Foto: Yago de Boni/Grupo RSCOM
Foto: Yago de Boni/Grupo RSCOM

Serra Gaúcha - A Rota do Sol, principal ligação entre a Serra Gaúcha e o Litoral Norte do Rio Grande do Sul, registra fluxo intenso de veículos com a chegada da temporada de verão. Com o aumento do movimento, ficam ainda mais evidentes problemas históricos de infraestrutura, que seguem presentes ao longo da rodovia e impactam diretamente a segurança de quem trafega pelo trecho.

Pista desgastada e riscos permanentes

Em acompanhamento realizado pela reportagem do Grupo RSCOM ao longo do trecho em Caxias do Sul, foi possível constatar que as condições da pista permanecem precárias. Buracos, desníveis e rachaduras no asfalto estão distribuídos em diferentes pontos da rodovia, obrigando desvios constantes e redução de velocidade, especialmente nos horários de maior fluxo.

Outro fator que agrava um cenário já conhecido é a sinalização insuficiente. Em vários trechos, as faixas de rolamento seguem desgastadas, o que compromete a leitura da via, principalmente durante a noite ou em dias de chuva.

Para Marco Martini, ex-caminhoneiro e morador de Vila Seca, que atualmente trabalha com serviços de guincho e borracharia na região, a falta de visibilidade e as condições do asfalto estão diretamente ligadas aos acidentes e aos prejuízos.

“Quando chove, tu não enxerga a faixa do meio, não enxerga. Não enxerga nada, não tem visibilidade nenhuma da estrada”, relata.

Problema constante e prejuízo diário

Segundo Marco, os impactos da má conservação da rodovia são sentidos diariamente por quem vive e trabalha às margens da Rota do Sol. Ele afirma que a demanda por guincho e troca de pneus aumenta, especialmente durante a temporada de verão.

Todo dia chega. Todo dia chega carro”, diz, ao relatar a frequência de atendimentos por pneus danificados. “É pneu rasgado, é roda torta, é umas coisas feias de ver”, completa, atribuindo os danos aos buracos na pista.

Marco também critica a forma como os reparos são feitos ao longo do tempo.

“Eles largam, mal é mal, um pichezinho por cima ali e azar. Depois, que se lasque nós”, afirma.

Trechos mais críticos

De acordo com o morador, o trecho entre Vila Seca e Lajeado Grande concentra parte significativa dos problemas enfrentados pelos motoristas.

“O trecho mais crítico da Rota do Sol é daqui até Lajeado Grande. Depois passa Lajeado Grande e já melhora um pouco o asfalto”, relata.

Ele lembra ainda de um buraco específico próximo a um radar da rodovia.

“Tinha um buracão ali que dava a pista inteira. Era direto carro chegando aqui pra trocar pneu”, diz.

Desgaste dos veículos

Com experiência como caminhoneiro, Marco afirma que as más condições da estrada aceleram o desgaste dos veículos, aumentando custos de manutenção.

“Aqui é uma buraqueira, tem que estar desviando. Um caminhão pesado cai no buraco, é amortecedor, é mola, tudo vai atrasando”, explica.

Segundo ele, a diferença é clara quando se trafega por rodovias melhor conservadas.

“Tu passa em Santa Catarina, o asfalto é um tapete. Não tripida o caminhão, não frouxa parafuso”, compara.

Anúncios de obras e o que está em andamento

Em meio às críticas e relatos, o governo do Estado tem reiterado anúncios de investimentos na Rota do Sol. Durante a Expointer, foi divulgado um pacote de recursos do Fundo da Reconstrução (Funrigs) que inclui R$ 250,4 milhões para a rodovia, divididos entre os trechos de Caxias do Sul a Lajeado Grande e de Lajeado Grande a Tainhas.

Posteriormente, o governador Eduardo Leite descartou a possibilidade de federalização da Rota do Sol e afirmou que a recuperação será feita com recursos estaduais, com investimento total estimado em R$ 393 milhões.

O que diz o Daer

Procurado pela reportagem, o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer-RS) informou que estão em execução obras para a implantação de dois postos fiscais do Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM) na RSC-453, no km 251, e na ERS-486, no km 32. O investimento supera R$ 7,6 milhões, com previsão de conclusão até o primeiro semestre de 2026. As intervenções ocorrem na faixa de domínio e podem causar interrupções parciais no trânsito.

O Daer também reafirmou que a recuperação completa da Rota do Sol, entre Caxias do Sul e Itati, será realizada com recursos do Funrigs. Segundo o órgão, os trechos entre Caxias do Sul, Lajeado Grande e Tainhas seguem em fase de elaboração de projeto, com início das obras previsto após o período de veraneio ou ao longo de 2026.

Atualmente, conforme o Departamento, estão sendo realizados serviços preliminares, como roçada, tapa-buracos e limpeza de sistemas de drenagem.

Cenário que persiste

Enquanto as intervenções estruturais não saem do papel, motoristas seguem enfrentando uma realidade que não é nova na Rota do Sol, mas que se torna mais evidente em períodos de maior movimento: pista desgastada, sinalização limitada e risco constante.

Os relatos de quem vive da estrada reforçam que, além dos anúncios e dos projetos, a cobrança principal segue sendo por segurança viária efetiva para quem trafega diariamente pela rodovia.