Eu confesso pra vocês que eu faço parte daquela minoria que assiste a programa eleitoral gratuito. Sim, eu assisto sempre que posso, e não faço distinção de raça, crença, cor, time de futebol ou ideologia de gênero. Eu assisto a todos, desde o mais nanico até a mais poderosa sigla das galáxias.
E sei lá se isso acontece por força da profissão ou porque talvez eu seja mesmo um pouco masoquista, mas a verdade é que, sim, eu confesso: eu assisto aos programas eleitorais.
Os nanicos são interessantes e tem lá a sua graça. Tá certo, nenhum eleitor que se preze dá bola pra eles, pras promessas mirabolantes, pra defesa de pontos de vista que agradam a uma pequena minoria e que, por isso mesmo, não dão a eles a mínima chance de prosperar.
É claro que há riscos, porque sempre tem um nanico mais ousado, um collor caçando marajás, um bolsonaro atirando a esmo na esquina, um tiririca pronto pra te convencer de que yes, nós podemos, quando a verdade é que ele só tá repetindo na tua cara que yes, nós temos banana.
Mas são os grandes que nos surpreendem e amedrontam mais. Esses dias, vi o programa do PT vestindo azul bebê pra repetir as conquistas do partido no governo, prometendo voltar e garantindo que o Lula é bom, é honesto, é santo e salvador e talicoisa pra quem ainda acredita em duendes.
Algum tempo atrás, vi os tucanos querendo desembarcar do governo temeroso pedindo desculpas por ter cedido ao fisiologismo que marca o partido até hoje e dizendo que agora é pelo Brasil, e aí então caiu a ficha: então antes não era?
Mas eu confesso pra vocês que nada me estarreceu tanto do que ver esses dias o programa do moeda de troca PTB capitaneado pelo honestíssimo (sqn) Roberto Jeferson depois que saiu da cana do mensalão pra mostrar que o país é mesmo feito de pouca memória, e pra provar que eles devem mesmo acreditar que a gente não lembra que o cara só dedurou a tramoia do mensalão porque o cupincha dele foi pego recebendo propina nos Correios.
Mas olha que o que derrubou definitivamente todos os butiás do meu bolso foi ver o PMDB do Eduardo Cunha, do Sergio Cabral, do Eliseu Padilha, do recorde em tornozeleiras eletrônicas, do qual será o preso de hoje, dizer na maior cara de pau que o temeroso presidente é vítima de armação, que ele é atacado porque querem destruir o homem bom que está colocando o Brasil nos trilhos, e que ele – pasmem, senhoras e senhores – tirou o país do vermelho.
E então eles falam nos números da inflação só pra inglês ver e que não encontram eco nos preços do mercado, do gás e da gasolina, ou nos juros mais baixos que mostram mais a recessão econômica do que a retomada do crescimento e querem que a gente engula em seco mais essa eles patrolam o povo a serviço do dinheiro.
E aí eu lembro do rombo de 159 bilhões de reais nas contas públicas previsto pra esse ano e começo a pensar que os caras vivem em outro mundo, e aí me dou conta que a propaganda deve falar que o PMDB tirou o país do vermelho do PT, e que esse é então o orgulho da traição, pois até ontem o PMDB era o principal avaliador/apoiador/parceiro/cúmplice do governo do PT.
E então me dou conta definitivamente de que é tudo farinha embolorada do mesmo saco de gatos que, não importa a hora, sempre serão pardos.
E a verdade nua é que branco ou preto, vermelho ou azul, esses programas servem mais pra confundir e enganar do que pra esclarecer e orientar. É sempre a realidade alternativa do marketing, o mundo da fantasia da propaganda.
De volta ao mundo real, você espreme e não sai nada.
Quer saber? A saída é deixar de assistir.