A importância da cadeia produtiva do vinho na região de Bento Gonçalves

Grupo RSCOM realiza matérias especiais para marcar o Dia do Vinho

Publicado por
08:40 - 01/06/2021

Compartilhar:

Facebook Twitter Whatsapp

A região de Bento Gonçalves e Monte Belo do Sul são reconhecidas pela parreiras de viníferas que cobrem seu território e oferecem excelente matéria-prima para os vinhos de excelência da região.

Emancipado há 29 anos, Monte Belo do Sul é um município pequeno e jovem. São pouco de mais de 2.500 habitantes e uma área de 67.770 km² com um tremendo diferencial sobre a grande maioria das cidades com o mesmo porte: a quase totalidade do seu território faz parte da primeira denominação de origem de vinhos no Brasil. E não se pense que isto é por algum favor. Não é. As parreiras de viníferas que cobrem seu território oferecem excelente matéria-prima para os vinhos de excelência da região.

Hoje a cidade tem 42 empreendimentos ligados ao agroturismo: são vinícolas – reunidas em torno da Aprobelo – restaurantes, cafés, hospedarias e, em breve um moderno hotel. Ou seja, a riqueza advinda da uva e do vinho multiplicou oportunidades que um povo com disposição ao trabalho, aprendida durante décadas seguidas a partir da imigração, soube aproveitar.

Às boas práticas na parreira, com a colheita de safras gordas e doces mostraram que era possível agregar valor ao trabalho. Daí surgiram as pequenas vinícolas familiares: Faé, Calza, Fantin, Moro, Megiollaro entre outras. Posteriormente grupos empresariais vieram com dinheiro de fora e viram, além das lindas paisagens, oportunidades para multiplicar seus recursos.

A municipalidade sempre esteve de olho e ao lado deste exponencial crescimento e multiplicação de negócios. Talvez um dos passos mais importantes neste sentido de aproveitar o turismo como negócio foi a contratação da especialista Ivane Fávero, que elaborou o plano estratégico para o desenvolvimento do setor. “Estamos fazendo um novo pórtico na entrada da cidade, tempos um bom trabalho de infraestrutura para permitir o conforto dos moradores e assim também melhor receber os visitantes que chegam cada vez em maior número nos finais de semana à cidade”, lembra o prefeito Adenir Dallé. Ele não contém a alegria ao citar que o antigo hotel Brasil, depois hotel Bruschi, bem no centro da pequena cidade, em no máximo dois anos, será transformado em moderno hotel com 74 apartamentos. “Dinheiro vindo de fora e que vai preservar a parte antiga na frente e fazer um prédio novo no terrenos dos fundos”.

Na Don Laurindo, a palavra de ordem é qualidade. Ela é um ícone do vinho brasileiro e um exemplo para quem busca uma empresa familiar de pequeno porte com robustez financeira e profissionalismo.

A origem, como costuma ocorrer na região da serra gaúcha, está nos parreirais implantados pelos imigrantes italianos e seus descendentes. Junto com o pai Laurindo, foi o enólogo Ademir Brandelli, apoiado por seus irmãos, quem deu o passo decisivo para a elaboração de vinhos próprios. “Desde quando eu estava nos bancos escolares de enologia no final dos anos 70 eu tinha este sonho de fazer minha própria vinícola e a ideia sempre foi elaborar produtos superiores amparados na qualidade”. O sonho é uma realidade que se consolida safra a safra desde 2001.

Hoje a Don Laurindo é tocada pelo próprio Ademir, um reconhecido jurado nos concursos internacionais mais importantes, com os dois filhos, o enólogo Moisés e o engenheiro agrônomo Lucas. Ou seja, a sucessão familiar, um desafio constante no mundo dos negócios, está bem encaminhada. Ainda no final de maio os clientes que forem até a Don Laurindo, no Vale dos Vinhedos, vai encontrar folhas verdes nas parreiras, algo pouco visto nesta época. “Isto é prova dos cuidados que temos, os tratamentos são constantes e ajudam a garantir uva de qualidade, toda a nossa produção vem de 15 hectares da própria empresa”, orgulha-se Ademir.

Anualmente a Don Laurindo elabora 120 mil garrafas de vinhos de castas nobres, sejam eles espumantes ou vinhos tranquilos. Mesmo com preços “premium” (a partir de R$ 80,00 por garrafa) a cada safra o estoque praticamente se esgota. É um ciclo virtuoso: qualidade que traz preço e reconhecimento, gerando renda para mais investimento em qualidade. Os clientes aprovam e pedem mais um cálice.

