Mais de um ano após as chuvas de maio de 2024 destruírem trechos importantes da malha viária da Serra Gaúcha, prefeitos da região intensificam a mobilização para cobrar do Estado ações urgentes em infraestrutura. O foco recai sobre a BR-470, que segue com trechos bloqueados à noite e opera no sistema pare e siga durante o dia, entre Veranópolis e Bento Gonçalves.
A lentidão na recuperação da rodovia principal empurrou o tráfego pesado para vias secundárias, como as RS-355 e RS-359, que passam por Vista Alegre do Prata, Fagundes Varela e Cotiporã. Essas estradas, que não foram projetadas para suportar o atual volume de veículos pesados, enfrentam desgaste acelerado e risco de sucateamento.
Prefeitos, junto com o Corede Serra (Conselho Regional de Desenvolvimento), decidiram levar a pauta ao governo estadual e ao Fundo do Plano Rio Grande (Funrigs), que já conta com R$ 3,2 bilhões em recursos para enfrentar os danos causados por eventos climáticos extremos.
A prioridade do grupo é garantir a execução de obras como a conclusão da RS-437, ligando Vila Flores a Antônio Prado. O trecho, segundo os gestores, será estratégico para desafogar a BR-470 e criar uma rota permanente de ligação entre o norte e o sul da Serra. Outras obras reivindicadas incluem novas pontes sobre o Rio das Antas e o término de estradas que conectam municípios como Serafina Corrêa, União da Serra, Protásio Alves e Ipê.
Impactos e Demandas dos Prefeitos da Serra Gaúcha
“Não podemos depender unicamente da BR-470. Precisamos fortalecer a estrutura regional com rotas seguras e modernas, que hoje funcionam como alternativa e amanhã serão vitais para o desenvolvimento”, afirma o prefeito de Fagundes Varela, Nelton Carlos Conte. Ele lembra que o tráfego forçado para rotas secundárias já compromete a integridade dessas vias. “No ritmo atual, essas estradas não resistem por mais dois ou três anos. E os municípios não têm recursos para bancar a manutenção com o nível de uso que enfrentam.”
Além da questão logística, os prefeitos apontam reflexos diretos no acesso à saúde. Com os gargalos na BR-470, moradores precisam sair com até uma hora de antecedência para conseguir atendimento em hospitais de Bento Gonçalves e Caxias do Sul — polos em serviços oncológicos, cardiológicos e outras internações de alta complexidade. A situação também afeta estudantes universitários, que enfrentam atrasos para chegar às instituições de ensino.
Judicialização da Saúde e Contas Públicas Municipais
Outra pauta que preocupa os gestores municipais é o impacto da judicialização da saúde nas contas públicas. A demora dos governos estadual e federal em garantir atendimento de média e alta complexidade tem levado pacientes a acionar a Justiça para garantir tratamento. Quando a Justiça determina o atendimento, os municípios — cuja responsabilidade legal limita-se à atenção básica — acabam arcando com metade dos custos.
“As decisões judiciais bloqueiam até 50% dos repasses para os municípios. Estamos gastando além da nossa função constitucional. Já comprometemos entre 20% e 22% do orçamento com saúde, e ainda precisamos cobrir o que o Estado não cumpre”, critica Conte. Segundo ele, o cenário exige um posicionamento do Judiciário sobre as responsabilidades de cada ente federativo. “Se isso não for resolvido, o colapso não será só nas estradas, mas também nos serviços públicos locais.”
Veja as obras viárias consideradas prioritárias pelos prefeitos da Serra:
- Conclusão da RS-437 (Vila Flores–Antônio Prado)
- Construção da ponte entre São Valentim do Sul e Santa Tereza
- Modernização da RS-431 (São Valentim do Sul–Bento Gonçalves)
- Conclusão da estrada entre Protásio Alves e Ipê
- Nova ponte sobre o Rio das Antas (Bento Gonçalves–Veranópolis)
- Conclusão da BR-470 (André da Rocha–BR-285 em Lagoa Vermelha)
- Conclusão da estrada entre Serafina Corrêa e União da Serra
Enquanto aguardam respostas concretas do Estado, prefeitos seguem pressionando para transformar rotas emergenciais em eixos permanentes de integração e desenvolvimento para a Serra Gaúcha.