Que tenho grande admiração por quem faz acontecer não é novidade nenhuma. De fato, num país de muita iniciativa e pouca “acabativa” – como diria o saudoso Magri -, é preciso enaltecer a capacidade de liderança de quem leva a efeito os seus projetos, cria uma empresa a partir do absoluto zero, conduz os esforços de muitos para o bem comum.
A primeira coisa a se pensar sobre liderança é aquilo que a move. Neste sentido, vejo que a liderança começa pela insatisfação positiva, quer dizer, aquela que quer mais e melhor. Sempre pensei que um bom livro, uma boa aula, um bom filme é aquele que te deixa insatisfeito, querendo mais. O mesmo ocorre com uma categoria de pessoas, as quais possuem uma força incoercível, que movimenta a vida, as outras pessoas, as empresas, a nação, a própria história. E não se confunde nunca com sua face negativa, a qual traduz mero resmungo, reclamação, chateação.
Contudo, cuidado! Ao contrário do que pode parecer, liderança não é um dom, não é algo que nasce pronto. É algo que se aprende, desenvolve, pratica, aperfeiçoa. É fruto do mérito, do esforço, mas não apenas disso.
Para além de simples técnica, a liderança também tem um componente que é próprio da arte: a sensibilidade. Sensibilidade para ultrapassar o óbvio; para ir mais longe daquilo que parece evidente; para negar o que aos olhos incautos pode parecer claro demais; para saber que liderar não é um privilégio, antes uma responsabilidade; para compreender a virtude de que liderar é servir, é ser instrumento de desenvolvimento das pessoas envolvidas e cuidar delas durante o processo de construção dos resultados (que não são e não podem ser tudo).
Atenção com os modelos de liderança. Não confunda liderança com chefia. Evidentemente, há líderes que não são chefes e chefes que não lideram ninguém. Pois a um chefe, você obedece; a um líder, você segue, procura, admira. A chefia está, pelo tanto, na hierarquia, enquanto a liderança está na atitude. Nessa hora, também se diga que um bom líder é aquele que corrige sem ofender e orienta sem humilhar. É capaz disso, porque o poder de um líder repousa na sua autoridade, o que não se confunde com o cargo que ocupa; autoridade que emana de seu exemplo, de suas ideias, da forma como inspira e conduz as pessoas à sua volta. E este poder serve para elevar a equipe, servir aos liderados, e não deles se servir. Em última análise, porque a tarefa do poder é servir a uma comunidade, uma causa, uma organização. Por isso é que todo poder que se serve, deixando de servir, simplesmente, não serve.