Justiça

Mulheres denunciam que réu por Golpe do Amor continua procurando vítimas nas redes sociais

Guilherme Selister foi denunciado por três casos em Caxias do Sul. Uma das vítimas na cidade relata como foi enganada

(Foto: Reprodução)
(Foto: Reprodução)

Réu em três processos em Caxias do Sul por aplicar o chamado golpe do amor, Guilherme Selister, 28 anos, continua nas redes sociais em busca de novas vítimas. Quem denuncia são as mulheres que já foram enganadas pelo suspeito e aguardam uma resposta da Justiça. Elas criaram um grupo de conversa e mandam mensagens para alertar novas vítimas sobre as verdadeiras intenções do homem. O relato é que, agora, ele utiliza o nome de Guilherme Galante nas redes sociais e aplicativos de namoro.

“Já conversei com 12 mulheres enganadas por ele. Mas, só quatro estão processando ele. Como é Brasil, ele não foi preso e continua fazendo. Salvei duas meninas já. Encontrei elas no Instagram dele e mandei mensagem. As duas tinham encontro marcado com ele. Ele também está num aplicativo novo. Ele não usa mais o Selister, agora é Guilherme Galante. E tem outra menina que tentei alertar, mas que não acreditou em mim. Disse que ia falar com o advogado dele. Continua envolvida no golpe”, lamenta uma vítima.

O golpe do amor, ou golpe do namoro, é o nome popular que foi dado a estelionatos em que golpistas fingem um relacionamento para tirar dinheiro de seus parceiros. Responsável pelas acusações contra Selister em Caxias do Sul, a promotora Vanessa da Silva afirma que é possível notar um padrão bem definido no golpe.

“Ele usa de ardil, de uma fraude para atrair as vítimas. Ele passa um período com estas mulheres até eles pegarem confiança. Então, ele inventa alguma questão, geralmente de saúde, para precisar de dinheiro. As vítimas, envolvidas emocionalmente, se ofertam a pagar. São valores altos, algumas até fizeram financiamentos, porque estão iludidas que ele realmente precisa para um procedimento médico”, aponta a promotora

As vítimas são enganadas por anos. O primeiro caso conhecido pela Polícia Civil remete a 2019, quando uma moradora de Farroupilha acreditava estar namorando um tenente da reserva da Marinha que trabalhava como nutricionista em hospitais. Esta mulher repassou R$ 80 mil a Selister, para um suposto tratamento de problemas neurológicos, antes do relacionamento terminar em agosto de 2020.

Foi nesta época, que uma moradora de 33 anos de Caxias do Sul conheceu Selister em uma rede social. Neste caso, ele se apresentou como médico cirurgião residente em hospitais da cidade e de Porto Alegre. O relacionamento, mais virtual que pessoal, durou até dezembro, quando Selister decidiu terminar. Em abril, a mulher procurou o suposto médico de novo.

“Ele preparou o território e, quando eu fui atrás dele, viu que tinha conseguido me envolver. Alguns encontros depois, em julho, ele me contou que estava doente, com câncer no testículo. Em setembro, fiz o primeiro empréstimo, de R$ 15 mil, para pagar a quimioterapia dele”, relata a caxiense. O relato completo dela pode ser conferido em vídeo no final da matéria.

Alegando não confiar nos médicos do Sul, Selister fazia o tratamento com um médico particular em São Paulo. Era mais uma artimanha para ter menos contato com sua vítima. Os encontros aconteciam uma ou duas vezes por mês. O relacionamento acontecia por aplicativos de conversas (o que ajudava Selister a manter mais de um “relacionamento” ao mesmo tempo). Entre idas e vindas, o “namoro” durou até dezembro de 2021 e a mulher repassou R$ 100 mil a Selister.

“Ele tem um poder sedutivo, é um cara bonito e tem muita lábia. Ele sabe nos comover, sabe qual é o nosso ponto fraco. Ele mexe com os sentimentos da gente. Fiquei extremamente apaixonada por ele, extremamente cega. Só agora vejo o poder de sedução que ele tem. Ele é psicopata. Ele é um psicopata que sabe certinho quais as vítimas mais frágeis, que já sofreram por amor, que sofrem por autoestima”, afirma a vítima.

Este perfil é o que mais preocupa as vítimas. Estes 12 casos aconteceram em diversas cidades gaúchas, incluindo as serranas Caxias do Sul, Farroupilha e Guaporé, e também nos estados de Santa Catarina e São Paulo. Especializada em advocacia para mulheres, Gerusa Ribeiro, ressalta a importância do golpe continuar a ser denunciado.

“O crime que ele comete é um estelionato, que é um crime contra o patrimônio e que a pena não é alta o suficiente para se pedir a prisão. Isso dá uma sensação de impunidade, afinal ele continua solto. Por isso, é tão importante que se espalhem estas notícias, que continue este caso na mídia, para, ao menos, tentar frear, que ele pare de fazer isso. Quanto mais pessoas denunciarem, maior a chance dele ser preso e maior será a pena ao final. Cada processo será uma pena que, no final serão somadas”, argumenta.

Quem reconhecer este suspeito ou o enredo do golpe e perceber que também pode ser uma vítima deve procurar a Polícia Civil e registrar um boletim de ocorrência para possibilitar o início das investigações.

A reportagem tenta contato com a defesa de Guilherme Selister.