OPINIÃO

Sem saneamento não existe urbanismo

Para a arquitetura e o urbanismo, pensar saneamento não é só uma questão técnica, é uma responsabilidade ética

Varanda de madeira com vista para o mar e área verde exuberante.
Imagem: Divulgação/Cristina Mioranza

Nem sempre o que é invisível aos olhos é menos importante. O saneamento urbano, por exemplo, é uma das infraestruturas mais fundamentais para a vida em sociedade, mas também uma das menos percebidas no cotidiano. Só sentimos falta quando ele falha. Quando a água escorre suja pelas ruas, quando um córrego se transforma em esgoto a céu aberto, quando a chuva vira enchente por falta de drenagem adequada.

A Serra Gaúcha, apesar de seu desenvolvimento econômico e cultural, ainda convive com realidades contrastantes. Enquanto alguns bairros têm redes modernas de coleta e tratamento de esgoto, outros vivem com fossas improvisadas, valas a céu aberto e infraestrutura deficiente. Isso impacta não apenas o meio ambiente, mas a saúde pública, o valor imobiliário e, sobretudo, a dignidade das pessoas.

O acesso ao saneamento básico é um direito, mas também um marcador social. Ele revela desigualdades históricas entre bairros centrais e periferias, entre zonas turísticas e áreas residenciais mais afastadas. E se os canos enterrados sob a terra não geram likes nem manchetes, seu efeito sobre a vida urbana é profundo: uma cidade que cuida do seu saneamento cuida, antes de tudo, de sua população.

Nós, como arquitetos e acima de tudo, como cidadãos, temos que cobrar nossos direitos do poder público. Até o final de 2033, 99% da população brasileira deverá ter acesso à água tratada, e 90% à coleta e tratamento de esgoto, segundo o Marco Legal do Saneamento.

Saneamento e a Arquitetura Urbanística

Para a arquitetura e o urbanismo, pensar saneamento não é só uma questão técnica, é uma responsabilidade ética. Projetar uma cidade saudável inclui redes de água, esgoto, drenagem e gestão de resíduos sólidos. Inclui também pensar na permeabilidade do solo, no reaproveitamento da água da chuva, na integração de soluções naturais aos sistemas urbanos.

A crise climática só reforça essa urgência. Cidades impermeáveis, mal drenadas, com redes antigas e subdimensionadas, tornam-se reféns de eventos extremos. A cada temporal, a conta chega, e geralmente com juros, atingindo primeiro quem já tem menos. A justiça ambiental e o planejamento urbano caminham juntos, ou não caminham.

A Importância do Saneamento

Quando o saneamento está presente, ele não se vê, mas se sente. No cheiro do ar, na saúde das crianças, na preservação dos rios, na tranquilidade de quem não teme a chuva. Por isso, o invisível precisa, cada vez mais, ser parte do visível nas decisões políticas, nos orçamentos municipais, nos projetos urbanos. Porque uma cidade bem planejada começa pelo que está embaixo.