Na minha primeira infância eu falava meio português e um pouco de russo, porque vivia com meus avós e convivia diariamente com russos, iugoslavos, tchecos, alemães. Todos como uma família: Nós, os vizinhos e amigos imigrantes que também chegaram ao Brasil nos anos 40 e 50, que misturavam as línguas, cultura e culinária ao jeito brasileiro, que eles adoravam.
Alguns sentiam saudade da família que ficou pra trás, das lembranças e de uma pátria que estavam acostumados. Outros acrescentavam a esses sentimentos o alívio de ter deixado zonas de guerra e suas consequências.
Minha família é de imigrantes russos, alemães e gregos, de primeiro a terceiro graus, que imigraram em algum momento para o Brasil, onde minha mãe e pai se conheceram e aqui estou eu.
A família do meu marido é de imigrantes italianos, franceses, alemães e açorianos que imigraram para o brasil e casaram com alguém com ascendência indígena. E aqui estamos nós.
A familia do meu ex-marido é de irlandeses que imigraram para os Estados Unidos.
A família do meu outro ex-marido é de imigrantes alemães e belgas, que vieram pro brasil e se encontraram aqui.
Eu fui imigrante nos Estados Unidos, emigrando do Brasil, onde fiz muitos amigos também imigrantes do México, Etiópia, China, Japão, Thailandia, Europa em geral e outros lugares até então distantes, pra mim, no mundo.
A minha prima irmã, genial e generosa, é imigrante na Noruega, emigrando da Irlanda pra lá.
Minha filha corajosa e desbravadora já passou muito perrengue enquanto morou em diferentes países e hoje é imigrante na Austrália, emigrando dos Estados Unidos pra lá.
O meu querido genro é Australiano, filho de imigrantes Curdos corajosos e amorosos, vindos da Siria e Curdistão.
Não estou aqui pra ficar contando a história da minha família, mas quero dizer que a história de todos nós, sem exceção, tem diferentes etnias correndo nas veias.
A maioria de 100% de nós é imigrante, seja em primeira, segunda ou centésima culhonésima geração.
O mundo é um só, as fronteiras não nasceram junto com a terra. Elas foram delimitadas por diferentes etnias, por arbitrariedade aleatória, e não por uma lei universal que separe as pessoas em grupos que devem permanecer de castigo, emburrados uns com os outros.
Agora pense, se o ser humano não se movimentasse, nunca teria evoluído. Se a banana e o feijão preto não chegassem ao Brasil, você nunca teria comido banofe ou feijoada. A diversidade e troca foi o que fez com que chegássemos onde estamos _ e me refiro a parte onde conseguimos entender que somos os mesmos mas vindos de lugares diferentes, e não aquele movimento que acha que o diferente é uma ameaça.
Quem deixa sua zona de conforto ou desconforto para se aventurar num novo país ou região, não está atrás de vida fácil nas costas de quem já está lá. Essa pessoa só quer uma vida melhor ou diferente, geralmente chegando com muita garra e até, em alguns casos, mais esforço do que quem já está lá estabelecido.
Imigrantes não querem tirar o lugar nem explorar ninguém. Eles querem agregar, assim como os que já estão estabelecidos tiveram em seus ancestrais um imigrante chegando na terra dos povos originais, seja onde for essa origem.
Então se você não é um descendente direto e puro dos povos originários da região onde vive, tenho breaking news pra te dar: você, como eu, como nós, somos todos migrantes.
Atualizando aquela frase de que no Brasil todos tem sangue indígena, alguns nas veias outros nas mãos, me arrisco a ser cancelada dizendo que no mundo quem ainda não entendeu que somos todos migrantes, está sujando as mãos com o próprio sangue.