“Mãe, prepara o almoço porque eu estou chegando.” Em ligação telefônica, um dos quase 240 trabalhadores submetidos à condição análoga à escravidão em Bento Gonçalves tranquilizava a família ainda na tarde da quinta-feira (23), quando foi alojado no Ginásio Municipal Darci Pozza. Na noite da sexta-feira (24), a confirmação: após acordo com a empresa contratante, eles receberão o valor trabalhado e voltaram para as cidades de origem.
Do total de trabalhadores resgatados, 207 farão viagem. 199 regressarão para municípios da Bahia em viagem que irá durar mais de três dias. Os ônibus serão acompanhados por comboio da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e Polícia Federal (PF) até Lages, em Santa Catarina. Depois, haverá monitoramento até que todos sejam entregues aos destinos finais.
Outros 8, oriundos do próprio Rio Grande do Sul, seguirão em Bento Gonçalves mais um dia, em casa de passagem. No sábado (25), eles serão encaminhados para casa. Entre eles, moradores de Rio Grande, Carazinho e Montenegro.
Enquanto entrava no primeiro ônibus, Flávio (nome fictício) comentou a emoção do momento. “Estou muito feliz de voltar para a minha terra. Eu vim para um lugar que pensei que era uma coisa e foi outra. Independente de qualquer coisa, agora é voltar para a minha família e conseguir um emprego decente.”
Os trabalhadores, que chegaram em Bento Gonçalves com a promessa de bons salários e condições de trabalho, se depararam com atrasos no pagamento, escassez de alimentos, jornadas de trabalho de 20h e agressões físicas, morais e psicológicas. Quando três deles fugiram e fizeram denúncia, a Polícia Rodoviária Federal, a Polícia Federal e o Ministério do Trabalho e Emprego iniciaram operação para resgatar os demais e investigar o caso.
De acordo com o auditor fiscal do Ministério do Trabalho e Emprego que fez o acompanhamento da negociação, Gerson Soares Pinto, o número de resgatados é definitivo. O trabalho, porém, está longe de acabar. “Hoje nós fizemos a identificação e qualificação dos trabalhadores. Na próxima semana será feita a quitação do contrato de trabalho e faremos fiscalização de documentos e outras condições em relação ao empregador.”
A pousada onde os trabalhadores ficavam alojados foi interditada, mas ainda não há informação sobre punição dos responsáveis pelo local.