Esta pandemia obrigou todo mundo a repensar o modo de fazer o que fazia antes. Para alguns foi bom – teve muita gente ganhando dinheiro de modo que muitos ricos ficaram mais ricos – e teve quem simplesmente se obrigou a rever os rumos da vida. Minha mãe ensinava, o que não vai por bem ou por planejamento, acaba se resolvendo no tranco e nem sempre pra melhor.
Veja esta questão do setor moveleiro, grande mola mestra da economia de Bento Gonçalves. Muitas empresas estão se vendo em dificuldade para a continuidade de sua linha de produção pelo simples fato de que há falta de matéria prima para atender à demanda. “Quando não falta chapa falta parafuso, quando tem os dois falta embalagem”. Tenho ouvido esta frase, ou mais ou menos esta frase com inquietante frequência. O desabastecimento começou lá por setembro ou outubro e persiste. Obviamente que diante da escassez o preço dispara. Os aumentos de certos insumos como as chapas de aglomerado são mensais. Como repassar ao consumidor final? Até onde o mercado seguirá comprador agora que o auxílio emergencial tem o valor reduzido e sua manutenção ainda é incerta?
Estas são questões que tiram o sono de empresários por duas razões básicas: a) ninguém quer perder a onda perfeita, é preciso surfá-la; e se for só uma onda mesmo, como será o futuro de curto e médio prazo? Manja aquela coisa de ressaca? ninguém gosta. Pior ainda se a ressaca vier sem que se tenha usufruído da festa o que de melhor foi servido.
Agora veja o que aconteceu com as duas principais feiras de negócios da cidade: Movelsul e Fimma voltarão a ocorrer de forma simultânea. Na verdade isso acontecerá pela primeira vez, já que até 1993 só havia a Movelsul e os fornecedores da cadeia expunham suas máquinas e acessórios ou matérias-primas nesta feira. Os anos 80 impulsionaram a Movelsul – que só ganhou este nome em 1988, (antes era a Mostra do Mobiliário, que nasceu em 77). Era um tal de aumenta e constrói pavilhão novo que veio a natural cisão: cria-se um segundo evento a partir de 1993 Bento passou a sediar uma feira do setor todos os anos, sempre em março.
Quem tocou estas feiras sabe o horror que era a instabilidade econômica, os pacotes governamentais e a inflação galopante. Coisas de maluco. Nem tabela de preços se tinha numa época em que tudo precisava ser impresso na gráfica. Pois hoje vivemos outro momento. Mas os desafios seguem e sempre são novos. O setor viu surgirem outras feiras em outros polos, afinal os principais expositores são únicos e havia uma disputa ferrenha por eles. Aí cai preço, há problema de calendário e de logística. Embora o assunto não seja muito difundido, não havia mais expositor pra todo mundo. As feiras são caras e drenam recursos e atenção dos fabricantes. Enfim, a capacidade de se adaptar parece que está no DNA do setor
Pois a pandemia parece que foi a tempestade perfeita para um rearranjo necessário. Claro que no momento se fala apenas em realizar a feira conjunta em 2022. Mas quem sabe o que vai acontecer nos anos seguintes? Há muito tempo se fala que as feiras estão perdendo espaço para o mundo digital, pelo alto custo, por calendário conflitante.
Não sei ninguém sabe, o fato é que as lideranças empresariais de Bento deram um passo corajoso, talvez até porque não tivessem outra solução. Mas as duas feiras acontecendo na mesma data e em pavilhões distintos é garantia de casa cheia e de muitos negócios. Atende às expectativas do expositor , de organizadores e do setor produtivo. Agora é correr atrás para ver se haverá infraestrutura para tanto. Mas este é aquele tipo de problema bom de resolver. Não há tempo a perder. Março de 2022 é logo ali.