URGÊNCIA

Mais de 100 mil pessoas aguardam procedimentos de saúde em Caxias do Sul; vereador aponta colapso

De acordo com números apresentados por Rafael Bueno, mais de 1,2 mil mulheres aguardam consultas ginecológicas pelo SUS em Caxias do Sul

Mais de 100 mil pessoas aguardam procedimentos de saúde em Caxias do Sul; vereador aponta colapso Mais de 100 mil pessoas aguardam procedimentos de saúde em Caxias do Sul; vereador aponta colapso Mais de 100 mil pessoas aguardam procedimentos de saúde em Caxias do Sul; vereador aponta colapso Mais de 100 mil pessoas aguardam procedimentos de saúde em Caxias do Sul; vereador aponta colapso
Destes números, mais de 1.200 mulheres aguardam consultas ginecológicas pelo SUS em Caxias do Sul. Foto: Câmara de Vereadores/Divulgação.
Destes números, mais de 1.200 mulheres aguardam consultas ginecológicas pelo SUS em Caxias do Sul. Foto: Câmara de Vereadores/Divulgação.

Entre consultas, exames e cirurgias, quase 108 mil pessoas aguardam atendimento em serviços de saúde de Caxias do Sul. O apontamento foi feito pelo líder da bancada do PDT no Legislativo caxiense, o vereador Rafael Bueno, que repercutiu na sessão ordinária desta terça-feira (10) os recentes números da saúde divulgados a partir de um Pedido de Informações formulado pela Comissão da Saúde (CS), a qual preside há anos.

Atualmente, 69.634 pacientes aguardam consultas com algum tipo de especialista no Município. No caso da ginecologia, por exemplo, há pessoas aguardando desde 2019, chegando a 1.264 mulheres. Na proctologia, que atinge principalmente os mais idosos, são 4.329 casos, havendo espera desde 2021. Na neurologia infantil, desde 2022, são 2.271 pacientes. Para a psicoterapia infantil, são 1.348 à espera.

Segundo o parlamentar, apenas na saúde mental de Caxias do Sul, relacionada a crianças, somadas as especialidades, temos mais de 4.077 aguardando consultas, praticamente o mesmo número de adultos que estão à espera. 

“Na questão da criança, não são apenas dados nem números. Sabemos que a infância é a principal fase de alguém. São crianças precisando de psicólogos, psiquiatras, neurologistas, porque podem ter problemas sérios no desenvolvimento, na leitura, na escrita, na relação social, algo que vem ocorrendo com frequência”, enfatizou Bueno.

Os números apresentados pelo vereador ainda dão conta de exames. Conforme apresentado, Caxias do Sul tem 30.971 pessoas aguardando algum tipo de procedimento. Apenas na ressonância magnética, são 6.652 pessoas. Para uma tomografia, 1.536 e, uma retinografia, 1.196. 

“Estamos falando de exames que não são simples, de colesterol, de diabetes, um hemograma, mas são casos que precisam de uma avaliação muito especializada da saúde do paciente, e que pode ser agravar”, exemplificou.

Os dados, oriundos da Secretaria de Saúde, dizem que em relação as cirurgia, são 7.291 pessoas esperando procedimento, mesmo após ter sido feito um recenseamento pela pasta. Para uma neurocirurgia, há pacientes que esperam desde 2019. No caso de cirurgia torácica, desde 2016. Procedimento cardíaco, desde 2020. Uma cirurgia proctológica, desde 2019. Para traumatologia, há pessoas 2.098 aguardando.

“Além desses dados serem alarmantes e falarem por si só, estamos falando de pessoas que estão afastadas do seu local de trabalho, deixando de gerar renda e muitas obrigadas a trabalhar mesmo com dores para poder custear medicamentos e não deixar faltar o pão em casa”, reforçou.

Bueno também repercute dados divulgados frequentemente pela Prefeitura sobre as ausências da comunidade em consultas com especialistas agendadas por meio dos serviços, assim como em ações de mutirão, que ocorriam com maior frequência em outros anos da gestão.

