DENÚNCIA

Médicos pedem cassação de vereadores Hiago e Daiane em Caxias do Sul

Pedido encaminhado para análise da Comissão de Ética é decorrente de fiscalização no início do mês. Vereadores afirmam seguir trabalho parlamentar.

Foto: Redes sociais/divulgação
Foto: Redes sociais/divulgação

Dois médicos que atuam na UPA Central de Caxias do Sul protocolaram denúncia contra os vereadores Hiago Stock Morandi e Daiane Mello, ambos do PL. O documento, entregue ao presidente da Câmara, Lucas Caregnato (PT), pede a abertura de processo disciplinar para cassação dos mandatos dos parlamentares por abuso de autoridade e quebra de decoro. A informação foi revelada na manhã desta segunda-feira (22).

A advogada Amanda Martins de Castro Bernardes, que representa os profissionais, detalha que os vereadores “invadiram”, na madrugada de 4 de setembro, o quarto de descanso médico da unidade. Acompanhados de assessor armado, cônjuges e equipe de gravação, os parlamentares filmaram os médicos sem autorização e divulgaram o material em redes sociais.

Na representação, os profissionais relatam ameaças, constrangimentos e insinuações de que estariam sob efeito de álcool ou drogas, além de acusações de que mantinham relações íntimas durante o plantão. O vídeo circulou em perfis dos próprios vereadores e em páginas locais, gerando repercussão e ataques à reputação dos médicos.

O documento afirma que os vereadores transformaram a “fiscalização em palco de autopromoção política”. A denúncia sustenta que o ato desrespeitou prerrogativas médicas, afrontou a dignidade da categoria e violou regras básicas de decoro parlamentar.

Além da cassação, o pedido requer suspensão preventiva dos mandatos até a conclusão do processo, envio das provas ao Ministério Público e ao Conselho de Ética, e a devida comunicação à Justiça Eleitoral.

A Secretaria Municipal da Saúde e o IDEAS, entidade responsável pela gestão da UPA, já se manifestaram publicamente contra as acusações dos vereadores, reforçando que não houve irregularidade no plantão.

O vereador Hiago Morandi, em resposta, disse não se surpreender com mais um pedido de cassação.

“Acredito que é o quinto só este ano. Os outros foram arquivados. Não gostaria de estar passando por essa situação, mas naquele dia estávamos na UPA porque recebemos reclamações da população”, afirmou.

Ele rebateu as acusações de invasão, destacando que pediu autorização para entrar e que o objetivo era fiscalizar a demora no atendimento.

“Não atrapalhamos nenhum procedimento, entramos com respeito, fiz perguntas com educação e borramos os rostos no vídeo. Toda a fiscalização foi acompanhada por um responsável do Instituto Ideias, e ninguém nos disse que havia algo errado”, disse.

Morandi também criticou a nota de repúdio da Secretaria da Saúde. “É como a família do Maradona julgar quem é melhor, ele ou o Pelé. Não espero que a Secretaria ache legal a fiscalização, porque ela estava sendo fiscalizada”, argumentou.

A vereadora Daiane Mello também se manifestou e afirmou que seguirá com sua atuação parlamentar.

“A gente vai continuar trabalhando, escutando as pessoas e fiscalizando, porque acreditamos que esse é o nosso papel enquanto vereadores da cidade. Encaminhamos as denúncias que recebemos ao Ministério Público e à Prefeitura e vamos seguir com a nossa função em prol da população”, disse.

Agora, cabe à Câmara Municipal decidir se abre a Comissão Processante que pode levar à cassação de Hiago Stock Morandi e Daiane Mello.

O que diz Hiago Morandi

“Não fico surpreso, acredito que este é o quinto pedido de cassação só este ano. Os outros foram arquivados. Não gostaria de estar passando por essa situação, eu preferia estar dormindo tranquilo em casa com a minha família, ao invés de estar na UPA Central fiscalizando, como foi naquele dia.

O que nos leva até lá não são figurantes ou atores. São pessoas com nome e sobrenome. Quem nos chamou tinha reclamações reais. Entre elas, uma criança com 40 graus de febre — temos vídeo e relato da mãe nos agradecendo por termos ido. O que expusemos foi a demora no atendimento e falhas no sistema público de saúde.

A defesa será feita tanto na Câmara quanto na Justiça. Já percebi que a advogada da parte gosta de mídia, mas não darei mídia para ela. Vamos focar na parte técnica. O Judiciário vai perder tempo com algo que poderia ser resolvido de forma simples.

Sobre a fiscalização: entramos com autorização, gravamos para nossa segurança e não atrapalhamos nenhum procedimento médico. O prédio é público, não pertence a nenhum médico ou a outro político. Não expusemos ninguém, borramos os rostos e agimos com respeito. No final, o próprio coordenador perguntou se faltava algo, eu disse que não, estava tudo certo, e fomos embora.

A Secretaria de Saúde fez uma nota de repúdio contra nós, mas é natural que não ache positivo ser fiscalizada. Mesmo assim, vamos continuar fazendo o nosso papel de vereadores. Toda a fiscalização foi acompanhada por um responsável do Instituto Ideias, e não houve nenhuma reclamação durante a nossa presença na UPA.”

O que diz Daiane Mello

“A gente vai seguir trabalhando. Tivemos a informação de que foi protocolado na Câmara um pedido de impeachment pelas fiscalizações que fizemos na área da saúde, mas vamos continuar atuando. O vídeo está no ar, as notícias estão vinculadas sobre isso, e encaminhamos ao Ministério Público e à Prefeitura as denúncias de irregularidades que verificamos.

Vamos continuar trabalhando, ouvindo as pessoas e fiscalizando, porque acreditamos que esse é o nosso papel enquanto vereadores da nossa cidade. O pedido está tramitando na Câmara, mas a gente é pago pela população para trabalhar em prol da população, e é isso que vamos fazer.”