SAÚDE MENTAL

Seminário em Caxias do Sul destaca que prevenir o suicídio começa por falar sobre ele

Durante o encontro, a psicóloga Fabiana De Zorzi destacou que 90% das pessoas que recebem ajuda em momentos de crise desistem de cometer suicídio

(Pietra Lima/Divulgação)
(Pietra Lima/Divulgação)

O plenário da Câmara Municipal de Caxias do Sul recebeu, na tarde da sexta-feira (19), um seminário alusivo ao Setembro Amarelo, com foco na prevenção ao suicídio e na importância da discussão pública sobre o tema. O evento foi promovido pela Comissão de Saúde da Casa, presidida pelo vereador Rafael Bueno (PDT), e reuniu especialistas e representantes de instituições ligadas à saúde mental e à proteção social.

Durante o encontro, a psicóloga Fabiana De Zorzi destacou que 90% das pessoas que recebem ajuda em momentos de crise desistem de cometer suicídio. Para ela, a prevenção passa, sobretudo, pela visibilidade e pelo diálogo aberto sobre o sofrimento emocional.

“Vivemos a era da invisibilidade da dor. A dor psíquica é muitas vezes escondida ou banalizada, e isso impede que as pessoas busquem ajuda”, afirmou Fabiana.

A especialista apresentou dados preocupantes sobre a saúde mental da juventude. Um estudo realizado em 2019 com 245 jovens de Caxias do Sul, com idades entre 15 e 29 anos, apontou que 40% já tiveram algum tipo de sofrimento psíquico. Os transtornos mais citados foram ansiedade (36,9%), depressão (30,2%), bipolaridade (8,2%) e TDAH (7,2%). Ainda segundo o levantamento, 60% dos jovens já tiveram desejo de morte, 49% pensaram em suicídio e 15% chegaram a tentar.

Além disso, 40% dos jovens que relataram sofrimento não aderiram a nenhum tipo de tratamento, seja ele medicamentoso ou psicoterápico. O dado preocupa, principalmente diante do crescimento dos casos de suicídio no país após a pandemia de Covid-19, que, segundo Fabiana, registrou um aumento de 25%.

O psicólogo Jorge Trevisol, também palestrante do evento, abordou o suicídio sob uma perspectiva existencial e espiritual. Inspirado na tradição budista, ele ressaltou a importância de olhar para a morte como parte do processo criativo da vida.

“Precisamos nos curar dos julgamentos e caminhar para a inclusão. Quem inclui é saudável, porque não gasta energia para se defender”, disse Trevisol, ao destacar como traumas da infância podem influenciar a percepção de valor próprio e contribuir para o sofrimento mental.

Também participaram do seminário o administrador do Instituto Amor em Cuidar, Nikolas Hauli, e o diretor-geral de Segurança Pública e Proteção Social do município, Everson Furtado.

A Secretaria Municipal da Saúde definiu o cuidado com a saúde mental como o estado de bem-estar que permite ao indivíduo lidar com o estresse cotidiano. A pasta reforçou a disponibilidade de canais de apoio para quem precisa de ajuda, como o Samu (192) e o Centro de Valorização da Vida (188).

Além de Rafael Bueno, integram a Comissão de Saúde os vereadores Andressa Marques (PCdoB), Capitão Ramon (PL), Estela Balardin (PT) e Juliano Valim (PSD).