Dois moradores de Bento Gonçalves, ambos com 74 anos, denunciam a falta de atendimento especializado para tratamento de retinopatia no município. Os pacientes afirmam que, mesmo com laudos médicos apontando a gravidade da situação e a necessidade de intervenção rápida, não conseguem acesso ao procedimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e foram orientados a recorrer à Justiça para garantir o tratamento.
“Meu pai está com um problema seríssimo na visão, correndo risco de perder a visão por causa da diabetes. O médico que fez o exame disse que o caso é urgente e pediu o procedimento com brevidade. Mas, na Secretaria da Saúde, informaram que não há especialista em Bento Gonçalves e que teríamos que entrar na Justiça para conseguir. Só que, até resolver, ele pode acabar cego de um olho”, relatou a filha de um dos pacientes.
O outro caso envolve um paciente que já perdeu a visão do olho esquerdo e luta para preservar a do direito.
“Eu estou com menos de 50% da visão no olho direito. O oftalmologista me encaminhou para um especialista em retina dizendo que precisava fazer laser para tentar salvar a visão. O encaminhamento foi feito no dia 28 de fevereiro para a Secretaria da Saúde, mas até agora não autorizaram. Liguei lá e me disseram que estou na fila, que não tem profissional e que, se quisesse, teria que entrar na Justiça. Eu estou juntando os papéis para isso, mas pode ser tarde demais”, desabafou o morador.
Segundo os relatos, ambos receberam a recomendação de procurar a Defensoria Pública ou advogado particular para buscar o tratamento via decisão judicial, diante da inexistência de profissional disponível na rede municipal para realizar o procedimento.
Resposta da Prefeitura
A Prefeitura de Bento Gonçalves, por meio da sua assessoria de comunicação, negou repassar orientação para os pacientes buscarem a Justiça. Em comunicado, explicou que todos os casos de retinopatia são regulados pelo sistema estadual, por meio do Gercon (Gestão de Consultas e Exames), responsável por definir os encaminhamentos e agendamentos dos pacientes.
A administração também destacou que há atendimento com especialista em retina para crianças a partir de 8 anos na Clínica de Oftalmologia Integrada, conveniada com o município. Para os demais casos, o atendimento depende da regulação estadual.
Pacientes enfrentam incertezas
Enquanto aguardam uma solução, os pacientes vivem a angústia da perda progressiva da visão e buscam alternativas para acelerar o processo, temendo que a espera inviabilize o tratamento.
“Cada dia que passa, eu enxergo menos. Quanto mais cedo o tratamento, melhor. Mas, pelo jeito, só pela Justiça mesmo, e até lá pode ser tarde demais”, lamentou um dos pacientes.