Bento Gonçalves

Vinhos em alta, muitas novidades e feira encerra com recorde em negócios

A Wine South America encerrou mostrando que as vinícolas nacionais buscaram criatividade e novos lançamentos para enfrentar desafios de uma economia que só agora dá sinais de recuperação

vinhos em alta
Crédito Vagão Filmes

Vinhos em alta. O que parece ser um mantra para que o setor nunca desacredite de suas capacidades e valor,  encontrou eco na realidade durante os três dias de realização da  4ª edição da Wine South America encerrada na quinta-feira (14), em Bento Gonçalves. A feira confirmou ser excelente plataforma de negócios para o mundo do vinho com a presença de mais de sete mil compradores de todos os Estados e de 22 países. Também o setor de serviços de Bento Gonçalves se beneficiou do evento.

Durante a realização dos paineis propostos pela organização, executivos das empresas, enólogos e convidados das mais diversas áreas traçaram um raio- X do setor. Uma  das conclusões é que se a economia do ais não permite comemorações e a inflação foi a grande vilão de tempos recentes, este é um período que começa a ficar para trás. Ainda que o desempenho medido no primeiro semestre do ano não seja o melhor, as vendas das vinícolas estão superiores ao período pré-pandemia e na visão dos debatedores, 2024 tende a ser melhor.

A feira promoveu mais de 2 mil reuniões de negócios em Projetos Comprador nacionais e internacionais. Somadas, as iniciativas superaram as expectativas e geraram mais de R$ 50 milhões em negócios para o setor vitivinícola. “Recebemos aqui na Serra Gaúcha os principais compradores de redes supermercadistas, lojas especializadas, hotéis e restaurantes conceituados de todas as regiões do Brasil, além de importadores de mais de 22 países”, afirma Marcos Milaneze, diretor da Wine South America. Ele ainda garantiu a realização da próxima edição do evento em 2024.

Possível majoração de impostos preocupa

Vinhos de 360 marcas nacionais e internacionais participaram da WSA. A feira contou com rótulos de 20 países, sendo eles: África do Sul, Argentina, Áustria, Bulgária, Chile, Espanha, Estados Unidos, França, Geórgia, Grécia, Itália, Macedônia, Moldávia, Nova Zelândia, Portugal, Romênia, Sérvia, Síria e Uruguai e, claro, Brasil.

Um dos grandes diferenciais da WSA é propiciar uma experiência única para o comprador, possibilitando conhecer o território, as vinícolas e todo o processo de produção dos rótulos. “A importância de realizar uma feira internacional na maior região produtora de vinhos do Brasil é que com ela, o mundo todo consegue conhecer in loco toda qualidade dos vinhos e espumantes que produzimos”, destaca Daniel Panizzi, vice-presidente do Instituto de Gestão, Planejamento e Desenvolvimento da Vitivinicultura do Estado do Rio Grande do Sul (Consevitis-RS).

Panizzi que também preside a Uvibra também participou como painelista nos debates a e apresentou uma das maiores preocupações do setor: a possibilidade de majoração nos já elevados impostos. Atualmente há o riso de  o produto ser enquadrado na categoria de imposto seletivo de produtos prejudiciais à saúde. “Estamos acompanhando de perto a elaboração das leis complementares à reforma tributária. Se já não temos muita esperança de ver o vinho enquadrado como alimento, também não queremos ser equiparados a outras bebidas, afinal, nossa cadeia produtiva tem o sustento de 70 mil pequenos agricultores, é preciso um enquadramento com vantagens que nos permita concorrer com produtos estrangeiros. Panizzi lembra que hoje a carga de impostos da bebida chega a 41% enquanto  Portugal – que é o a terceira maior origem de vinhos importados pelo Brasil, a carga é de 13%. Isto sem falar em  países onde além da carga ser mais baixa,

vinhos em alta

ainda há incentivos/subsídios ao setor . Na comparação com a indústria da cerveja, por exemplo, o enólogo Diego Bertolini lembra que o setor cervejeiro tem basicamente três grandes players no mercado, contra 1.100 vinícolas.

Vinhos, espumantes e suco de uva, integraram o rol de expositores. Mas além deles, os setores de azeite de oliva e cachaça. Os compradores também tiveram acesso a novidades do setor, como vinhos sem álcool, e novas formas de consumir a bebida, promovendo uma experiência de compra através da inteligência artificial.

