Opinião

Recortes da Cidade: o fator Fux

Recortes da Cidade: o fator Fux

Como em tudo na vida, deve haver uma lição bem importante neste episódio de agendamento/cancelamento da visita do Ministro Luís Fux, a Bento Gonçalves.

Estamos falando do presidente de um dos três poderes do país. O STF, afinal, é a instância maior do judiciário e a posição de Fux se equipara à do Presidente do Executivo/República e do presidente do Congresso/Legislativo.

Entender e gênese do ocorrido é bem importante. Houve uma pré-agenda para a vinda do Ministro a Bento Gonçalves em 03 de junho. Não está claro de quem partiu a iniciativa da vinda, se de Brasília ou daqui. Tão logo o jantar palestra se tornou conhecido, reação de empresários e associados ao CIC que pressionaram patrocinadores. Nas redes sociais pelo menos o Sicredi e a Saif se pronunciaram dizendo não terem poder para determinar a agenda. A sensibilidade da instituição que representa o empresariado determinou uma manobra: o evento passaria a ser da subseção da OAB e o local passaria a ser num hotel do Vale dos Vinhedos.

Agora a reação contrária, mais uma vez nas redes sociais, foi de advogados. A única explicação para as reações é a posição de confrontação entre Fux e o presidente Bolsonaro na questão da urna eletrônica.

O caso ganhou repercussão nacional e na manhã desta quarta o gabinete do Ministro acabou tomando a iniciativa de cancelar a visita. Como bom entendedor, Fux entendeu o recado de que não seria bem-vindo. Quem de nós em são consciência se convidaria numa casa em que sabe não ser bem-vindo?

O episódio vai fazer Fux mudar sua postura à frente da magistratura? Lógico que não. Ministros do STF não precisam de voto. São indicados e se há viés ideológico em suas decisões é porque estas são frutos de sua vivência/conhecimento.

Por outro lado, se nos últimos anos os Ministros resolveram se expor em votos longos diante das câmeras da TV do próprio STF ou em entrevistas com alfinetadas, devem saber que haverá reação, a começar pela classe política e com reverberação em extratos da população.

O desrespeito a um poder constituído é notório. Não se sabe de quem partiu mas respingou na entidade empresarial que sempre se manifestou formalmente como apolítica. Certamente não se imaginava que a repercussão diante de um dos três chefes dos poderes seria confundida com política partidária. 

Enfim, este é o país em que vivemos hoje o episódio, me parece, diz mais sobre a cidade e o país em que vivemos do que sobre o Ministro em questão. Como já se disse, deverá deixar lições. Infelizmente, nem todo mundo que deveria vai aprender.