Segundo ele, há uma terceirização da culpa por parte do Município, que precisa se modernizar e, inclusive, ofertar mais meios de comunicação para que as pessoas acessem com facilidade, considerando que até mesmo telefones funcionais frequentemente apresentam problemas técnicos que impedem que a comunidade possa utilizar os canais para avisar a ausência.

“A Prefeitura tem que parar de terceirizar a culpa e assumir a sua responsabilidade. Em momento onde se dispõem de tecnologias como alternativas digitalizadas e aplicativos, as pessoas têm que aguardar horas no telefone para comunicar a ausência e não conseguem ser atendidas. Ou seja, muitas coisas poderiam auxiliar nessa comunicação”, defende ele.

O parlamentar destacou que seus quatro mandatos estão alicerçados em trabalho com seriedade, principalmente na área da saúde, porque entende o sofrimento da população e os altos custos para o município caso medidas não sejam tomadas. O agravamento das comorbidades avalia ele, aumentam as despesas e a falta de vagas e leitos, além das mortes, que se avolumam como consequência disso.

“Há pessoas morrendo nas UPAs, cinco dias em poltronas sem acompanhantes, tendo que ficar amarradas para não retirarem as próprias sondas, é porque a situação é grave mesmo. Isso, nós da Comissão da Saúde, vimos ao vivo”, destacou Bueno.

Bueno, aponta ainda que, o secretário de saúde do Município estava sendo cobrado há seis meses para comparecer as UPAS e assim verificar de perto a situação dos serviços. No entanto, compareceu apenas nesta segunda-feira (09).

A situação, é, segundo ele, problemática, já que ainda que o gestor da pasta alegue agenda cheia, a tarefa de um secretário é sair do gabinete e se fazer presente, inclusive, com visitas constantes às UPAs e as UBSs.

Bueno também questiona o porquê do município não ter se credenciado para receber profissionais do Programa Mais Médicos, que teve edital lançado em março.

Sugestões para crise na saúde

O parlamentar apontou algumas ações que poderiam colaborar com a resolução de parte destes problemas. Ele sugeriu, por exemplo, que a cidade poderia credenciar 90 leitos do Hospital Saúde pelo SUS, que podem ser ampliados para 110. Também citou que o Hospital Pompéia propôs ao município destinar área de 1 mil metros quadrados, no Cinquentenário, e construir um Centro de Especialidade de Exames, mas não obteve retorno.

Outra sugestão, hoje o único serviço habilitado e ágil na cidade é o Ideas (empresa terceirizada), justamente por estar em decreto de calamidade, e eles poderiam imediatamente, segundo ele, contratar médicos para as UBSs e para o Hospital Saúde, além de desafogar o funil das especialidades.

Outros programas para saúde

O pedetista também comentou que o governador Eduardo Leite anunciou investimentos para aplacar a crise na saúde no RS, como 600 novas vagas nos hospitais, somando-se ao aporte de R$ 20 milhões anunciados no mês passado para a Operação Inverno.

Em outra frente, segundo Bueno, o Palácio Piratini prepara a criação de uma espécie de “Tabela SUS” gaúcha, na qual o Estado vai complementar, com recursos próprios, o pagamento por procedimentos prestados pelos hospitais. 

Em relação ao governo federal, Bueno comenta que foi lançada a portaria que reconhece situação de emergência em todo o país pelo período de dois anos, garantindo mais agilidade na realização de pré-operatórios e de mais de 1.300 cirurgias em seis áreas prioritárias como oftalmo, onco, cardio, ortopedia, gineco e otorrino.

O Programa Agora Tem Especialistas também foi apontado por ele como um dos lançamentos feitos para ampliar o acesso da população a consultas, exames e cirurgias, por meio da equipagem de 150 carretas que percorrerão o país para viabilizar consultas, exames e pequenas cirurgias.

Ele finaliza com a sugestão de que o município, por meio do prefeito e do secretário municipal da Saúde, ao que ele se dispõe a estar junto, fique acampado numa barraca em frente ao Ministério da Saúde para obter uma dessas carretas para percorrer os bairros de nossa cidade.