Terroirs de todo o Brasil foram apresentados na WSA

A diversidade e a qualidade dos vinhos nacionais puderam ser conferidas em diversos pontos desta edição da WSA. A Campanha Gaúcha, por exemplo, localizada na fronteira com a Argentina e o Uruguai, se consolida ano a ano dentro da vitivinicultura, surpreendendo cada vez mais pela qualidade de seus vinhos, premiados nacional e internacionalmente. E oito das vinícolas que fazem parte da Associação Vinhos da Campanha Gaúcha – Batalha, Bodega Sossego, Campos de Cima, Dom Pedrito, Dunamis, Guatambu, Peruzzo e Pueblo Pampeiro marcaram presença na Wine South America. “O evento foi um sucesso para as vinícolas da região porque é sempre um momento muito importante onde as vinícolas mostram o que há de melhor produzido na Campanha e têm contato pessoalmente com os clientes, importadores, imprensa, fornecedores. Para nós, a Wine é a maior feira da indústria do vinho no Brasil e nos possibilita ter esse feedback positivo das pessoas que visitam o nosso estande”, avalia Pedro Candelária, presidente da Associação Vinhos da Campanha Gaúcha.

A Serra Gaúcha, palco do evento e principal região produtora de vinhos e espumantes do país, contou com dezenas de marcas representantes. A Cooperativa Vinícola Garibaldi apresentou na feira sete produtos: três vinhos e quatro espumantes. “Vimos na WSA uma oportunidade de fortalecer, ao mesmo tempo, os lançamentos do portfólio, os negócios a eles relacionados, o potencial do enoturismo na região e, ainda, reafirmar os valores e propósitos que norteiam o trabalho. A crescente e continuada evolução da vitivinicultura brasileira tem contribuído para desconstruir muitos mitos no setor. O primeiro é a questão da qualidade como mérito exclusivo de rótulos internacionais. Outro é de que bons produtos são, obrigatoriamente, aqueles com valor elevado”, destaca Maiquel Vignatti, gerente de Marketing da Cooperativa Vinícola Garibaldi.

Além do Rio Grande do Sul e Santa Catarina que esteve representado com Progoethe e Vinhos de Altitude, regiões produtoras de outros Estados brasileiros puderam ser conhecidas pelos compradores no estande Terroir Brasil, viabilizado pelo Sebrae Nacional. A iniciativa reuniu 20 vinícolas expositoras de estados como Paraná, Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo, Bahia e Pernambuco. “A gente não costuma receber compradores de outros pontos do país na nossa vinícola porque nosso público é essencialmente de São Paulo, então para nós é bem positivo expandir a rede de contatos e ser visto por outros locais. O pessoal gostou bastante do nosso terroir porque nós trabalhamos com a técnica de dupla poda. Ela traz uma qualidade diferente para o vinho, o que nos rendeu rótulos que foram premiados inclusive”, comenta Alyce Oragio, comercial da vinícola Terrassos, que fica na Serra da Mantiqueira, da cidade de Amparo, São Paulo.

 

Expositores estreantes e outas novidades

Estreando na WSA neste ano, a Chandon, aproveitou o evento para celebrar os 50 anos de sua instalação  no Brasil em 2023. Outra aniversariante, a Vinícola Boscato, 40 anos, teve pela primeira vez uma participação solo em que os vinhos e o experiente e reconhecido enólogo Clóvis Boscato foram atrativos

Presente nas quatro edições da WSA, a Cooperativa Vinícola Aurora considera a participação na feira deste ano “enriquecedora e gratificante”. “O networking foi uma das maiores vantagens da participação. Tivemos a oportunidade de conhecer muitos profissionais, e trocar experiências e ideias valiosas”, avalia Rodrigo Arpini Valerio, gerente Geral de Marketing e Vendas da cooperativa.

Outro expositor que participou de todas as edições, o Grupo Famiglia Valduga, apresentou na WSA a sommelier virtual Val. “A Val é uma inteligência artificial, que vai contribuir junto à jornada do cliente, promovendo uma experiência de compra humanizada guiada por curadoria e escolhas certeiras”, explica Eduardo Valduga, diretor do Grupo Famiglia Valduga.

Ao todo, rótulos de 20 países foram representados na WSA. Entre os destaques internacionais estão o pavilhão da Itália, promovido pelo ICE-ITA; e os estandes coletivos da Argentina, promovido pelo CFI e ProMendoza; e do Chile, promovido pelo Prochile. Além disso, a WSA contou com vinícolas premium de países como Uruguai, Espanha, França, Portugal e Geórgia.

 

A WSA foi palco, pela primeira vez, de expositores com o selo Vinhos de Pago, que é uma certificação da Espanha reservada aos melhores vinhos de pequenas propriedades com histórico de qualidade.

Fotos: Vagão Filmes, Divulgação