reformas imediatamente porque “não há espaço para o gradualismo, para a tibieza ou para meias-medidas”.
Mas requer um forte apoio político. Embora tenha obtido uma votação importante nas eleições parlamentares parciais de outubro, o seu partido A Liberdade Avança tem apenas sete dos 72 senadores e 38 dos 257 deputados, portanto dependerá de alianças.
No segundo turno, Milei contou com o apoio de Macri e da ex-candidata Patricia Bullrich, da coalizão de centro-direita Juntos pela Mudança, a segunda força parlamentar que foi, no entanto, quebrada por esta decisão.
Fonte: AFP