
Rio Grande do Sul - A Polícia Civil do Rio Grande do Sul avançou nas investigações da Operação Consortium II e detalhou o modo de atuação do grupo criminoso especializado em fraudes envolvendo falsos consórcios. O esquema funcionava há quase uma década e já fez mais de 200 vítimas em pelo menos sete estados brasileiros. O prejuízo estimado ultrapassa R$ 30 milhões.
De acordo com a investigação, os criminosos exploravam principalmente produtores rurais e pessoas em grave dificuldade financeira. Eles se aproveitavam da escassez de crédito rural no mercado e ofereciam empréstimos com juros baixos e prazos longos para pagamento. No entanto, omitiram das vítimas que, na verdade, se tratavam de consórcios, e não de financiamentos.
Os golpistas prometiam contemplação rápida, muitas vezes em poucos dias. Convencidas, as vítimas pagavam um valor de entrada acreditando que receberiam o crédito para compra de maquinários, quitação de dívidas ou investimentos. O dinheiro prometido jamais foi liberado.
Boa parte das vítimas já enfrentava prejuízos causados por quebras de safra e eventos climáticos extremos, como as enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul em 2024. Esse perfil era o principal alvo do grupo, que explorava a fragilidade emocional e financeira das pessoas.
As investigações apontam atuação do esquema no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Mato Grosso, Amazonas e Minas Gerais. Entre as vítimas estão produtores rurais, empresários, trabalhadores autônomos e pessoas em situação de extremo sofrimento econômico.
Vida de Luxo e Operação Policial
Com o dinheiro obtido nos golpes, os criminosos mantinham uma vida de alto padrão. Durante a operação, a polícia apreendeu 37 veículos, incluindo modelos das marcas Porsche, Mercedes, Mini, BMW, Volvo, Toyota e Peugeot, com valor estimado em R$ 15 milhões. Também foram recolhidos joias, diversos bens de luxo e ao menos dois relógios da marca Rolex, avaliados em aproximadamente R$ 500 mil.
A Justiça também determinou o bloqueio de imóveis e criptomoedas que somam cerca de R$ 170 milhões. A investigação aponta ainda a compra de imóveis de alto padrão no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Apenas dois apartamentos, um em Porto Belo e outro em Balneário Camboriú, têm valor estimado em R$ 20 milhões.
Desdobramentos e Prisões
Um dos desdobramentos mais graves da operação envolve a suspeita de participação de policiais militares no esquema. Três soldados do 3º Regimento de Polícia Montada (RPMon), de Passo Fundo, tornaram-se alvos da investigação. Eles teriam feito a escolta dos golpistas quando estavam fora de serviço. Em uma das situações, um dos policiais usou uma viatura oficial da Brigada Militar para acompanhar integrantes do grupo criminoso.
Segundo o tenente-coronel Rogério Navarro, comandante do Comando Regional de Policiamento Ostensivo (CRPO) do Planalto, a Corregedoria-Geral da Brigada Militar já monitorava os suspeitos e colaborou com a investigação desde as primeiras suspeitas.
Atualmente, um dos policiais responde a inquérito policial, outro está submetido a um Conselho de Disciplina que pode resultar na sua exclusão da corporação, e o terceiro segue com o caso em análise judicial. Dois deles já estavam afastados das atividades, enquanto um permanecia em serviço no momento da deflagração da operação.
Prisões e abrangência da operação
Dez pessoas foram presas, sendo oito homens e duas mulheres. A ação é coordenada pela Delegacia de Polícia de São Francisco de Assis, com apoio da 6ª Delegacia de Polícia Regional do Interior, sediada em Passo Fundo.
As investigações seguem em andamento para identificar novos envolvidos, aprofundar a apuração sobre a participação de agentes públicos e dimensionar o total real dos prejuízos causados pelo esquema criminoso.