A gaúcha Giovanna Carello Collar, de 27 anos, aluna do último ano do doutorado em Bioquímica na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), conquistou o prêmio One to Watch da Alzheimer’s Association International Conference (AAIC), que reconhece a próxima geração de líderes na neurociência.
O prêmio é voltado a pesquisadores em início de carreira que se destacam na área de neurociência. O prêmio, concedido pela Alzheimer’s Association, ocorre pelo histórico de pesquisas da biomédica, que investiga possíveis fatores protetores contra a doença de Alzheimer. Na prática, a estudante de 27 anos foi eleita a pesquisadora mais promissora do mundo nessa área.
Os projetos são desenvolvidos no laboratório do neurocientista Eduardo Zimmer (Zimmer Lab), na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), que recebe financiamento do Instituto Serrapilheira.
Estudos
Estimativas atuais apontam que a doença de Alzheimer atinge cerca de 1,2 milhão de brasileiros. No mundo, cerca de 50 milhões de pessoas convivem com a doença e outros tipos de demência, segundo dados da Alzheimer’s Disease International. O quadro é marcado pela deterioração cognitiva, perda da memória e pelo comprometimento progressivo das atividades da vida diária.
Doutoranda em bioquímica na UFRGS, Giovanna investiga fatores que podem exercer papel de proteção contra o Alzheimer e a potencial origem precoce da doença. “Investigamos o neurodesenvolvimento como uma hipótese de que o Alzheimer pode começar muito antes do que imaginamos”, diz.
Um dos focos de pesquisa diz respeito à relina, proteína com papel importante no neurodesenvolvimento. Giovanna também participa das pesquisas lideradas por Zimmer sobre o papel dos astrócitos – células do sistema nervoso em formato de estrela – onde ela investiga possíveis alterações precoces em modelo experimental da doença de Alzheimer.
“Pessoas com mutação no gene ligado à relina acumulam menos a proteína tau [um dos marcadores do Alzheimer] em comparação às que não tem a mutação. Isso mostra uma possível proteção contra a doença”, explica a premiada cientista.
Prêmio Científico para o Brasil
A entrega do prêmio ocorreu no evento AAIC Neuroscience Next – Hub de Indiana, em Indianápolis, nos Estados Unidos.
“Esse prêmio é uma motivação para continuar”, afirma a jovem. “Sabemos como é difícil fazer pesquisa no Brasil. E esse reconhecimento funciona como um impulsionador para continuarmos a acreditar no que estamos fazendo”, comemora Giovanna.
A inspiração para as pesquisas, conta, vem de duas mulheres. A primeira é sua mãe, formada em química. Giovanna ainda era criança quando a mãe estava no doutorado na UFRGS, e logo passou a acompanhá-la nas idas ao laboratório.
Já o caminho para os estudos sobre a doença de Alzheimer veio a partir dos relatos ouvidos em casa sobre a avó, Lenira, diagnosticada com a doença de forma precoce, aos 55 anos. Embora não a tenha conhecido, suas histórias, contadas pelo pai, marcaram Giovanna.
A aproximação definitiva do tema veio na preparação para o mestrado, após assistir a uma aula de Eduardo Zimmer, que a convidou para fazer parte de seu grupo de pesquisa. Hoje, o valor do financiamento do Serrapilheira é aplicado para custeio das pesquisas realizadas no laboratório liderado por Zimmer – o que faz com que os recursos beneficiem, na prática, um número maior de pesquisadores.
“O apoio do Instituto Serrapilheira nos permite oferecer mais oportunidades para a nova geração de talentos do país, o que refletirá no futuro, colocando o Brasil na vanguarda da ciência”, afirma Zimmer.
Antes do prêmio AAIC Neuroscience Next “One to Watch”, Giovanna já havia ganhado outros reconhecimentos, como o Prêmio de Jovem Pesquisadora do Congresso Mundial de Cérebro, Comportamento e Emoções, o qual reconhece cientistas promissores em neurociência na América Latina. Atualmente, ela se prepara para, a partir de agosto, realizar parte da pesquisa de doutorado na Harvard Medical School, nos Estados Unidos, com financiamento por meio da renomada bolsa de pesquisa Fulbright.