Já na Vínicola Batistello,  situada no Vale dos Vinhedos na localidade do Oito da Graciema, bem na divisa entre Bento e Garibaldi. Encontra-se uma empresa familiar que passou do plantio de uva à elaboração de seus próprios vinhos e em 15 anos é prova de que o trabalho abnegado é compensador

Criada em 2005 pelos irmãos Roberto, Airton e Renato Batistello, a vinícola utiliza apenas uvas de castas nobres e plantadas pela família. São 11 hectares próprios mais a produção de primos em terras da mesma microrregião. É Roberto Battistelo, que se envolve em todos o processo do negócio quem lembra como a decisão de vinificar a própria uva foi importante: nossos primos, por exemplo, forneciam a produção a uma grande vinícola da região que passou a usar apenas uvas de suas próprias parreiras, então nos passamos a usar esta produção”.

Os irmãos Batisttelo formam a terceira geração de uma família que respira parreira desde muito cedo. “Aprendemos a plantar, erguer a parreira, tratar, colher e agora vinificar. Também apreciamos nosso produto nas refeições, que é uma forma de acompanhar a evolução da bebida”, faz notar o viticultor. São 120 mil litros anuais, seja em garrafa ou em bags, uma produção sai toda em um, no máximo dois anos. “antes a gente corria bastante pra vender, hoje os clientes vêm até nós”, celebra Roberto.

Ele se orgulha da evolução que percebe ano a ano e que é aprovada pelo consumidor. “Nós aprendemos muito com quem está há mais tempo no negócio. Evoluímos bastante nestes 15 anos, passamos a comprar clones melhores e se uma vez era difícil colher um cabernet sauvignon com 17 ou 18º babo, hoje alcançar os 20 ou 21º de açúcar é normal. Isto resulta num produto melhor. Este ano nenhum vinho nosso vai para o bag in box, todos serão engarrafados”, comemora Roberto, afinal o valor final aumenta. Agora mesmo a vinícola já está adequando espaços para novas adegas, onde será feita a guarda das garrafas.

As mudanças internas na empresa atestam que as duas últimas safras foram muito boas: novas barricas de carvalho importadas da França estão sendo acomodadas e uma linha de engarrafamento própria é motivo de orgulho para a família de vitivinicultores.

Para a maturação de bons vinhos é preciso boas pipas. E encontramos isso em Monte Belo do Sul em uma empresa que preserva a arte ancestral de fabricar os vasilhames em madeira.

Na terceira geração e crescendo sempre, A Tanoaria Mezacasa foi criada há 57 anos por Miguel Mezzacasa. Hoje o seu filho Eugênio, que consolidou o negócio e o trouxe para a área urbana de Monte Belo do Sul assiste com alegria ao filho Mauro se apropriar do negócio e pensar na diversificação das atividades.Mauro é sommelier formado e aprendeu o ofício de tanoeiro com o pai. Mais dedicado à administração do negócio não se furta, entretanto, em por a mão na marreta e no passel para colocar os arcos nas pipas feitas com madeira de carvalho, amburana, grápia ou bálsamo. As pipas dão complexidade a vinhos nobres hora extraindo, hora emprestando notas ricas no aroma e no retrogosto.

Enquanto na região de Bordeaux, na França é possível encontrar até seis dezenas de tanoarias, no Brasil a profissão é cada vez mais rara. “A viticultura usa as pipas mas não há uma escala muito grande, pois apenas os melhores vinhos são envelhecidos nas pipas. Então diversificamos e temos hoje como principais clientes as cachaçarias” explica Mauro.

Atualmente os Mezacasa, auxiliados por seis funcionários e num prédio com dois mil metros quadrados, constroem ou reformam uma média de 90 barricas por semana. Das grandes destinadas à indústria, às de um ou cinco litros para os apreciadores de uma cachaça envelhecida.

E é esta associação com alguns de seu principais clientes assim como a vista exuberante que se tem da sacada da empresa, que em breve também a Mezzacasa vai embarcar no negócio do enoturismo. “Pretendemos ter visitas guiadas à nossa empresa com degustação e venda de produtos”. Revela um entusiasmado Mauro.

 

(Fotos: Grupo RSCOM)

Compartilhe nas suas redes

Facebook Twitter Whatsapp