Opinião

Um dia depois de outro dia, depois de outro

Um dia depois de outro dia, depois de outro

Como certamente tantas outras pessoas, acordo numa manhã ensolarada de agosto com disposição máxima para a vida, para o trabalho para o reencontro e para o abraço fraterno. Aliás, ontem em mais de cinco meses recebi o abraço de uma querida amiga que finalmente se desprendeu do medo. A máscara no rosto a encorajou, que certos cuidados continuam indispensáveis.

A disposição para um dia intenso vai se esvaindo à medida que você não tem muitas opções e pensa que à tarde vem o anúncio de mais uma bandeira com o peso de seu significado de restrições.

Fico pensando nas pessoas de idade avançada. Estas que veem o fechar da cortina do tempo se aproximando a passos largos e precisam ficar confinados. Aquele jovem que pensa estar perdendo um ano de vida, deveria imaginar o que é para o senhor de 83, para a mulher de 85 anos que ainda são donos de suas capacidades e precisam ficar meio ano presos no estreito mundo do seu pátio, sem poder abraçar filhos e netos.

Hoje eu queria poder ir ao meu trabalho e apertar a mão das pessoas, ouvir o seco, econômico e inconfundível “ôô”, do colega Bobi, que aliás, é destes que está confinado em casa e não vejo desde março. É isso, não apenas o afastamento de grandes amigos, mas pequenos ritos do dia a dia nos fazem enorme falta.

Eu sei, parecem preocupações fúteis. Coisa de quem ainda consegue trabalhar de casa e manter a dignidade; de quem não teve o lar devastado por uma explosão como a de Beirute ou não sofreu a perda de qualquer ente com o vírus que alguns querem chinês, mas que é universal.

Todos os dias assisto aos noticiários esperando a manchete que em outros países veio depois de certo tempo, a de que o pico passou, de que estamos em queda. Mas o meu país, o meu estado e a minha cidade teimam em não me dar esta boa nova. O que fizemos e estamos fazendo de errado? O pico viria em 15 dias, depois em mais 15 e seria em abril, maio, depois junho, julho e hoje ninguém mais arrisca dizer quando.

Ah! eu queria que o Osmar Terra estivesse certo. Estamos distantes das 800 mortes, bem distantes. Serão 100 mil neste final de semana e as pessoas continuam discutindo se é Covid ou se precisamos chorar a morte dos velhos. Ora, tenha paciência, onde viemos parar… a máscara caiu!

Não dá pra ir ao estádio, mas na TV o futebol voltou; em vários setores a economia começa a andar; deputados continuam falando e fazendo besteiras; as vacinas têm sua elaboração em estágio avançado e tudo o que a gente quer é poder viver. É aproveitar um final de semana de sol confraternizando com amigos. Pois é, talvez aí esteja o motivo para que o platô perdure tanto tempo. Não temos tempo a perder e continuamos desperdiçando-o.