Caxias do Sul - A morte do educador social David Junior de Oliveira Alves, de 39 anos, dentro do Núcleo de Olhar Solidário (NÓS), em Caxias do Sul, provocou uma reação entre os trabalhadores da assistência social. Dias após o crime, o Sindicato dos Empregados em Entidades Culturais, Recreativas, de Assistência Social, de Orientação e Formação Profissional (Senalba) divulgou uma carta aberta à comunidade cobrando medidas urgentes da Fundação de Assistência Social (FAS) e denunciando o que chama de “negligência institucional” na gestão do serviço.
O documento aponta falhas estruturais e de segurança que, segundo o sindicato, vinham sendo denunciadas há anos sem resposta efetiva. Entre elas, a falta de câmeras de monitoramento, a proibição de revistas corporais nos acolhidos e o acesso livre à cozinha, onde há facas e utensílios cortantes. O texto afirma que os trabalhadores atuam em vulnerabilidade constante e que a ausência de protocolos adequados expõe toda a equipe a situações de risco.
Na Casa NÓS, que abriga 50 pessoas em situação de vulnerabilidade, há apenas três educadores por turno, conforme o sindicato. Aos fins de semana, o número de profissionais é ainda menor, e não há suporte técnico nem administrativo. O Senalba denuncia que os próprios funcionários realizaram tarefas de manutenção, como elétrica e infraestrutura, na mudança para o novo prédio, responsabilidades que, conforme o sindicato, seriam da FAS. O local é administrado em parceria com o Mão Amiga e Per Amore.
A carta relaciona diretamente a morte de David Alves à falta de segurança e à omissão do poder público. “A tragédia representa o trágico resultado da negligência institucional e da omissão diante dos alertas feitos por quem está na linha de frente”, diz o texto.
Entre as reivindicações, o sindicato cobra
- Instalação imediata de câmeras de segurança em todos os serviços de acolhimento;
- Aumento do número de educadores sociais e contratação de equipe de apoio;
- Revisão dos protocolos de segurança, com participação dos trabalhadores e do sindicato;
- Garantia de condições dignas de trabalho, com proteção física e emocional dos profissionais.
O Senalba também pede que nenhum novo serviço seja aberto sem estrutura mínima e sem corrigir os problemas já existentes. Segundo o sindicato, “a dor precisa se transformar em ação” para evitar novas tragédias.
Discussão
A publicação da carta ocorre no mesmo momento em que a Câmara de Vereadores discute o Projeto de Lei nº 240/2025, de autoria do vereador Hiago Stock Morandi (PL), que propõe a internação involuntária de dependentes químicos em situação de rua. A proposta, que ainda tramita internamente na Casa, ganhou força após o crime, que expôs o dilema entre a proteção social e a segurança dos trabalhadores.
O projeto prevê que a internação seja usada como medida de proteção social e cuidado, com acompanhamento médico e avaliação das secretarias de Saúde e Assistência Social. Ainda assim, o tema divide opiniões entre profissionais da área, que pedem investimento em estrutura e equipes antes de medidas compulsórias.
Detalhes do Crime e Prisão do Suspeito
O corpo de David Junior de Oliveira Alves foi encontrado no banheiro do abrigo neste domingo (19). O suspeito, um dos acolhidos do local, foi preso em flagrante pela Guarda Municipal.
Reunião
A Sala das Comissões Vereadora Geni Peteffi, na Câmara de Caxias, vai sediar uma reunião entre todos os envolvidos na quarta-feira (22), às 17h.